segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ano novo, luta nova!

Na semana passada tive a grata satisfação de visitar a sede da associação Esperança e Vida. Como se sabe, trata-se de uma instituição que, inspirada pelos valores cristãos, tem por missão acolher, recuperar e proporcionar um estilo de vida saudável às pessoas com HIV/Aids e dependentes químicos de drogas e álcool. Enquanto o trabalho ali desenvolvido me era apresentado, o Robertinho, presidente da entidade, perguntou a um de seus filhos o que significou para ele a assistência que recebeu, ao que ele respondeu sem hesitar: “é um retorno para a verdadeira vida”.
Como é bom, como é reconfortante contemplar a felicidade estampada na face das pessoas que trilharam caminhos ruins, mas que resolveram mudar o rumo de suas vidas! Porém, não podemos nos esquecer que a alegria que essas pessoas espalham não é conseqüência exclusiva de uma decisão tomada num determinado instante. Ao contrário, é fruto de uma luta constante, que se renova dia após dia. A felicidade é algo a ser construído a todo instante em nossas vidas. E, como toda obra grande e valiosa, custa esforço e sacrifício. Mas vale a pena. Na verdade, lutar pela verdadeira felicidade é a única coisa que realmente vale a pena em nossas vidas.
Nos próximos dias receberemos muitas saudações de “feliz ano novo!”. Muitos dirão, como se canta na velha cantiga da virada do ano: “adeus ano velho (...), que os sonhos se realizem (...), muito dinheiro no bolso e saúde prá dar e vender”. Dinheiro, saúde, realização dos sonhos são coisas importantes. O grande erro, mais que isso, a causa de grande fracasso em nossa vida, porém, está em colocar exclusivamente nisso a nossa esperança de felicidade. É que a felicidade, assim como a tristeza, está em nosso interior e não nas coisas e acontecimentos exteriores.
A verdadeira alegria não está nisso que as pessoas, com muito boa intenção, nos desejam nos cartões de Natal: dinheiro, realizações, sucesso etc. Uma das cenas mais comoventes que já presenciei ocorreu-me por ocasião da Ceia de Natal do ano passado. Um de meus filhos havia acabado de receber um presente que há muito esperava. Tratava-se de um aviãozinho. Porém, mal o retirou da caixa, a priminha inadvertidamente pisou sobre a asa e o danificou por completo. O filho mais velho, sem hesitar, cedeu o seu presente para o irmão. Com isso, o que havia perdido o presente ficou feliz, mas o que deu o seu para o irmão ficou muitíssimo mais contente ainda. Trata-se de um exemplo muito palpável de que “há mais alegria em dar do que em receber”.
Mas sabemos que essa atitude, da qual brota a verdadeira felicidade, nem sempre é fácil de ser assumida. A nossa tendência é de nos fecharmos em nós mesmos, buscando os nossos desejos, as nossas satisfação, os nossos prazeres. Porém, não podemos esquecer que o nosso coração tem uma porta que abre para fora. Se a quisermos abrir para dentro, quanto mais a forçarmos, tanto mais a manteremos fechada. E dessa atitude egoísta somente brota o rancor, a desconfiança e o ressentimento que nos aprisionam numa triste solidão interior.
Talvez a melhor saudação que possamos fazer aos nossos amigos e familiares nesses dias é que renovem os propósitos de lutar por ser felizes. E, principalmente, que passem a procurar a verdadeira felicidade onde a podem encontrar. E a encontramos em nós mesmos, na luta que travamos, dia após dia, por sermos melhores para servir aos demais.
A felicidade é uma luz que brilha em nossa alma. Ela, por si, não muda as coisas, mas faz com que as enxerguemos com outros olhos. Algo de semelhante ocorre com o sol. Ao nascer, não muda o mundo. Tudo permanece mais ou menos como era durante a escuridão da noite. Porém, a sua luz ilumina todas as coisas, e, ao refletiram a luz do sol, tornam-se mais belas. Assim podemos ser nós: luzes que fazem refletir no mundo a sua beleza e esplendor.

