Hoje se celebra o dia do Patrimônio Histórico e, no
próximo 22 de agosto, comemoramos o folclore. Ainda que com conotações
diferentes, ambos possuem notáveis pontos comuns, na medida em que buscam
preservar dados da cultura e do modo de viver de um povo para as futuras
gerações. Poucos ousariam sustentar que não é importante cultivar os costumes
e tradições
populares transmitidos de geração em geração (folclore) ou mesmo preservar os
bens que possuam valor significativo
para uma sociedade, no caso o patrimônio histórico. Mas para que de fato
estejamos convencidos há de se buscar razões suficientemente fortes para isso.
Certa vez
num desses seriados de TV, uma mulher se empenhou com todas as suas energias em
evitar que fosse demolida uma casa antiga que havia em seu bairro. Após muito
insistir sem que lhe dessem ouvidos, tomou um megafone e passou a discursar diante do imóvel a uma pequena
platéia que, na verdada não procurava por ela mas por um grupo de Rock que apresentaria logo após. E então
ela começou a elencar uma série de argumentos. E todos eles começavam com a mesma
frase: “essa casa é muito importante para mim porque...”. Isso ilustra uma
postura egoísta e não raras vezes interesseira que muitas vezes se esconde por
detrás de ideais mais nobres. Com efeito, expunha essa personagem do filme que
a preservação era importante para ela. Antes disso, porém, há de se perguntar
se a iniciativa é relevante para a comunidade como um todo, e não se
simplesmente lhe proporcionaria uma satisfação pessoal.
E quando a
preservação histórica é objetivamente relevante? Penso que quando está a
serviço da promoção da dignidade humana. As formas de vida, os custumes, a
comida, a cultura, enfim, o modo de ser das pessoas que nos antecederam apontam
para aspectos que foram específicos de uma determinada época. E é interessante
que conheçamos isso, pois então poderemos, ao confrontar com o nosso modo de
vida atual, apontar os aspectos positivos e negativos do progresso. Por
exemplo, comparando nosso modelo de sociedade atual com o de algumas décadas
atrás, poderemos constatar que muito se evoluiu na rapidez da comunicação,
porém, que muito se perdeu no convívio familiar. Portanto, há de se fomentar
uma visão crítica do desenvolvimento, que nos permitirá avaliar o que houve de
bom nisso, para então aprimorar, e o que se produziu de prejudicial ao homem,
para então retificar.
Mas nesse
debruçar sobre o modo de vida dos antepassados, assim como sobre a cultura, se
soubermos olhar em profundidade, também notaremos que há algo de universal e
imutável nos seres humanos de todos os tempos e locais. Notaremos, por exemplo,
em todos um anseio de vida e felicidade, ainda que diversos tenham sido os
caminhos concretos pelos quais buscaram concretizar esses anseios. E aqui
encontraremos, então, o mais importante patrimônio histórico: o próprio homem,
em sua integralidade.
Essa visão
do homem e da história se mostra tanto mais importante de ser salientada num
mundo em que, como adverte o Papa Bento XVI, ganha força o fenômeno do nivelamento cultural, que ele define
como uma “homogeneização dos comportamentos e
estilos de vida”, no qual se perde “o significado profundo da cultura das
diversas nações, das tradições dos vários povos, no âmbito das quais a pessoa
se confronta com as questões fundamentais da existência” (Carta Encíclica CARITAS IN VERITATE). De fato, a nossa
juventude é massacrada por uma forma de vestir que se traduz no jeans bem abaixo do umbigo, numa
linguagem eletrônica bem definida sem a qual ninguém lhe dá ouvidos e numa
“necessidade vital” de um aparelho celular, sem o que se estará condenado a ser
um excluído.
A preservação das tradições folclóricas e do
patrimônio histórico, nesse contexto, revela-se como algo essencial. É que com
isso se formarão organismos vivos que apontam para diferentes formas de vida,
de cultura, de gostos das gerações passadas, e serão então um convite a uma
saudável rebeldia contra a imposição massificadora da cultura atual. Mas há de
se traduzir também em algo que aponta para uma essência universal e imutável no
ser humano: a sua condição de filho de Deus e, como tal, dotado de uma infinita
e incondicional dignidade.
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