segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Respeito à autoridade

Na semana passada muitos acompanharam de perto a votação no Senado Federal da indicação de José Antônio Dias Toffoli para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Penso que o interesse despertado nas pessoas é extremamente saudável numa democracia, como o são também as manifestações favoráveis e contrárias à sua nomeação para o cargo. Trata-se de uma das funções mais importantes do Poder Judiciária de nosso País, de modo que é bom ver que a sociedade se interessa por isso. Por certo que o resultado não agradou a todos, o que também é absolutamente natural. Porém, a partir desse fato, agora consumado e irreversível segundo as regras traçadas na nossa Constituição Federal, penso que deveríamos meditar um pouco sobre como olhamos para nossas autoridades.
É certo que a forma com que a sociedade enxerga as suas autoridades depende muito diretamente dos bons ou maus exemplos que elas dão no exercício dos cargos. E também nisso influi diretamente a capacidade que têm as instituições de punir as más autoridades, que agem na busca do proveito pessoal e não do bem comum. Aliás, pior que a corrupção no Senado é a impunidade dos corruptos.
Mas se por um lado é certo que não faltam exemplos de um pervertido exercício da autoridade e da falta de punição, por outro, não menos certo é que há um descrédito excessivo e generalizado nas pessoas que as levam a simplesmente desrespeitar toda e qualquer autoridade.
O nosso ceticismo e os nossos comentários azedos e carregados de tom negativo, embora pareçam irrelevantes em sem conseqüências, acabam por exercer uma influência extremamente negativa nos jovens e nas crianças, que desde cedo aprendem a ter um olhar desconfiado e descrente das autoridades.
E esse fenômeno não fica limitado aos políticos e ocupantes de cargos públicos, mas atinge o conceito de autoridade em si. Com isso não se consegue que se respeitem os pais, os professores, os diretores de escolas etc. É que se nossas crianças são acostumadas desde muito cedo a ouvir comentários de desdém ou frases do tipo “todo mundo é safado” quando o assunto em questão é essa ou aquela autoridade, o resultado é que elas passem a associar o conceito de autoridade com corrupção, malandragem, ou, quando menos, de algo pouco digno.
A existência de autoridade é tão antiga como a própria sociedade. E não há sociedade sem que nela haja autoridades, que tanto mais legítimas serão quanto melhor servirem a quem governam. Por isso é urgente que se trabalhe para resgatar o respeito a elas devido. Que pai e mãe sejam reconhecidos como autoridades na família, e que o sejam de fato. Que o professor seja estimado e reconhecido pelos alunos, e que também o faça por merecer. Em suma, que quem exerce a autoridade seja de verdade respeitado não apenas pela dignidade da função, mas pela abnegação com que a desempenham.
Há quem diga que cada povo tem os governantes que merecem. Sendo assim, penso que deveríamos quebrar essa espécie de círculo vicioso que se instaurou entre nós: maus exemplos de algumas autoridades que ensejam um descrédito generalizado das pessoas em relação às instituições, que por sua vez não possuem força para banir as más autoridades.

Podemos começar dando um voto de confiança aos recém empossados. Mas mais que isso, devemos ter olhos mais otimistas, sem deixar de ser realistas, para ver que em muitos recantos desse País há pessoas de bem, que sabem doar suas vidas pelas funções que exercem. Autoridades que aprenderam que a maior dignidade consiste em servir. Fazer com que nossos jovens e crianças vejam e estimem essas autoridades legítimas talvez seja um dos melhores legados que podemos deixar ao nosso País, pelo bem dos nossos filhos.

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