A recente posse do novo Presidente dos Estados Unidos
da América, Barack Obama, foi marcada por um forte despertar da esperança
naquele povo e também em pessoas no mundo inteiro. Parece que o fator
preponderante nesse fenômeno não decorre exclusivamente da expectativa de uma eficiente
Administração, ou mesmo de acreditar que ele conseguirá, através de políticas
públicas bem implementadas, melhorar as condições de vida das pessoas menos
favorecidas. Mais que tudo isso, com o seu exemplo de vida e com uma invejável
oratória, Obama inspira as pessoas a
acreditarem no futuro.
De fato, mais que do alimento para o corpo, todo ser
humano necessita de esperança para viver. O Papa Bento XVI, em sua carta
encíclica SPE
SALVI afirma
que precisamos ter esperança, “uma esperança
fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente,
ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos
estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira
do caminho”.
Mas como podemos manter
viva essa esperança? Mais ainda, onde e em quem devemos depositar a nossa esperança?
Enfim, o que nos cabe fazer para manter acesa na alma essa chama?
Homens como Obama são
imprescindíveis para a humanidade, pois reacendem na alma de muitos algo que
lhes é vital. Porém, precisamos encontrar razões ainda mais profundas para a
nossa esperança. É que os presidentes vêm e vão. E, como homens que são, também
têm suas fraquezas e podem decepcionar os que acreditaram nele.
E não somente os
governantes, por mais carismáticos que sejam, podem causar decepções. Líderes
religiosos, personalidades importantes do esporte, da música, das artes, que a
tantos inspiram, podem, do dia para a noite, fraquejarem, fazendo que com se
derreta diante de nós aquela imagem que parecia sustentar nossas vidas. “Meus
heróis morreram de overdose”, canta melancolicamente o Cazuza. Assim, é bom que
tenhamos bons exemplos a que buscamos imitar. Afinal, são eles pessoas que nos
dizem que é possível vencer e que a luta vale a pena. No entanto, se a
esperança nos é tão radicalmente importante, devemos depositá-la em algo muito
mais firme, tão sólido que não possa ruir nem nos decepcionar jamais.
A esperança não pode morrer
jamais, pois sem ela não se pode viver. Mas não podemos confundir a esperança
com uma atitude passiva, típica do sujeito que não faz nada, que vive
aguardando cair do céu, ou das mãos do presidente, do chefe, do pai, da mãe
etc., a solução de seus problemas. A esperança implica responsabilidade. Aliás,
como grande líder que é, Obama ressalta em seu discurso de posse que “precisamos
de uma nova era de responsabilidade – o reconhecimento de que temos deveres
para conosco, com a nossa nação e o mundo”.
Temos verdadeiramente
deveres para conosco mesmos. A esperança exige compromisso e uma ação
responsável por alcançar aquilo que esperamos. Não é autêntica esperança aquela
que se traduz em simplesmente em aguardar dos outros aquilo que desejamos. Até
porque essa atitude torna insuportável o presente. Com efeito, é nela que
encontramos forças para enfrentar o presente com alegria e descontração na
medida em que nos traz a segurança de que atingiremos a meta a que nos
propomos.
Tomemos como exemplo,
quando planejamos algo agradável, uma viagem. Enquanto cuidamos dos detalhes,
passamos por dificuldades e dissabores. Mas esses são facilmente superados
quando consideramos as delícias do passeio. Tanto que depois que acontece,
fica-se com a sensação de que “o melhor da festa é esperar por ela”. De fato, a
meta a ser atingida nos anima a enfrentar com valentia os obstáculos do
presente.
Mas, como bem lembra Obama,
não podemos esperar algo de bom apenas para nós mesmos, afinal, temos também a
nossa responsabilidade com “a nossa nação e com o mundo”, vale dizer, somos
também responsáveis pela felicidade das pessoas que nos rodeiam. E nesse
sentido, o Papa, na mesma carta encíclica, nos transmite também esse magnífico
ensinamento: “Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais
inútil. Assim se esclarece melhor um elemento importante do conceito cristão de
esperança. A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os
outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim”.