Na semana passada muitos acompanharam de perto a
votação no Senado Federal da indicação de José Antônio Dias Toffoli para uma
vaga no Supremo Tribunal Federal. Penso que o interesse despertado nas pessoas
é extremamente saudável numa democracia, como o são também as manifestações
favoráveis e contrárias à sua nomeação para o cargo. Trata-se de uma das
funções mais importantes do Poder Judiciária de nosso País, de modo que é bom
ver que a sociedade se interessa por isso. Por certo que o resultado não
agradou a todos, o que também é absolutamente natural. Porém, a partir desse
fato, agora consumado e irreversível segundo as regras traçadas na nossa
Constituição Federal, penso que deveríamos meditar um pouco sobre como olhamos
para nossas autoridades.
É certo que a forma com que a sociedade enxerga as
suas autoridades depende muito diretamente dos bons ou maus exemplos que elas
dão no exercício dos cargos. E também nisso influi diretamente a capacidade que
têm as instituições de punir as más autoridades, que agem na busca do proveito
pessoal e não do bem comum. Aliás, pior que a corrupção no Senado é a
impunidade dos corruptos.
Mas se por um lado é certo que não faltam exemplos de
um pervertido exercício da autoridade e da falta de punição, por outro, não
menos certo é que há um descrédito excessivo e generalizado nas pessoas que as
levam a simplesmente desrespeitar toda e qualquer autoridade.
O nosso ceticismo e os nossos comentários azedos e
carregados de tom negativo, embora pareçam irrelevantes em sem conseqüências, acabam
por exercer uma influência extremamente negativa nos jovens e nas crianças, que
desde cedo aprendem a ter um olhar desconfiado e descrente das autoridades.
E esse fenômeno não fica limitado aos políticos e
ocupantes de cargos públicos, mas atinge o conceito de autoridade em si. Com
isso não se consegue que se respeitem os pais, os professores, os diretores de
escolas etc. É que se nossas crianças são acostumadas desde muito cedo a ouvir
comentários de desdém ou frases do tipo “todo mundo é safado” quando o assunto
em questão é essa ou aquela autoridade, o resultado é que elas passem a
associar o conceito de autoridade com corrupção, malandragem, ou, quando menos,
de algo pouco digno.
A existência de autoridade é tão antiga como a
própria sociedade. E não há sociedade sem que nela haja autoridades, que tanto
mais legítimas serão quanto melhor servirem a quem governam. Por isso é urgente
que se trabalhe para resgatar o respeito a elas devido. Que pai e mãe sejam
reconhecidos como autoridades na família, e que o sejam de fato. Que o
professor seja estimado e reconhecido pelos alunos, e que também o faça por
merecer. Em suma, que quem exerce a autoridade seja de verdade respeitado não
apenas pela dignidade da função, mas pela abnegação com que a desempenham.
Há quem diga que cada povo tem os governantes que
merecem. Sendo assim, penso que deveríamos quebrar essa espécie de círculo
vicioso que se instaurou entre nós: maus exemplos de algumas autoridades que
ensejam um descrédito generalizado das pessoas em relação às instituições, que
por sua vez não possuem força para banir as más autoridades.
Podemos começar dando um voto de confiança aos recém
empossados. Mas mais que isso, devemos ter olhos mais otimistas, sem deixar de
ser realistas, para ver que em muitos recantos desse País há pessoas de bem,
que sabem doar suas vidas pelas funções que exercem. Autoridades que aprenderam
que a maior dignidade consiste em servir. Fazer com que nossos jovens e
crianças vejam e estimem essas autoridades legítimas talvez seja um dos
melhores legados que podemos deixar ao nosso País, pelo bem dos nossos filhos.
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