A todos, um feliz ano novo! Ou, se preferirem, um ano novo repleto de felicidade! Para isso, porém, não nos esqueçamos: ano novo, luta nova!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Gentileza e honestidade

Na edição do penúltimo domingo, dia 14 de dezembro, o Correio Popular trouxe uma matéria verdadeiramente digna de muitos elogios. Com a criatividade e perspicácia que não podem faltar no bom repórter, avaliou-se como reagem as pessoas em situações aparentemente corriqueiras, como devolver um objeto achado, um dinheiro perdido, ou ainda a cortesia que é dispensada aos semelhantes. Acredito que, com essas iniciativas, muito mais que as duras críticas políticas, que também são necessárias, a imprensa contribui para um sólido progresso social, pois com elas se enaltecem os bons exemplos, ao mesmo tempo em que deixam patentes os maus, estimulando as pessoas a serem melhores. E só há efetiva mudança na sociedade se houver antes uma transformação no interior dos indivíduos que a compõem.
Não podemos ignorar que nossos atos nunca estão isolados. Nenhuma de nossas ações é absolutamente indiferente aos nossos semelhantes. Ao contrário, mesmo nas atividades mais normais e corriqueiras podemos tornar pior ou melhor o mundo que nos cerca.
Por exemplo, o cobrador de ônibus que fica cochilando o tempo todo e, nos breves despertar de seu trabalho mal feito, responde com aspereza às pessoas, de certo modo, atinge negativamente aos que estão ao seu redor e precisam de seu serviço. O professor que não prepara com esmero sua aula ou o trabalhador que não se dedica com afinco ao seu trabalho não prejudicam apenas a si próprios, mas a todos que necessitam de seus serviços e também a todos os que os cercam.
Mas os atos bons também são difusivos. A cozinheira que, além de dar o melhor de si na preparação dos alimentos, ainda se excede em fazê-lo mais bonito e atraente, de certa forma, está recheando de alegria a todos os que serão servidos. E, mais ainda, um trabalho bem feito, realizado com dedicação e alegria estimula aos demais a imitar. Um ato bom é como uma pedra atirada num lago. Provoca ao ser redor uma onda, e depois outra, e mais outra, até que todo o lago esteja tomado. O mesmo efeito produz os atos bons que, com esforço e por amor, realizamos em nossas vidas.
Estamos há poucos dias do Natal. Nesse tempo é natural que reflitamos um pouco mais profundamente sobre nossas vidas. Reflitamos, pois, sobre como e em que temos dedicado o nosso tempo, que é, depois da própria vida, um dos maiores tesouros que possuímos. Será que somos verdadeiramente felizes?
E, ao nos depararmos com essa pergunta, por demais comprometedora, talvez nos aventuremos a responder que não, ou que não somos tão felizes como gostaríamos. E, em seguida, vêm as razões (sem razão) que inventamos para a ausência de felicidade: é que ainda não consegui a minha casa; é que a crise ameaça o meu emprego; é que o meu vizinho, o meu chefe, a minha esposa, o meu marido... É que... E, com essas desculpas, queremos abafar um vazio interior. No fundo são as nossas opções e, por conseqüência, as nossas ações que nos realizam, e, portanto, nos fazem felizes ou infelizes.
O Natal, mais que uma simples recordação é um reviver, um reavivar em nossas vidas e mentes um acontecimento, ao mesmo tempo, simples e profundo. É, sem dúvida, um fato que ocorreu num determinado momento da história. Porém, mais que isso, no Natal se celebra a vinda de um perfeito exemplo a ser imitado e, nessa imitação, encontrarmos as respostas aos nossos anseios mais profundos.

Com efeito, há um modelo a ser seguido. Em cada situação de nossas vidas, poderíamos nos perguntar: como teria agido aquele Menino nessa situação? E de uma resposta e ação coerente com isso é que se constrói a felicidade pessoal e, mais ainda, se contribui para um verdadeiro progresso social.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Competência, otimismo e alegria

