Na edição de 18 de maio de 2.008, o Correio Popular trouxe uma interessante
reportagem sobre o aumento das cirurgias plásticas entre os adolescentes. A
matéria traz a opinião do Dr. Marco Antônio de Camargo Bueno, cirurgião
plástico e professor UNICAMP, que faz oportunas considerações. Aponta o
especialista a causa disso: “Hoje, o físico e a beleza são muito valorizados,
não importa o que você é e sim como seu físico é. Desde cedo, as crianças
aprendem isso”. E depois, com coragem e inegável mostra de bom senso, explica:
“O adolescente se submete a qualquer coisa para ser aceito no grupo e é ai que
mora o perigo. Os riscos devem ser bem mensurados pela família antes da
cirurgia, porque o grau de insatisfação do pós-operatório é bem grande”.
Por que será que os adolescentes cada vez mais buscam
alterar suas características físicas, desejando amoldá-las a padrões que se
propõem como ideais de beleza? É urgente que os pais e educadores em geral se
empenhem em entender o problema, sobretudo porque, como expõe o especialista
acima mencionado, é grande a insatisfação das pessoas após a cirurgia.
Penso que é necessário distinguir as limitações dos
defeitos. Sem nenhuma preocupação científica ou rigor técnico, podemos
intitular como limitações aquelas características físicas dos indivíduos sobre
as quais não se detém possibilidade de escolha e controle. Por exemplo, a
estatura excessivamente baixa ou uma má-formação congênita ou adquirida num
acidente. Quanto aos defeitos, chamaremos alguns aspectos do caráter sobre os
quais a pessoa pode exercer um controle, ainda que isso implique esforços, tal
como o mau-humor habitual, o vício de mentir ou de incorrer em maledicências.
Com o avanço da ciência, muitas de nossas limitações
podem ser superadas. Hoje há técnicas para controlar o crescimento, fazendo com
que pessoas que geneticamente teriam uma estatura abaixo da média fiquem
“dentro dos padrões aceitáveis”. Todos conhecemos a história de um famoso
cantor norte-americano que obteve a proeza de mudar a cor da pele, forma do
nariz, da face, enfim transfigurar-se por completo. Mas fica a pergunta: por
quê? Penso que, embora seja legítimo utilizar os recursos da ciência para
contornar as limitações e, com isso, obter uma melhor qualidade de vida, a
postura habitual diante delas deve ser a humilde aceitação. Aliás, essa
aceitação deve ser alcançada antes da cirurgia, inclusive para admitir o
possível fracasso da medida.
Bem diferente há de ser, por outro lado, a nossa
postura diante dos defeitos. Quanto a eles muito podemos fazer para vencê-los.
Mais ainda, é na luta contra eles que nos tornaremos pessoas melhores,
inclusive para sermos aceitos no grupo. Todos nós conhecemos dos bancos
escolares a figura do gordinho, baixo, cheio de espinhas, que no máximo serve
para jogar no gol (e ainda engole muitos frangos). Porém, pela sua simpatia,
pela sua natural preocupação com os outros, sempre atento a ouvir, sempre
disposto a tirar uma piada oportuna quando o ambiente está tenso, ele passa a
ser aquela pessoa com quem é gostoso estar, porque diante dela se respira
alegria.
Muitas pessoas acreditam que os defeitos sejam inatos
e impossíveis de se vencer, e chegam a dizer, por exemplo: “eu sou
desorganizado mesmo desde que nasci”. E, ao contrário, perdem-se em sonhos
realmente utópicos: “ah, se eu fosse loiro!”, “se fosse mais alto!”, “se fosse
mais baixo!”, “se fosse mais inteligente!” etc.
Na reportagem se diz também que muitos jovens se
sentem incomodados com suas limitações porque a própria família não sabe como lidar
com o assunto. Talvez aqui esteja a principal causa do problema. É que devemos
amar e estimar cada pessoa, sobretudo da família, por ser quem é, com seus
defeitos e suas limitações. Como diz de forma muito bela o cantor e compositor
“é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. E para isso não
importa se seja branco, negro, amarelo, vermelho, alto, baixo, homem, mulher,
velho, criança ou o que for. Importa apenas a imensa dignidade que merece cada
ser humano. E nossos filhos não serão capazes de se portarem assim no mundo se
não aprenderem com nosso exemplo de amor incondicional dentro de nossos lares.
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