segunda-feira, 5 de maio de 2008

Carta aos pais

Todos nós, pais, temos acompanhado indignados e com repulsa a atitude insana que levou uma pessoa a atirar uma criança pela janela de um edifício. No entanto, além da indignação, que é natural, talvez assumamos outra postura carregada de soberba, que leva a nos considerarmos o melhor pai ou a melhor mãe do mundo, “afinal, eu jamais atiraria um filho pela janela”, podemos pensar. Mas será que estamos sendo de verdade bons pais? O questionamento é importante, pois, acontecimentos marcantes e dolorosos como esses podem ser oportunidades para uma análise mais profunda e, a partir dela, nos propormos metas de melhora pessoal.
Assim, caros pais, como é o seu relacionamento com o seu filho pela manhã? A primeira frase que ele ouve é um “bom dia, meu amor!”, ou é uma piadinha que o irrita? Ou será um simples “acorda, que estou atrasado (ou atrasada) para ir ao trabalho”?
E no final do dia, como é a chegada a casa? A vinda do pai é motivo de alegria, ou, ao contrário, ao se abrir a porta é como se entrasse uma nuvem negra que carrega e torna tenso o ambiente? Há, por parte de você, pai, um esforço por sorrir, por ajudar a esposa nas tarefas da casa, com o jantar, com a atenção aos filhos, ou, ao contrário, ao final de um dia estressante, sente-se no direito de esparramar-se na poltrona e esperar que os outros o sirvam?
E você, mãe, apesar do cansaço, esforça-se por estar alegre, acolhedora, ou, ao contrário, apenas aguarda o marido chegar para descarregar uma lista interminável de reclamações e lamentações, como se o ouvido do marido fosse uma espécie de receptor de desabafos?
Vivemos num mundo fortemente dominado pelo egoísmo, e é preciso reagir a tempo, sob pena de incidentes dolorosos com o que vivenciamos no momento se repitam com uma freqüência cada vez maior.
As crianças, por sua vez, sedentas de carinho, de afeto, de atenção, reagem de formas muito diferentes, segundo as suas características, quando isso não lhes é dado pelos pais. Umas se retraem, ficam acanhadas, apáticas. Outras, grande parte delas, desenvolvem uma forte rebeldia, que as leva a fazer birras, desobedecer, espernear. No fundo, são formas de dizer: “pai, mãe, eu estou aqui. Dá para sair um pouquinho da TV, do seu trabalho, das suas coisas, dos seus problemas e me dar um pouquinho de atenção?”.
Gostaria de lembrar o fato que certa vez ouvi contar por um amigo. O pai chegou a casa, mal cumprimentou a esposa e os filhos e foi para o escritório para continuar com um trabalho que era muito urgente. Passados uns minutos, o filho, muito acanhadamente, aproximou-se da porta do escritório e disse: “Pai, posso fa...”. “Filho, já disse que tenho um trabalho muito importante, vai deitar que já está na hora”, disse o pai, sem esperar que o filho completasse a frase. O filho obedeceu, porém, passada cerca de meia hora, retornou: “Pai, posso fazer apenas uma pergunta?”. “Fala logo”, respondeu o pai, sem parar o que estava fazendo. “Quanto é que você ganha por hora de trabalho”. O pai ficou meio desorientado, mas, para se livrar logo da importunação, respondeu sem pensar muito: “Não sei, filho, acho que uns R$ 50,00”.
Com a resposta o filho foi para o quarto. Mas agora, curioso com a pergunta, o pai foi até o quarto do filho. Lá chegando, notou que ele tinha várias notas de pequeno valor e um saquinho com muitas moedas. E então o pai lhe perguntou: “Filho, por que deseja saber quanto ganho por hora?”. Então o filho disse ao pai: “É que faz dois meses que estou juntando esse dinheiro. Tenho agora R$ 47,50. Se eu te der o dinheiro, dá para o senhor ficar 57 minutos comigo?”.

Pode ser que nossos filhos não tenham a insistência desse garoto em procurar a nossa atenção. Talvez não seja também somente a preocupação econômica que  nos rouba o tempo que deveríamos dedicar a nossa família. De qualquer sorte, porém, ou nos empenhamos de verdade em estar com nossos filhos, em desenvolver um ambiente familiar sadio, ou descobriremos, mais cedo ou mais tarde, que atiramos o nosso tempo pela janela. Que o gastamos em busca de ninharias e deixamos de lado aquilo que verdadeiramente importa para construirmos a felicidade em nossos lares.

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