segunda-feira, 2 de junho de 2008

Defeitos e limitações

Na edição de 18 de maio de 2.008, o Correio Popular trouxe uma interessante reportagem sobre o aumento das cirurgias plásticas entre os adolescentes. A matéria traz a opinião do Dr. Marco Antônio de Camargo Bueno, cirurgião plástico e professor UNICAMP, que faz oportunas considerações. Aponta o especialista a causa disso: “Hoje, o físico e a beleza são muito valorizados, não importa o que você é e sim como seu físico é. Desde cedo, as crianças aprendem isso”. E depois, com coragem e inegável mostra de bom senso, explica: “O adolescente se submete a qualquer coisa para ser aceito no grupo e é ai que mora o perigo. Os riscos devem ser bem mensurados pela família antes da cirurgia, porque o grau de insatisfação do pós-operatório é bem grande”.
Por que será que os adolescentes cada vez mais buscam alterar suas características físicas, desejando amoldá-las a padrões que se propõem como ideais de beleza? É urgente que os pais e educadores em geral se empenhem em entender o problema, sobretudo porque, como expõe o especialista acima mencionado, é grande a insatisfação das pessoas após a cirurgia.
Penso que é necessário distinguir as limitações dos defeitos. Sem nenhuma preocupação científica ou rigor técnico, podemos intitular como limitações aquelas características físicas dos indivíduos sobre as quais não se detém possibilidade de escolha e controle. Por exemplo, a estatura excessivamente baixa ou uma má-formação congênita ou adquirida num acidente. Quanto aos defeitos, chamaremos alguns aspectos do caráter sobre os quais a pessoa pode exercer um controle, ainda que isso implique esforços, tal como o mau-humor habitual, o vício de mentir ou de incorrer em maledicências.
Com o avanço da ciência, muitas de nossas limitações podem ser superadas. Hoje há técnicas para controlar o crescimento, fazendo com que pessoas que geneticamente teriam uma estatura abaixo da média fiquem “dentro dos padrões aceitáveis”. Todos conhecemos a história de um famoso cantor norte-americano que obteve a proeza de mudar a cor da pele, forma do nariz, da face, enfim transfigurar-se por completo. Mas fica a pergunta: por quê? Penso que, embora seja legítimo utilizar os recursos da ciência para contornar as limitações e, com isso, obter uma melhor qualidade de vida, a postura habitual diante delas deve ser a humilde aceitação. Aliás, essa aceitação deve ser alcançada antes da cirurgia, inclusive para admitir o possível fracasso da medida.
Bem diferente há de ser, por outro lado, a nossa postura diante dos defeitos. Quanto a eles muito podemos fazer para vencê-los. Mais ainda, é na luta contra eles que nos tornaremos pessoas melhores, inclusive para sermos aceitos no grupo. Todos nós conhecemos dos bancos escolares a figura do gordinho, baixo, cheio de espinhas, que no máximo serve para jogar no gol (e ainda engole muitos frangos). Porém, pela sua simpatia, pela sua natural preocupação com os outros, sempre atento a ouvir, sempre disposto a tirar uma piada oportuna quando o ambiente está tenso, ele passa a ser aquela pessoa com quem é gostoso estar, porque diante dela se respira alegria.
Muitas pessoas acreditam que os defeitos sejam inatos e impossíveis de se vencer, e chegam a dizer, por exemplo: “eu sou desorganizado mesmo desde que nasci”. E, ao contrário, perdem-se em sonhos realmente utópicos: “ah, se eu fosse loiro!”, “se fosse mais alto!”, “se fosse mais baixo!”, “se fosse mais inteligente!” etc.

Na reportagem se diz também que muitos jovens se sentem incomodados com suas limitações porque a própria família não sabe como lidar com o assunto. Talvez aqui esteja a principal causa do problema. É que devemos amar e estimar cada pessoa, sobretudo da família, por ser quem é, com seus defeitos e suas limitações. Como diz de forma muito bela o cantor e compositor “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. E para isso não importa se seja branco, negro, amarelo, vermelho, alto, baixo, homem, mulher, velho, criança ou o que for. Importa apenas a imensa dignidade que merece cada ser humano. E nossos filhos não serão capazes de se portarem assim no mundo se não aprenderem com nosso exemplo de amor incondicional dentro de nossos lares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário