Em reportagem publicada no Correio Popular no
penúltimo domingo, dia 24 de fevereiro, o servidor municipal Luis Messias fez
um desabafo: “O preço que se paga para ser honesto em Campinas pode ser alto”.
Não temos o propósito de comentar o incidente. Mas dessa sua afirmação
poderíamos tirar um tema para reflexão: vale a pena ser honesto? Mais que isso,
vale a pena ser honesto em qualquer circunstância?
Há alguns anos, conversava com um grande amigo sobre esse
assunto. Ele comentava que, no seu modo de pensar, deve se esforçar por
trabalhar bem e, acima de tudo, ser radicalmente honesto. “Se não for assim”,
argumentava ele, “quando meu filho crescer, poderá descobrir o que eu não fiz
de bom, e então como ficarei diante dele?”. Penso que o motivo que ele
encontrou para levar uma vida honrada é muito forte, afinal, trata-se de dar
bom exemplo ao filho. Mas será suficiente para sustentar uma postura durante
toda uma vida? E se, por desgraça, apesar da boa educação, o filho vier a se
enveredar por caminhos pouco honestos? Nesse caso, o pai que se esforçava por
ser honrado estará dispensado de sê-lo ao ver desmoronar a única sustentação de
sua honestidade?
Outros, não poucos, também se esforçam por ser
honestos de modo a ter uma boa reputação. Penso que isso também é um motivo
muito forte. Afinal, quem não gosta de ser estimado por seus semelhantes.
Porém, acredito que a boa fama também não é uma razão suficientemente forte.
Isso porque há muitas pessoas honradas e radicalmente honestas que, num
determinado momento de suas vidas, são injustamente caluniadas e difamadas,
fazendo ruir toda sua reputação sem qualquer culpa de sua parte. Será que essa
pessoa que viesse a passar por tal desgosto poderia se queixar, com ar
melancólico, que não valeu a pena ter sido sempre honesta?
E o ambiente em que se vive, exerce alguma influência
nisso? Ou melhor, ser ou não ser honesto depende das circunstâncias e do meio
em que estamos inseridos? Há quem sustente que uma “falcatruazinha” aqui, uma
“gorjetinha” ali, uma “propina inocente” não fazem mal a ninguém, afinal, dizem
de si para si, tentando se justificar, “todo mundo faz isso”. Essa desculpa de
que todos fazem isso, no mais das vezes, é inventada pelo desonesto para
justificar, talvez consigo mesmo, sua desonestidade, numa tentativa de
anestesiar a própria consciência. Porém, ainda que seja assim mesmo, ou melhor,
acaso se esteja inserido numa repartição pública, num departamento de uma
empresa ou em uma associação em que a corrupção é generalizada, nesse caso,
seria correto fazer o que todos fazem? Penso que não.
Há ainda uma situação em que é especialmente difícil
para a pessoa honesta. Ocorre quando os corruptos parecem se dar bem, e seguem
impunes, apesar de denúncias comprovadas de irregularidades. Nesse caso, não é
raro que aquele que é honesto se questione dizendo “eu aqui com toda
dificuldade para pagar minhas contas, tendo de negar aos meus filhos o que lhes
seria útil por não ter dinheiro, e aquele safado lá nadando no dinheiro sujo
impunemente...”. Ainda que essas situações sejam verdadeiramente revoltantes,
penso que também nelas vale a pena manter a honradez.
E o que justifica sempre e em qualquer ocasião a
radical opção pela honestidade é a própria consciência. A sós, no silêncio de
nosso interior, é que encontramos a resposta a todas essas indagações. Um dos
exemplos mais eloqüentes dessa radical opção por seguir a voz da consciência
foi dado Thomas More. Depois de ocupar altos cargos no Reino Inglês, ele se
indispôs com o rei e foi condenado à morte por não prestar um juramento que
feria sua consciência. E caminhou até o lugar em que foi decapitado resoluto e
sereno. Com a paz que somente tem quem não encontra dentro de si próprio nada
que o acuse.
A todas essas indagações que agora nos fazemos, esse
grande homem diria que não é uma utopia, que vale a pena. Vale a pena ser
honesto sempre e em qualquer circunstância, e por toda a vida. É que a
felicidade depende muito da fidelidade com que seguimos a voz da nossa
consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário