segunda-feira, 19 de maio de 2008

Dia das Mães

Nunca me esquecerei daquela cena. Era uma quinta-feira. Eu trajava aquelas vestes para mim esquisitas que se exigem para entrar no centro cirúrgico do hospital. Apesar de já ter passado várias outras vezes pela espera do nascimento de um filho, naquela ocasião, com o consentimento da obstetra, aventurei-me a assistir ao parto.
O ambiente, que não me era nada familiar, causava-me apreensão. Os equipamentos, a luz forte, o ar sério dos médicos e enfermeiras, apesar do esforço por nos transmitir serenidade, faziam com que eu desejasse que aquilo terminasse o quanto antes e, sobretudo, que tudo saísse bem.
A minha tarefa não era nada fácil. Não posso ver uma gota de sangue sem que me cause um profundo mal-estar. Por sorte, havia um pano disposto de forma que a mãe não visse o que se passava do outro lado, onde os médicos, com extremo zelo e cuidado, se empenhavam em trazer o novo ser ao mundo. Coloquei-me estrategicamente bem ao lado do rosto da mãe, de modo que tampouco eu visse o procedimento. Além disso, estar próximo ao rosto da mãe, transmitindo-lhe segurança, que sinceramente não sei de onde a tirava, é o que melhor poderia fazer naquela situação.
Passados uns eternos vinte minutos, preenchidos de sons de tesouras e de outros instrumentos cirúrgicos, é chegado o grande momento. O bebê é levantado e logo prorrompe o tão esperado choro... Como colocar no papel tão grande emoção?
Mas essa emoção, em breve seria inundada de uma imensa admiração. Aquela que surge quando contemplamos algo que nos encanta, sem que saibamos explicá-la. Aquela criaturinha, ainda suja e assustada, somente interrompe o choro estridente quando é colocada no seio da mãe. O choro é substituído por um gracioso suspiro, mas agora são os olhos da mãe que jorram lágrimas.
Para esses bobalhões, como eu, que observam de fora, fica a sensação de que não entenderemos nunca o que se passa entre ambos. A criança, tão-logo sente o pulsar do coração da mãe, sente-se segura e descansa ali como se nada mais existisse no mundo. E a mãe, chora, chora de alegria, de emoção, de vibração, como se a vida dela não tivesse outra razão de ser que não esperar por aquele momento sublime. A impressão que é dá é que o próprio Deus que concedeu a ela tão grande dádiva ameaça deitar uma lágrima de emoção ao contemplar tão maravilhoso espetáculo.
Eu já havia contemplado aquela mulher em muitíssimas outras situações. Em seu trabalho, em seu estudo, em suas correrias em casa e na rua, em suas brigas contra o relógio. Presenciei, enfim, seus fracassos e seus sucessos. Mas o que eram as suas vitórias diante dessa que ela desfruta agora? A julgar por seus olhos, brilhantes, por seu semblante, feliz, por seus lábios, trêmulos, por suas mãos, ternas, por seu peito, acolhedor, todos os seus êxitos de até então tornam-se nada e menos que nada diante de tão grande dom.
É bem verdade que a maternidade não se limita a esse momento feliz. Virão as noites mal-dormidas, as preocupações, os mil-e-um afazeres de mulher e mãe, enfim, as agruras de um filho adolescente. Mas isso, ao contrário do que muitos pensam, não retiram o sabor de ser mãe. É que você, eu e qualquer outra pessoa que existe na face da terra tivemos a magnífica e insubstituível oportunidade de sermos imensamente felizes, de vivermos, porque uma mãe se dignou a trazer-nos em seu ventre e, a partir dele, trazer ao mundo um novo homem ou uma nova mulher, que somos.
Lembro-me agora de um incidente que me ocorreu na minha infância. Com um pedaço de papelão e uns poucos cabos de vassoura, queria eu construir uma robusta cabana, tal como a do Tarzan. A empreitada não deu certo, é claro. Diante da frustração entrei chorando em casa. Que sorte a minha, eu tinha uma mãe em casa! Com um abraço e uma voz meiga ela me disse que não se preocupasse, pois com persistência eu conseguiria. E, se fosse preciso, que ela me ajudaria nisso.

A casa do Tarzan nunca saiu, mas a paz de espírito e a segurança ficam agora como uma lembrança indelével. E é com essa lembrança que convido o colega a meditar no que seria de nós, no que seria do mundo, se não fôssemos fruto de um amor de mãe. A elas, em seu dia e sempre, um feliz dia das mães!

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