Em recente pronunciamento o Presidente Lula afirmou que a crise se vence com competência, otimismo e alegria. Confesso que não ouvi toda a mensagem, mas penso que esses ingredientes sugeridos são imprescindíveis não apenas para se enfrentar os momentos difíceis como para tudo em nossas vidas.
Competência. Como é importante que cada um dê o máximo de si em seu trabalho! Mais que isso, competência não é apenas questão boa vontade. Cada um em sua profissão deve se esmerar por aprimorar cada vez mais. Trata-se de estudar, formar-se, aprender as novas técnicas e novos conceitos que são necessários, seja qual for o ofício de cada um.
Talvez um grande equívoco que nós, brasileiros, caímos com muita freqüência seja pensar que os dias melhores por que tanto esperamos depende apenas da competência dos governantes. De fato, há muito que eles podem fazer para obtermos melhores condições de vida. Mas há muito mais que depende de cada um de nós. A pintura de uma casa ficará bem feita se o pintor se empenhar em cumprir com esmero o seu trabalho. A sentença será justa se o Juiz se esforçar por colher bem as provas, estudar o caso e ponderar na solução mais justa. O paciente será bem cuidado se o médico for bem formado e prudente. A empresa andará bem se o empresário for competente, mas também o sucesso do empreendimento depende muito do trabalhador em cumprir o seu papel. E, desses trabalhadores todos, qual é o mais importante? Penso que todos, cada um no seu lugar.
Todos deveríamos nos questionar, antes de nos lançarmos a fazer qualquer tarefa de nosso dia-a-dia com a seguinte pergunta: por que estou fazendo isso? É que a resposta a isso irá nortear quais serão nossas atitudes. Se faço apenas para ganhar dinheiro, a atenção a quem depende de nossos serviços, o esmero por fazê-lo bem feito, enfim, a qualidade de nosso trabalho somente será importante na medida em nos possa fazer ganhar mais dinheiro. Se, ao contrário, o principal objetivo for servir aos demais, o reconhecimento profissional e, com ele, o sucesso econômico virão como conseqüência natural. E não nos faltará o otimismo quando passarmos por momentos difíceis, pois trabalhamos por objetivos mais transcendentes.
E, nesse ponto, chegamos ao segundo ingrediente: otimismo. Não se trata de fechar os olhos para a realidade, ou mesmo sonhar com um “mar de rosas”. Mas mesmo diante de cenários sombrios, é possível acreditar que, aconteça o que acontecer, seremos felizes desempenhando com valentia e determinação o trabalho que nos cabe, ou que nos é possível.
Alegria. Que ingrediente fantástico para se colocar nessa receita! Como fazem falta pessoas alegres ao nosso lado! Ao contrário, como é pesado o ambiente que se forma ao redor de um carrancudo e mal-humorado. E é curioso notar que, ao contrário do que muitos de nós pensamos, a alegria não depende de fatores externos, como o tempo, o trânsito, e mesmo o humor da esposa ou do marido. No fundo, a alegria depende da paz de consciência, depende de que tenhamos muito claro para nós mesmos o motivo pelo qual acordamos, trabalhamos, descansamos e voltamos a trabalhar, qual seja, que o fazemos para servir aos demais. E quanta alegria há em servir!
Agora que o Natal se aproxima, a contemplação do Presépio é como que um exemplo vivo de tudo isso. O cenário não era muito animador para José, que fazia as vezes de pai do Menino. Teve de deixar a sua cidade, Nazaré, e partir para Belém, para cumprir uma ordem do imperador romano. Como cidadão honrado que era, cumpriu o seu dever. A viagem era penosa e, sobre um jumentinho, trazia a esposa grávida, com o parto iminente. Ao chegar ao destino, ninguém os recebeu em sua casa, por mais que ele se esforçasse.

Mas eles não se abatem. No estábulo tudo é ajeitado com muita competência, ainda que lhes faltasse quase tudo. O Menino nasce entre animais, mas desde o primeiro momento é fonte de um otimismo fantástico que faz os pastores e os magos se rejubilarem de alegria. E, por falar em alegria, essa é a palavra que melhor define aquele cenário absolutamente simples. Eles não temiam a crise do império romano, nem a sorte de seu País, nem mesmo o tirano Herodes. Havia quem os guiasse com muita competência. E essa segurança é fonte de um forte otimismo e de uma perene alegria.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lições de solidariedade

