O Correio Popular, na edição do dia 19 de maio
passado, trouxe a alarmante notícia de que, a cada dois dias, uma criança é
diagnosticada vítima de violência sexual em Campinas. Na mesma
matéria se informam as iniciativas que estão sendo tomadas pelas autoridades. Penso que a atuação policial e as
medidas legislativas, mencionadas na reportagem, são importantes para a solução
desse problema tão grave. Porém, serão elas suficientes para erradicar esse
câncer que cada vez mais flagela nossas crianças e adolescentes, deixando neles
danos e traumas muito difíceis de serem superados?
Acredito que a questão não será resolvida enquanto
não se resgatar em nossa sociedade a importância do amor conjugal e, como parte
inseparável dele, o verdadeiro sentido da relação sexual.
Um amigo me contou um incidente que lhe ocorrera
quando do nascimento de sua filha. Nos primeiros dias, o filho mais velho
permanecia junto à mãe, observando como ela cuidava da irmãzinha recém-nascida.
Após o primeiro banho, o garoto disse à mãe com ar de quem havia feito uma
grande descoberta: “Mãe, ela é muito pequenininha!”. A mãe respondeu: “Sim,
filho, é por isso que ainda não tem cabelo e nem dentes.” E o menino completou:
“Olhe, mãe! Ela também ainda não
tem pipi!..”. A mãe soltou uma risada muito divertida e terna, enquanto deu um
grande abraço no menino.
Como são puras e sinceras as crianças! Por esse
motivo temos receio em falar-lhes sobre relação sexual, talvez pensando que
quando tirarmos a cegonha da história lhes mataremos a inocência. Na verdade
não é assim. O pai com os filhos e a mãe com as filhas devem expor-lhes sobre o
assunto antes que saibam de forma distorcida por coleguinhas ou estranhos.
Evidentemente, há de se escolher a idade certa e o
momento oportuno, mas não é necessário ficar com muitos rodeios. A melhor
receita é sermos simples, como as crianças o são.
Soube de outro caso pitoresco. O garoto estava escrevendo
algo num livro de histórias em quadrinhos e, num momento, interrompeu a leitura
e perguntou ao pai: “Pai, o que é sexo?”. O pai olhou para a mãe e pensaram
juntos: “Está na hora de explicar-lhe sobre as cegonhas”. Saiu com o filho e,
depois de muitas voltas, explicou-lhe sobre as relações sexuais. O garoto ouviu
tudo interessadamente. Quando o pai concluiu as explicações, ele disse-lhe:
“Tudo bem pai, entendi. Mas tudo isso que você falou não cabe nesse quadrinho
da ficha que estou preenchendo para concorrer a um brinquedo”. “Ah!, sim” –
disse o pai desapontado – “nesse quadrinho você coloca a letra M, de
masculino”.
Um dos exemplos mais fantásticos que soube sobre esse
assunto se dera com uma mãe que foi interpelada “à queima-roupa” pela filha de
dez anos logo ao chegar à casa do colégio: “Mãe, é certo fazer sexo sem se
casar?”. A mãe, que preparava o jantar, desligou as panelas, pediu
delicadamente que os irmãos a deixassem a sós com essa filha e, em seguida,
sentou-se com ela e disse-lhe olhando nos olhos: “Filha, não vou lhe dizer se é
certo ou errado. Essa resposta é você que deverá encontrar por si mesma no
momento certo. Mas vou dizer-lhe o que eu penso. Acredito que o casamento é uma
vocação, é um chamado que recebemos de Deus para viver nessa condição. E as
pessoas que têm essa vocação são como que um imenso tesouro, que estão ainda embrulhados,
numa linda embalagem. Quando encontram a pessoa que merece receber esse
presente, então ela se dá a si mesma como presente. Eu encontrei o seu pai e
dei a mim mesma a ele. E ele fez o mesmo por mim. E por isso somos muito
felizes, porque nos amamos. E você é fruto desse amor. Agora eu lhe pergunto:
está certo abrir o presente para usá-lo antes de o entregar àquele a quem
queremos presentear? E quando se dá um presente, é certo pedi-lo de volta? E
aquele que recebe um presente que custou muito esforço, carinho e dedicação a
quem o deu, está certo desprezar e devolver esse presente?”
A criança ficou pensativa, mas feliz e deu um grande
abraço na mãe enquanto lhe disse: “Isso quer dizer que você vai ficar com o
papai para sempre?”. “Sim, meu amor, para sempre”, respondeu a mãe sem se
preocupar que ela notasse as lágrimas que vertiam de seus olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário