Durante o carnaval, o Presidente da República se
empenhou pessoalmente em distribuir preservativos no sambódromo do Rio de
Janeiro. Esse gesto não é algo improvisado. Ao contrário, é muito coerente com
uma campanha do que se convencionou chamar sexo seguro. Com ela se prega que as
pessoas tenham relações sexuais livremente, com os parceiros que desejarem,
quando e como quiserem, conquanto que tomem a cautela de se protegerem das
doenças sexualmente transmissíveis, especialmente da AIDS. Trata-se o ato
sexual como mero instrumento de prazer, ou, menos ainda, como uma necessidade
fisiológica.
Mas será que o sexo é apenas isso? Encontrar um
parceiro (ou uma parceira) com quem se relacionar numa noitada de carnaval é uma
mera necessidade fisiológica, semelhante a que temos de nos alimentar? Nessa
linha, estaria o nosso Presidente, ao distribuir preservativos no carnaval, simplesmente
aprimorando o programa fome zero?
É inegável que o ato sexual proporciona um prazer
enorme e, de certa forma indescritível. Porém, será esse prazer um fim em si
mesmo, ou será ele como que um meio para algo mais sublime?
Tenho um amigo, casado há vários anos com a mesma
esposa, que certa vez me fez um relato fantástico, que muito pode nos ajudar a
descobrir o verdadeiro sentido do relacionamento sexual. Diz ele:
“Essas pessoas que se lançam aventuras passageiras, a
cada hora com uma pessoa diferente, no fundo ainda não aprenderam nada sobre o
verdadeiro amor. Eu estou casado com minha esposa há mais de vinte anos e,
nesse tempo, nosso relacionamento sexual ficou cada vez mais gostoso. De fato,
com o passar dos anos, vêm os filhos, o cansaço do trabalho e do dia-a-dia, de
modo que fica um pouco mais difícil conquistá-la. O apetite sexual dela
diminui. Mas eu me considero um conquistador e não me dou por vencido. Porém,
uso esse talento sempre com a mesma mulher.
“Quando queremos ter relação, eu ou ela fazemos uma
insinuação com certa antecedência, muitas vezes por uma mensagem de celular que
somente nós entendemos. Ela tem uma camisola um tanto provocante que reserva
para esses dias e só a veste diante de mim. Eu, da minha parte, faço a barba à
noite, pois sei que ela gosta disso. Também costumamos conversar com
freqüência, sem vergonha, sobre o nosso relacionamento sexual. Falamos do que
agrada e do que atrapalha. Com isso, conseguimos que, após esses anos todos,
nossas relações sejam muito mais prazerosas do que foram na lua-de-mel.
“E o que é melhor de tudo isso: quando terminamos o
ato, não fica aquela sensação horrível de estar com um estranho, com um objeto
que usamos para uma satisfação egoísta. Ficamos deliciosamente abraçados por
muito tempo. Afinal, dormimos juntos todas as noites. Não fica na boca um gosto
amargo de desconfiança, de traição, de abuso. Ao contrário, fica o sabor
delicioso de se doar uma vez mais a quem amamos. Após cada ato sexual parece
que uma vez mais confirmamos aquilo que um dia nos prometemos: NA ALEGRIA E NA
TRISTEZA... AMANDO-TE E RESPEITANDO-TE POR TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA.
“E o prazer então? Duvido que esses que ficam pulando
de galho em galho conseguem sentir mais prazer que eu sinto sempre com a mesma
mulher. Aliás, esses loucos, para assegurarem um pouquinho de um prazer doente,
têm de usar preservativo. Eu, como estou certo da minha fidelidade e da minha
esposa, não preciso ‘chupar a bala com casca’. Que coisa mais sem sabor! Se as
pessoas soubessem como é bom guardar o coração bem guardado, com muito carinho,
apenas para uma pessoa, por certo descobririam a maravilha do prazer do relacionamento
sem ter de experimentar o desprazer do Day after”.
Que pena que esse meu amigo não estava no sambódromo
para dizer isso ao Presidente! Eu adoraria vê-lo repetindo um trocadilho que
aprendeu há muitos anos: fidelidade, felicidade, felicidade, fidelidade. É que
ele está convencido de que a felicidade depende muito diretamente da fidelidade
que guardamos aos compromissos que assumimos e às convicções que adquirimos em
nossas vidas.
Acredito que esse meu amigo tem razão. Isso sim é
verdadeiramente sexo seguro. E, de sobra, muito mais prazeroso.
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