A recente tragédia das enchentes em Santa Catarina sensibilizou o País. Ao contemplar aquele cenário desolador cada um reage de uma forma diferente. É que a nossa casa, de uma forma ou de outra, é o abrigo onde nos sentimos protegidos. E  quando vemos aquilo que foi o lar de alguém, inundado até o telhado, leva-nos a pensar como se sentem aquelas pessoas que, da noite para o dia, viram tudo o que possuíam indo literalmente por água abaixo.
Mas embora as reações das pessoas diante da catástrofe sejam muito pessoais, e cada um a enxergue sob seu ponto de vista, as pessoas pendem, ora mais ora menos, em dois sentidos opostos: uns arregaçam as mangas e lançam-se em campanhas humanitárias de ajuda aos desabrigados; outros, com ares de “senhor da verdade” e sem a disposição de mover uma palha para aliviar o sofrimento dos semelhantes, se limitam a proferir duras críticas aos “governantes irresponsáveis” que nada fizeram para evitar a tragédia.
Na verdade essa segunda postura é tão antiga quanto a própria humanidade. Em sua raiz está o egoísmo que se manifesta em pensar que não temos nada que ver com o sofrimento dos demais. E para aliviar, ou melhor, para fugir da própria consciência, empenha-se em atribuir a culpa aos outros. Mas embora essa postura não seja uma exclusividade dos tempos modernos, atualmente ela tem assumido uma característica muito peculiar. É que a ciência evoluiu muito. A medicina, a engenharia, a informática alcançaram níveis de desenvolvimento fantásticos. Com isso, as pessoas passam a buscar a sua segurança exclusivamente na tecnologia e espera-se que ela venha a afastar por completo de nossas vidas a dor e o sofrimento.
De fato, o avanço tecnológico é muito bom. Seria um terrível engano considerar a tecnologia como algo intrinsecamente ruim. E esses conhecimentos podem e devem ser utilizados para melhorar a qualidade de vida das pessoas. As novas técnicas de engenharia devem ser utilizadas para evitar as enchentes. Nesse sentido, não há nada de errado em se taxar de irresponsáveis os governantes que, sabendo do problema, nada fizeram para o evitar.
Mas, por mais que a ciência avance, ela não conseguirá jamais afastar por completo da humanidade a dor e o sofrimento. Assim, quando as tragédias surgem, é bom que serenamente se pense em suas causas e o que se pode fazer para evitar que  repita. Porém, mais importante ainda, é levar alento (e muito alimento) àqueles que sofrem hoje e agora as suas conseqüências.
Além disso, mesmo quando se vive na “plena segurança” que a tecnologia proporciona, ainda assim, muitos estarão sedentos de algo que os equipamentos não podem proporcionar. Por exemplo, um doente poderá estar num hospital com o seu quadro estável e sem risco graças aos equipamentos e técnicas que a medicina lhe proporciona. Porém, nada disso substitui o carinho e o afeto dos parentes e amigos.
Penso que devemos cada vez mais nos empenhar para que a ciência evolua a serviço da vida. Que as construções sejam seguras. Que se façam as obras para evitar as enchentes. Que não haja favelas e que não falte alimento a todos. Mas, além disso, muitos homens e mulheres de nosso tempo vivem com a aparente segurança de alguns bens, mas inseguros sobre assuntos mais transcendentes e, exatamente por isso, infelizes. Muitos vivem em locais que jamais será inundado pelas águas do verão, mas também vivem sedentos de um pouco de atenção. Enfim, muitos vivem em casas bem edificadas e abastecidas, porém, com a alma vazia daquilo que verdadeiramente importa para serem felizes.

É maravilhoso contemplar quantas pessoas se engajaram em arrecadar e transportar alimentos aos nossos irmãos de Santa Catarina. Nesse momento em que também nós, brasileiros, podemos nos orgulhar de desfrutarmos dos avanços da tecnologia, com essa atitude valente, mostramos ao mundo e a nós mesmos que o fantástico progresso da ciência que vivenciamos tem por fundamento e está a serviço da vida. Dessa vida que hoje se vive permeada de celulares, laptops, TV digital, mas que não pode prescindir jamais de um colo aconchegante para chorar uma dor ou de braços bem abertos para festejar um amor.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Trabalhar: até quando?

