Há poucos dias, numa dessas listas de discussão que
se faz pela internet, ocorreu um incidente que, ao menos inicialmente, pareceu
por demais desagradável. Um dos integrantes da lista, sensibilizado com uma dada
tragédia, da qual fora vítima um membro do grupo, enviou a todos um pedido de
ajuda aos demais integrantes. Houve repostas positivas e muitos se
solidarizaram e se dispuseram a ajudar. Um deles, porém, num momento de
irritação, quiçá aborrecido pela insuportável quantidade de mensagens que
entupia sua caixa postal
eletrônica, deu uma reposta grosseira e um tanto quanto irônica. Isso gerou
polêmica e muita confusão. Tive a sorte de ficar dois dias sem acessar a caixa
de mensagens de modo que, quando o fiz, estava ela repleta. Mas tive o
privilégio de observar o fato quando já estava consumado.
Estou certo de que muitas pessoas passam por
situações semelhantes e já presenciaram como e-mails agressivos ou difamadores se espalham a um imenso número de
pessoas e, tal como fogo ateado no álcool, geram rapidamente estragos enormes.
Penso que essa constatação nos remete para uma indagação: estamos interiormente
preparados para viver num mundo em que a informação se transmite numa
velocidade e com uma facilidade fascinantes?
Há alguns séculos se uma pessoa pensasse em dizer
algo a outra que a ferisse teria de se deslocar para falar pessoalmente, mandar
um mensageiro ou enviar uma carta. Para isso seria necessário escrever, selar a
correspondência e levá-la ao correio. Quem a recebesse, não pensaria em fazer
várias cópias manuscritas para, depois, também selar e postar para outros... E
se se dispusesse a fazê-lo, isso demandaria tempo e esforço, de tal sorte que
muitos desanimariam no caminho. É que a raiva costuma passar e então o mais
fácil é relevar a ofensa...
Hoje, ao contrário, tudo é instantâneo. Alguém recebe
uma mensagem eletrônica que não lhe agrada e, em menos de um minuto, pode “dar
o troco” com muito veneno e irritação. Além disso, pode encaminhar a mensagem
para um grande número de pessoas, que, por sua vez, irá tomar partido de
alguém, ou difundir ainda mais a discórdia.
E não é apenas a intriga que pode se propagar
rapidamente, mas também outras coisas ruins, como a pornografia. Isso sem
contar o insuportável lixo eletrônico. Alguém já se dispôs a contar quanto
tempo se perde apenas apagando as mensagens que não serão lidas?
Apesar desses inconvenientes, a velocidade da
informação não é algo em si ruim. Há muitas coisas boas que somente se
conseguem por meio dela. Um dia desses, enquanto conversava com um amigo, ele
parou a conversa para enviar uma mensagem ao celular da filha, pois sabia que
em cinco minutos ela faria uma prova que a preocupava muito, querendo com isso
acalmá-la e deixá-la mais segura. Conheço também um casal que, apesar de terem
contraído o matrimônio há quase duas décadas, é raro o dia em que não trocam um
e-mail ou uma mensagem pelo celular
apenas para dizer: “eu te amo!”.
Felizmente, a história que relatei no início teve um
final feliz. Aquele que deu a resposta indelicada prontamente se desculpou,
enviando a mensagem a todos. Com isso, mostrou uma grandeza de alma,
reconhecendo o erro. Assim, ambos ganharam a estima de todos: o que tomou a
iniciativa de pedir ajuda pela sua generosidade e altruísmo, e o outro pelo
nobre gesto de pedir perdão. E todos que participaram do entrevero saíram
fortalecidos pelos dois bons exemplos.
Deixando de lado os saudosismos baratos, afinal, o
mundo não voltará para a era das cartas e dos pombos-correio, a velocidade da
informação é um fato inquestionável. Ela em si não é boa nem ruim, mas depende
do que se transmite nesse ritmo frenético. Devemos, pois, ser responsáveis e
empenhados em transmitir coisas boas, que façam mais agradável a vida dos
demais. Afinal, más notícias, intrigas e
fofocas existem desde os tempos da carochinha.
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