segunda-feira, 3 de março de 2008

Vale a pena ser honesto?

Em reportagem publicada no Correio Popular no penúltimo domingo, dia 24 de fevereiro, o servidor municipal Luis Messias fez um desabafo: “O preço que se paga para ser honesto em Campinas pode ser alto”. Não temos o propósito de comentar o incidente. Mas dessa sua afirmação poderíamos tirar um tema para reflexão: vale a pena ser honesto? Mais que isso, vale a pena ser honesto em qualquer circunstância?
Há alguns anos, conversava com um grande amigo sobre esse assunto. Ele comentava que, no seu modo de pensar, deve se esforçar por trabalhar bem e, acima de tudo, ser radicalmente honesto. “Se não for assim”, argumentava ele, “quando meu filho crescer, poderá descobrir o que eu não fiz de bom, e então como ficarei diante dele?”. Penso que o motivo que ele encontrou para levar uma vida honrada é muito forte, afinal, trata-se de dar bom exemplo ao filho. Mas será suficiente para sustentar uma postura durante toda uma vida? E se, por desgraça, apesar da boa educação, o filho vier a se enveredar por caminhos pouco honestos? Nesse caso, o pai que se esforçava por ser honrado estará dispensado de sê-lo ao ver desmoronar a única sustentação de sua honestidade?
Outros, não poucos, também se esforçam por ser honestos de modo a ter uma boa reputação. Penso que isso também é um motivo muito forte. Afinal, quem não gosta de ser estimado por seus semelhantes. Porém, acredito que a boa fama também não é uma razão suficientemente forte. Isso porque há muitas pessoas honradas e radicalmente honestas que, num determinado momento de suas vidas, são injustamente caluniadas e difamadas, fazendo ruir toda sua reputação sem qualquer culpa de sua parte. Será que essa pessoa que viesse a passar por tal desgosto poderia se queixar, com ar melancólico, que não valeu a pena ter sido sempre honesta?
E o ambiente em que se vive, exerce alguma influência nisso? Ou melhor, ser ou não ser honesto depende das circunstâncias e do meio em que estamos inseridos? Há quem sustente que uma “falcatruazinha” aqui, uma “gorjetinha” ali, uma “propina inocente” não fazem mal a ninguém, afinal, dizem de si para si, tentando se justificar, “todo mundo faz isso”. Essa desculpa de que todos fazem isso, no mais das vezes, é inventada pelo desonesto para justificar, talvez consigo mesmo, sua desonestidade, numa tentativa de anestesiar a própria consciência. Porém, ainda que seja assim mesmo, ou melhor, acaso se esteja inserido numa repartição pública, num departamento de uma empresa ou em uma associação em que a corrupção é generalizada, nesse caso, seria correto fazer o que todos fazem? Penso que não.
Há ainda uma situação em que é especialmente difícil para a pessoa honesta. Ocorre quando os corruptos parecem se dar bem, e seguem impunes, apesar de denúncias comprovadas de irregularidades. Nesse caso, não é raro que aquele que é honesto se questione dizendo “eu aqui com toda dificuldade para pagar minhas contas, tendo de negar aos meus filhos o que lhes seria útil por não ter dinheiro, e aquele safado lá nadando no dinheiro sujo impunemente...”. Ainda que essas situações sejam verdadeiramente revoltantes, penso que também nelas vale a pena manter a honradez.
E o que justifica sempre e em qualquer ocasião a radical opção pela honestidade é a própria consciência. A sós, no silêncio de nosso interior, é que encontramos a resposta a todas essas indagações. Um dos exemplos mais eloqüentes dessa radical opção por seguir a voz da consciência foi dado Thomas More. Depois de ocupar altos cargos no Reino Inglês, ele se indispôs com o rei e foi condenado à morte por não prestar um juramento que feria sua consciência. E caminhou até o lugar em que foi decapitado resoluto e sereno. Com a paz que somente tem quem não encontra dentro de si próprio nada que o acuse.

A todas essas indagações que agora nos fazemos, esse grande homem diria que não é uma utopia, que vale a pena. Vale a pena ser honesto sempre e em qualquer circunstância, e por toda a vida. É que a felicidade depende muito da fidelidade com que seguimos a voz da nossa consciência.

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