O Correio Popular do penúltimo domingo, dia 23 de novembro, trouxe uma matéria, que trazia como título “Ânimo leva idoso a adiar aposentadoria”. A abordagem foi muito feliz e nos coloca diante de uma questão crucial em nossas vidas: até quando devemos trabalhar?
Penso que todas as questões existenciais que podemos nos propor não ficam bem resolvidas se não consideramos que cada homem e cada mulher, que receberam o imenso dom da vida, foram também chamados a uma missão. Ninguém existe por acaso, assim como ninguém é absolutamente dono da própria existência.
E essa missão é extremamente importante não apenas para nós próprios, como para as demais pessoas e para a humanidade inteira. Quando um ser é concebido e ainda não passa de uma célula no ventre materno, é como que se a sociedade inteira já estivesse na expectativa da vinda de um novo ser que é destinado a fazer este mundo melhor. É bem verdade que esse futuro homem, ou futura mulher, poderá cumprir bem ou não o seu papel, e aqui entra a questão da liberdade. Porém, todos aguardam que ele lute pela missão a que foi chamado, pois a felicidade depende disso, assim como disso depende, em certa medida, o próprio desenvolvimento da humanidade.
E quando termina essa missão? Penso que apenas com último suspiro. Enquanto viver poderá, livremente, ser-lhe fiel a esse chamado, ou, ao contrário, desgraçadamente ser infiel. Mas embora a missão termine com a morte, os efeitos de uma vida se prolongam no tempo. Quem duvida disso basta ler os escritos ou a biografia de pessoas que viveram há séculos ou mesmo milênios, e ver como essas vidas ainda hoje nos estimulam a ser melhores.
A reportagem que mencionei no início fala do caso da aposentada, Elza Vitorino Ferreira, que fará 65 anos no dia 27 de dezembro, mas que não pensa em se render ao ócio e irá protelar, ao máximo, sua saída do mercado de trabalho. A frase dela é tão singela quanto sábia: “Tenho horror à solidão e me sinto bem trabalhando (...). Deus me dando saúde, vou trabalhar enquanto eles me quiserem”. Que exemplo fantástico de vida: trabalhar até quando me quiserem! Não é frase lançada ao acaso, são palavras ditas por quem sabe que está de passagem, mas enquanto lhe forem dados os dias, os ocupará em construir algo de bom. E quanto bem se pode fazer vendendo produtos num supermercado! Quantos ares carrancudos não terá ela desfeito com um simples sorriso!
Acredito sinceramente que o homem e a mulher existem para trabalhar, assim como o pássaro para voar. Para se entender essa afirmação é necessário entender bem o que seja trabalho. Nesse contexto, o pai que troca uma fralda do filho à noite está trabalhando, e exercendo um trabalho de extrema importância. A pessoa que visita um amigo doente também faz um belo trabalho. O voluntário que diverte uma criança do Boldrini também exerce um maravilhoso trabalho.
Não estamos questionando o legítimo direito à aposentadoria. Trata-se de um direito social fantástico que precisa ser mantido e aprimorado. Nada mais justo que se desfrute de uma remuneração mensal após anos de dedicação a um trabalho profissional. Porém, penso que faz um grande mal a si próprio e à sociedade o aposentado que se dedica apenas a desvendar palavras-cruzadas e gasta os dias com pijama a matar o tempo, esperando a morte, que, paradoxalmente, não deseja que chegue nunca. Não há idade, não há condição de saúde, não há situação alguma que justifique não sonhar e fazer algo de bom pelos demais.
De novo é a Dona Elza quem nos dá a sua lição. Segundo a reportagem: os afazeres domésticos são realizados pelo marido, José Ferreira Filho, que se aposentou aos 45 anos e permaneceu dez anos desocupado, o que segundo Elza, afetou seu humor e envelheceu a aparência. A situação foi revertida quando Ferreira voltou à ativa como churrasqueiro aos finais de semana. “Ele remoçou muito e agora está feliz com o trabalho”, diz Elza. De fato, o trabalho feito com amor “remoça” e nos faz felizes, pois essa é a nossa missão.

Não sabemos como e nem quando terminará essa nossa passagem pela vida. Mas que alegria se esse misterioso dia nos surpreender trabalhando, por amor, naquilo a que fomos chamados a fazer naquele momento.