Nestes dias em que os universitários retornam às
salas de aula, é muito freqüente ganhar espaço na mídia as notícias de
lamentáveis excessos que se comentem nos trotes acadêmicos. Muitos desses
assumem a forma de verdadeira barbárie, em inaceitável ofensa à honra, à
intimidade e à própria dignidade que há de se reconhecer a qualquer ser humano.
Mas por quê? Qual seria a causa de tão grande desvirtuamento daquilo que
poderia ser uma saudável acolhida aos novos colegas?
O problema da violência entre os jovens e
adolescentes está cada vez mais preocupante. E isso não se reflete apenas nos
trotes que se praticam nas universidades, mas em diversos outros aspectos, como
podemos notar em nossa convivência diária e também através dos meios de comunicação.
Mas qual será a explicação disso?
A resposta a essa problemática da violência entre os
jovens é complexa, de modo que não pretendo esgotar o assunto. Porém, há um
aspecto que deve merecer nossa especial atenção: a acolhida que cada indivíduo
encontra em seu ambiente familiar.
É triste, mas não raras vezes quando surge a questão
de se ter um novo filho, é muitíssimo freqüente ouvirmos de muitas mulheres
algo do tipo: “Deus que me livre! Não dou conta nem do que tenho, que dirá de mais
um ...”. E frases como essas são pronunciadas sem qualquer cautela na frente do
filho ou filha desde os seus primeiros anos. Ora, uma criança que ouve isso com
freqüência deve pensar algo do tipo: “eu sou do mal. E como sou assim minha mãe
não quer cometer outro erro...”.
Não se trata de fazer apologia à procriação e às
famílias numerosas, ainda que devo reconhecer que nelas há um ambiente mais
propício para formar os filhos com senso de liberdade e responsabilidade. É
inquestionável que o planejamento familiar é decisão livre do casal e nisso não
pode sofrer ingerência de ninguém, muito menos do Estado. Mas o que se há de
estar atento é para o ambiente de acolhida que se vive nas famílias em relação
aos filhos que, poucos ou muitos, vierem a fazer parte dela. E isso, em grande
medida, fará que esses seres sejam também acolhedores e solidários, ou, ao
contrário, futuros torturadores, que vêem como inimigos quaisquer pessoas que
de uma forma ou de outra ameaçam entrar em seus quartos, em suas vidas ou em
suas universidades.
Mas a acolhida que se há de viver na família não se
limita àquela postura de se preparar para receber bem um novo filho. É
importantíssimo que o filho se sinta bem-vindo desde o ventre materno. Mas
também é preciso que, no dia-a-dia, essa acolhida se torne cada vez mais terna.
Nesse sentido, como são as manhãs em nossas casas? Nossos filhos recebem um
afável “bom dia!” da mãe e do pai? Há um diálogo saudável no café da manhã, ou,
ao contrário, a casa é uma espécie de pensão em que por necessidade se pernoitam
antes de cada qual se lançar nos seus afazeres pessoais? Há o hábito de se
tomar ao menos uma refeição por dia juntos, esforçando-se por manter um
ambiente alegre nesses momentos?
Além da acolhida, também é urgente que os pais zelem
pelo bom ambiente familiar. As correrias do dia-a-dia não podem impedir que se
pare para olhar no olho de nosso filho pequeno que nos pede algo, a ouvi-lo com
atenção, a se interessar de verdade pelo que nos tem a dizer. E tanto mais há
que se investir no relacionamento entre os esposos, pois disso depende,
essencialmente, a harmonia no lar.
A família é um fantástico laboratório em que se
forjam os seres humanos. E o que se aprende ali, desde a mais tenra idade, irá
necessariamente refletir em seus valores e em suas ações na vida adulta. Assim,
ou começamos a formar muito bem nossos filhos com carinho, firmeza e senso de
responsabilidade ou, lamentavelmente, cada vez mais veremos a desumanização reinar
dos mais diversos segmentos de nossa sociedade.
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