segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O adorável casal Sugai

Há pouco tive a oportunidade de participar, ainda que não fisicamente presente, da comemoração das bodas de ouro de um adorável casal: o Dr. Alberto e a dona Selma Sugai. Ambos são filhos de imigrantes japoneses. Ele, com muito esforço e dedicação é advogado, formado pela faculdade de Direito na USP. Ela, uma mulher de fibra que se dedicou exclusivamente ao lar e à família. Tiveram doze filhos, dos quais dez estudaram na USP. Após uma vida de muitas dificuldades, agora vivem numa grande casa em São Paulo, onde podem receber os filhos, noras, genro e os treze netos, que contribuem ainda mais para rechear esse generoso casal de muita alegria.
Meu avô paterno certa vez me disse que são dos pequenos gestos que se faz um grande homem. De fato, nossas vidas são feitas de muitas pequenas coisas que, juntas, tornam-se grandes, tal como os grandes edifícios são formados por milhares de pequenos tijolos. E é num pequeno, mas ao mesmo tempo heróico gesto, que podemos conhecer um pouco melhor o casal Sugai.
Comemorando os 50 anos de casados, fizeram uma viagem ao Japão. Lá conheceram alguns pais que se lançaram na iniciativa de formar um colégio onde se ensinariam aos filhos os mesmos valores que cultuam em suas famílias, sem prejuízo da qualidade do ensino, que também deve merecer esmerada atenção. E após ver as grandes conquistas daqueles pais, eles relataram ao Dr. Alberto uma dificuldade: precisavam construir outra unidade onde funcionasse o equivalente ao nosso ensino médio. Porém, não dispunham de recursos econômicos.
O Dr. Alberto sugeriu-lhes que fizessem uma espécie de campanha econômica, pedindo doações para esse empreendimento nobre. Porém, ao que parece, isso não é nada comum no Japão. É uma mentalidade muito difundida naquele povo que, se querem a expansão de qualquer empreendimento, ainda que esse seja nobre e possa trazer um benefício para a sociedade, “que trabalhem em ganhem dinheiro para isso” – pensam eles.
Mas o coração do Dr. Alberto é grande demais para se curvar a isso, e, como sempre, com o incondicional apoio da dona Selma, pôs-se a pensar em como ajudar aqueles pais empreendedores que acabara de conhecer. E eis que lhe veio uma feliz idéia: o casal não receberia presentes na comemoração das bodas de ouro, a se celebrar aqui no Brasil. Os presentes seriam donativos a ser enviados, pasmemos, para uma escola existente num dos países mais ricos do mundo!
De fato, caro vovô, é dos pequenos gestos que se fazem um grande homem e uma grande mulher! O casal Sugai é um exemplo vivo dessa verdade.
Quando soube dessa iniciativa, imediatamente veio-me a lembrança de um ensinamento do Papa Bento XVI. Em sua Carta Encíclica, "Deus Caritas Est", ocupando-se do tema do amor ao próximo, ensina o Pontífice: “Enquanto o conceito de «próximo», até então, se referia essencialmente aos concidadãos e aos estrangeiros que se tinham estabelecido na terra de Israel, ou seja, à comunidade solidária de um país e de um povo, agora este limite é abolido. Qualquer um que necessite de mim e eu possa ajudá-lo, é o meu próximo. O conceito de próximo fica universalizado, sem deixar todavia de ser concreto. Apesar da sua extensão a todos os homens, não se reduz à expressão de um amor genérico e abstrato, em si mesmo pouco comprometedor, mas requer o meu empenho prático aqui e agora”.
De fato, uma consideração mais mesquinha poderia levar a pensar: “bem, mas há muitas instituições mais necessitadas de recursos aqui no Brasil, que é um país bem mais pobre que o Japão”. Outros, com uma generosidade mais “cômoda” até se aventuram a fazer doações através de uma simples ligação telefônica às vítimas da enchente de Santa Catarina, mas não se dignam a limpar o nariz sujo de uma criança, ou “perder” alguns minutos a dar atenção a um ancião ou a um enfermo.

O casal Sugai, porém, nos mostra que o amor ao próximo não tem fronteiras, mas deve se manifestar em atos bem concretos. Que em 2009 o seu exemplo de uma caridade bem vivida brilhe para todos nós. Afinal, é somente isso que pode dar sentido a essa nossa breve passagem por esta vida.

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