Na edição do penúltimo domingo, dia 14 de dezembro, o Correio Popular
trouxe uma matéria verdadeiramente digna de muitos elogios. Com a criatividade
e perspicácia que não podem faltar no bom repórter, avaliou-se como reagem as
pessoas em situações aparentemente corriqueiras, como devolver um objeto
achado, um dinheiro perdido, ou ainda a cortesia que é dispensada aos
semelhantes. Acredito que, com essas iniciativas, muito mais que as duras
críticas políticas, que também são necessárias, a imprensa contribui para um
sólido progresso social, pois com elas se enaltecem os bons exemplos, ao mesmo
tempo em que deixam patentes os maus, estimulando as pessoas a serem melhores.
E só há efetiva mudança na sociedade se houver antes uma transformação no
interior dos indivíduos que a compõem.
Não podemos ignorar que nossos atos nunca estão isolados. Nenhuma de
nossas ações é absolutamente indiferente aos nossos semelhantes. Ao contrário,
mesmo nas atividades mais normais e corriqueiras podemos tornar pior ou melhor
o mundo que nos cerca.
Por exemplo, o cobrador de ônibus que fica cochilando o tempo todo e, nos
breves despertar de seu trabalho mal feito, responde com aspereza às pessoas,
de certo modo, atinge negativamente aos que estão ao seu redor e precisam de
seu serviço. O professor que não prepara com esmero sua aula ou o trabalhador
que não se dedica com afinco ao seu trabalho não prejudicam apenas a si próprios,
mas a todos que necessitam de seus serviços e também a todos os que os cercam.
Mas os atos bons também são difusivos. A cozinheira que, além de dar o
melhor de si na preparação dos alimentos, ainda se excede em fazê-lo mais
bonito e atraente, de certa forma, está recheando de alegria a todos os que
serão servidos. E, mais ainda, um trabalho bem feito, realizado com dedicação e
alegria estimula aos demais a imitar. Um ato bom é como uma pedra atirada num
lago. Provoca ao ser redor uma onda, e depois outra, e mais outra, até que todo
o lago esteja tomado. O mesmo efeito produz os atos bons que, com esforço e por
amor, realizamos em nossas vidas.
Estamos há poucos dias do Natal. Nesse tempo é natural que reflitamos um
pouco mais profundamente sobre nossas vidas. Reflitamos, pois, sobre como e em
que temos dedicado o nosso tempo, que é, depois da própria vida, um dos maiores
tesouros que possuímos. Será que somos verdadeiramente felizes?
E, ao nos depararmos com essa pergunta, por demais comprometedora, talvez
nos aventuremos a responder que não, ou que não somos tão felizes como
gostaríamos. E, em seguida, vêm as razões (sem razão) que inventamos para a
ausência de felicidade: é que ainda não consegui a minha casa; é que a crise
ameaça o meu emprego; é que o meu vizinho, o meu chefe, a minha esposa, o meu
marido... É que... E, com essas desculpas, queremos abafar um vazio interior.
No fundo são as nossas opções e, por conseqüência, as nossas ações que nos
realizam, e, portanto, nos fazem felizes ou infelizes.
O Natal, mais que uma simples recordação é um reviver, um reavivar em
nossas vidas e mentes um acontecimento, ao mesmo tempo, simples e profundo. É,
sem dúvida, um fato que ocorreu num determinado momento da história. Porém,
mais que isso, no Natal se celebra a vinda de um perfeito exemplo a ser imitado
e, nessa imitação, encontrarmos as respostas aos nossos anseios mais profundos.
Com efeito, há um modelo a ser seguido. Em cada situação de nossas vidas,
poderíamos nos perguntar: como teria agido aquele Menino nessa situação? E de
uma resposta e ação coerente com isso é que se constrói a felicidade pessoal e,
mais ainda, se contribui para um verdadeiro progresso social.
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