segunda-feira, 22 de junho de 2009

Formar na honestidade

Certa vez eu fazia um passeio de bicicleta com um de meus filhos. Após um longo percurso, chegamos a uma pequena estância turística. Logo na entrada havia uma ponte de madeira sustentada por cabos de aço sobre o rio que atravessa a cidade. A travessia da ponte era muito convidativa, pois representaria uma aventura a mais. Ao nos aproximarmos, porém, deparamos com um aviso em madeira já desgastada e com letras pouco visíveis: PROIBIDO ATRAVESSAR DE BICICLETA.
Sem esconder a decepção, estacionamos as bicicletas e iniciamos a travessia a pé. Porém, notamos que os moradores do local ignoravam o anúncio e quase nos atropelavam ao atravessar com suas bicicletas velhas. Diante disso, meu filho me disse: “acho que essa regra não vale mais, pois todo mundo a descumpre”. Uma situação pitoresca como essa nos remete para uma indagação fundamental para os pais e educadores: como educar nossos filhos e alunos na honestidade diante de tantos maus exemplos?
Penso que somente é possível formar pessoas íntegras e honestas se, antes disso, estivermos absolutamente convencidos de que vale a pena. Mais que isso, que o vale em toda e qualquer circunstância.
E para educarmos os filhos e alunos nessa virtude, é imprescindível que nós mesmos lutemos por adquiri-la. É que ninguém dá o que não tem. Logo, é impossível formar alguém se nós próprios não praticamos isso em nossas vidas.
Nesse propósito, é preciso estar atento para o que poderíamos chamar de um medíocre conceito de honestidade. É que quando nos examinamos sobre esse assunto, é intuitivo pensarmos em algo do tipo: “não roubo, não cometo falcatruas e costumo pagar pontualmente as minhas contas, logo sou uma pessoa suficientemente honesta”. No entanto, podemos ser mais exigentes conosco mesmos. Por exemplo: não haverá muitas perdas de tempo inúteis durante o horário de trabalho que o fazem render menos? Não seria isso uma desonestidade com a instituição para a qual trabalho? Será que me esforço por ser pontual no horário de chegar a casa, para então honrar o compromisso grave que tenho de me dedicar à esposa (ou ao marido) e aos filhos?
E além de nos esforçarmos constantemente por adquirir a virtude, também é necessário dar bons exemplos. Não se trata de dissimular diante dos filhos (ou alunos) para que então aprendam com nosso fingido modelo de pai, de mãe ou de professor. Isso seria uma hipocrisia que, além de fazer um grande mal, seria notado por eles, com graves conseqüências à formação de suas personalidades. Mas é necessário estar de “antena ligada” para aproveitar as oportunidades educativas que surgem.
Além do bom exemplo, é necessário que os façamos pensar. Não basta que estejamos convencidos de que vale a pena ser honesto. É necessário que eles, pensando por conta própria, ainda que com nossa ajuda, adquiram uma firme convicção. Um filho adolescente, após ler uma notícia no jornal, perguntou ao pai o que ele faria se encontrasse por acaso uma grande quantia de dinheiro. O pai devolveu a pergunta: “o que você faria?”. Diante da resposta ainda um pouco vacilante do filho, o pai foi aprofundando na questão: “e se o dinheiro era tudo o que um pai possuía para ajudar um filho em dificuldade e com uma grave doença? E se fosse você que houvesse perdido?”.

Certo dia, meu filho de 13 anos me relatou um fato que lhe ocorreu que bem pode ficar como conclusão. Ao receber uma prova, notou que o professor errou na soma das notas das questões, de modo que a nota real seria oito e meio, e não nove e meio, como foi lançada. Levantou-se, foi até o professor e lhe disse discretamente: “Professor, o senhor errou na nota e me deu um ponto a mais”. Imediatamente o professor lhe respondeu, com palavras que fazia questão de que fossem ouvidas por toda a classe: “Pode ficar com seu nove e meio. Para mim a honestidade vale muito mais que um ponto na nota”.

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