Há pouco tive a oportunidade de participar, ainda que
não fisicamente presente, da comemoração das bodas de ouro de um adorável
casal: o Dr.
Alberto e a dona Selma Sugai. Ambos são filhos de imigrantes japoneses. Ele,
com muito esforço e dedicação é advogado, formado pela faculdade de Direito na
USP. Ela, uma mulher de fibra que se dedicou exclusivamente ao lar e à família.
Tiveram doze filhos, dos quais dez estudaram na USP. Após uma vida de muitas
dificuldades, agora vivem numa grande casa em São Paulo , onde podem receber
os filhos, noras, genro e os treze netos, que contribuem ainda mais para
rechear esse generoso casal de muita alegria.
Meu avô paterno certa vez me disse que são dos
pequenos gestos que se faz um grande homem. De fato, nossas vidas são feitas de
muitas pequenas coisas que, juntas, tornam-se grandes, tal como os grandes
edifícios são formados por milhares de pequenos tijolos. E é num pequeno, mas
ao mesmo tempo heróico gesto, que podemos conhecer um pouco melhor o casal
Sugai.
Comemorando os 50 anos de casados, fizeram uma viagem
ao Japão. Lá conheceram alguns pais que se lançaram na iniciativa de formar um
colégio onde se ensinariam aos filhos os mesmos valores que cultuam em suas
famílias, sem prejuízo da qualidade do ensino, que também deve merecer esmerada
atenção. E após ver as grandes conquistas daqueles pais, eles relataram ao Dr.
Alberto uma dificuldade: precisavam construir outra unidade onde funcionasse o
equivalente ao nosso ensino médio. Porém, não dispunham de recursos econômicos.
Mas o coração do Dr. Alberto é grande demais para se
curvar a isso, e, como sempre, com o incondicional apoio da dona Selma, pôs-se
a pensar em como ajudar aqueles pais empreendedores que acabara de conhecer. E
eis que lhe veio uma feliz idéia: o casal não receberia presentes na
comemoração das bodas de ouro, a se celebrar aqui no Brasil. Os presentes
seriam donativos a ser enviados, pasmemos, para uma escola existente num dos
países mais ricos do mundo!
De fato, caro vovô, é dos pequenos gestos que se
fazem um grande homem e uma grande mulher! O casal Sugai é um exemplo vivo
dessa verdade.
Quando soube dessa iniciativa, imediatamente veio-me
a lembrança de um ensinamento do Papa Bento XVI. Em sua Carta Encíclica ,
"Deus Caritas Est",
ocupando-se do tema do amor ao próximo, ensina o Pontífice: “Enquanto
o conceito de «próximo», até então, se referia essencialmente aos concidadãos e
aos estrangeiros que se tinham estabelecido na terra de Israel, ou seja, à
comunidade solidária de um país e de um povo, agora este limite é abolido.
Qualquer um que necessite de mim e eu possa ajudá-lo, é o meu próximo. O
conceito de próximo fica universalizado, sem deixar todavia de ser concreto.
Apesar da sua extensão a todos os homens, não se reduz à expressão de um amor
genérico e abstrato, em si mesmo pouco comprometedor, mas requer o meu empenho
prático aqui e agora”.
De fato, uma consideração mais mesquinha poderia
levar a pensar: “bem, mas há muitas instituições mais necessitadas de recursos
aqui no Brasil, que é um país bem mais pobre que o Japão”. Outros, com uma
generosidade mais “cômoda” até se aventuram a fazer doações através de uma
simples ligação telefônica às vítimas da enchente de Santa Catarina, mas não se
dignam a limpar o nariz sujo de uma criança, ou “perder” alguns minutos a dar
atenção a um ancião ou a um enfermo.
O casal Sugai, porém, nos mostra que o amor ao
próximo não tem fronteiras, mas deve se manifestar em atos bem concretos. Que
em 2009 o seu exemplo de uma caridade bem vivida brilhe para todos nós. Afinal,
é somente isso que pode dar sentido a essa nossa breve passagem por esta vida.
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