segunda-feira, 21 de abril de 2008

O legado de Osório

Na última sexta-feira, dia 18 de abril, comemoramos o Dia do Exército brasileiro. É célebre a frase do seu patrono, marechal Manuel Luiz Osório: "É fácil a missão de comandar homens livres, basta mostrar-lhes o caminho do dever". Penso que o lema de Osório deva ser meditado por todos aqueles que têm a missão de comandar homens livres: pais, professores, governantes, empresários, comandantes militares, líderes sindicais etc.
Talvez uma primeira indagação que nos propomos seja: será mesmo fácil comandar homens livres? E o interessante é que Osório coloca três ingredientes de radical importância para todo aquele que pretende comandar, para quem almeja ser guia de seus semelhantes: liberdade, caminho e dever.
E seriam esses ingredientes incompatíveis entre si? Para algumas ideologias ou correntes de pensamento liberdade e dever, ou liberdade e caminho seriam por si incompatíveis. Pensam assim aqueles que vêem a liberdade como ausência de “amarras” ou de regras.
No entanto, acredito que tal seja uma concepção errada de liberdade. Tomemos como exemplo um grupo de escoteiros que se aventura a empreender uma viagem por uma selva para eles desconhecida. Com esse objetivo, contratam um guia que conhece o caminho. No percurso, o guia irá dando várias instruções: “não pise aqui”, “siga nessa direção”, “cuidado com esse inseto”. Nessa situação, nenhum dos participantes da excursão ousará dizer: “esse guia tolhe a minha liberdade”. Ao contrário, estará seguro de que, sem suas instruções, não chegariam ao destino.
Imaginemos, ainda, um alpinista que se aventura a escalar uma montanha. Será possível que, em meio à escalada, ele, para exercer plenamente a sua liberdade, rompesse com as amarras e cortasse a corda que o mantém seguro? Seria uma idéia absurda, suicida.
Portanto, os escoteiros, por serem livres, podem seguir as instruções do guia ou não, o alpinista pode manter-se atado à corda ou cortá-la. A escolha certa, porém, representa o bom uso da liberdade, que os fazem exatamente por isso mais livres.
Estou certo de que a principal característica de todo educador, de todo aquele que se dispõe a comandar ou instruir seus semelhantes é ter um profundo respeito pela liberdade. Mas, sobretudo, que tenha uma noção exata do que é liberdade.
Mas Osório fala também em caminho. Temos um caminho? Temos uma missão? A resposta não é difícil. Penso que a única coisa que motiva verdadeiramente o ser humano é a felicidade. Não há quem não a queira, ainda que, por vezes, a busquem em “caminhos” nos quais ela não está. E onde ela estaria, então? Ora, está onde o mesmo Ser que criou o universo e tudo o mais que existe a colocou. E o grande desafio que dá sabor à vida é procurá-la todos os dias. E o educador, que se dispõe a conduzir homens livres, antes de mais nada, deve ser luz que aponta para esse caminho. É que encontrá-lo ou não o encontrar toca no anseio mais fundamental de todo ser humano: a felicidade.
E o dever? “Coisa chata”, muitos dirão. Mais que isso, podem questionar sobre “o que isso tem que ver com liberdade, caminho e felicidade?”. Penso que tem tudo a ver. É que o dever primordial e o rumo que norteou a vida de todos os homens e mulheres que hoje admiramos é o espírito de serviço aos demais.

Dizem que as palavras inspiram, mas o exemplo arrasta. De fato, educar homens livres é mostrar-lhes o caminho do dever. E o dever está em servir com alegria, sendo o próprio comandante (pai, professor etc.) um atraente exemplo de serviço. Deve ser alguém que encoraje os outros a segui-lo, posto que vale a pena ir atrás de quem encontrou o caminho da felicidade.

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