segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Suicídios

Na edição de quinta-feira da semana passada, o Correio Popular trouxe o relato de uma misteriosa série de enforcamentos de jovens, registrados em uma região remota do País de Gales. Penso que, quando nos deparamos com essas notícias, devemos nos questionar: o que cada um de nós pode fazer para reverter esse triste cenário?
É preocupante a indiferença que marca as relações entre as pessoas em nosso mundo. Será que os pais desses jovens do País de Gales não notaram que seus filhos eram infelizes? Há quanto tempo não teriam eles um brilho nos olhos e um sorriso na face que fossem espelho da paz e alegria que deveriam reinar em seus corações? O que fizeram para que seus filhos encontrassem um sentido para suas vidas? Mais que isso, esses pais tinham um sentido para suas próprias vidas de modo a poder transmiti-lo aos filhos?
E o mesmo podemos nos indagar de cada um de nós. Entre os jovens, não haverá um colega de classe que se mantém isolado? Há alguém que se esforce por trazê-lo às rodas de amigos, ainda que ele pareça estranho ou chato? Os professores e coordenadores da escola estão atentos a isso, e se empenham em que esses jovens sejam compreendidos e integrados entre os amigos?
Isso também ocorre no nosso ambiente de trabalho. Não haverá um colega que se apresenta com um ar de tristeza? Por acaso sabemos o nome da esposa, ou do marido e dos filhos das pessoas que trabalham conosco? Sabemos quais são seus problemas e o que os afligem? Ao menos olhamos para eles para ver se seus olhos denunciam uma tristeza, algo que lhes faça sofrer?
Quantas vezes essas doenças da alma se curam apenas pelo fato de um amigo se dispor a escutar com atenção, por alguns minutos, os problemas por que estejam passando!
E como são nossas relações de amizade? Nossos amigos são apenas companheiros com quem dividimos a cerveja, jogamos tênis ou contamos para se ter um número a mais no time de futebol? Ou, mais que isso, interessamos por seus problemas? Sabemos ouvi-los com atenção?
Mas voltemos ao País de Gales. Todos sabemos a influência decisiva que teve o cristianismo na história da Europa e, por conseqüência, também na nossa com a colonização européia. Nos últimos tempos, porém, de uma forma velada, com uma certa astúcia, mas com atitudes bem concretas, procura-se tirar Deus da vida das pessoas, ou, quando menos, relegá-lo a uma dimensão estritamente privada da vida de cada um. Uma manifestação clara disso é o empenho que fazem em retirar os crucifixos dos locais públicos. Há de se indagar, porém, a esses arautos do ateísmo, o que pretendem eles colocar em lugar de Deus no coração desses jovens que, por não verem sentido verdadeiro e suficientemente convincente para suas vidas, buscam aniquilá-la.

Há que se dizer bem claro, em alto e bom tom: essas crises existenciais são crises pela falta de Deus. Tenta-se colocar outras coisas nos corações dos jovens e das pessoas em geral. Porém, tal como ocorre quando se tenta encaixar uma peça errada no lugar errado de um quebra-cabeça, a peça não entra, e o conjunto fica incompleto. Assim ocorre com o ser humano. A peça principal a ser colocada bem no centro de sua existência é Deus, de quem somos filhos, e por quem buscamos, para que tenhamos um sentido a nossas vidas. Quando falta essa Peça, nada faz sentido, por mais que se tente por outras no seu lugar. Porém, quando Ela é colocada no devido lugar, tudo se “encaixa”. E ninguém pensaria em destruir esse quebra-cabeça, exceto quando Ele próprio nos convidar para irmos, por Amor, à Sua morada.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Ética na Justiça

Tem causado certa perplexidade a oferta à Justiça Federal pelo traficante colombiano, Juan Carlos Ramírez Abadía, no sentido de entregar à União federal US$ 35 milhões (R$ 60,7 milhões), que estariam escondidos no Brasil, em troca de benefícios que lhe seriam concedidos em processo penal. Não pretendo tecer comentários sobre o caso em si. É que estou impedido por Lei. E, ademais, há anos que não exerço a judicatura na área criminal, de modo que nem teria atualizados conhecimentos técnicos para tanto.
Mas ocorre que, dentre as críticas dirigidas à decisão, está a que afirma que o dinheiro poderia ser muito bem utilizado em obras sociais de notório interesse público. Esse argumento nos coloca diante de uma indagação de forte conotação ética: até que ponto as vantagens econômicas imediatas devem influir nas decisões judiciais? E essa indagação nos remete para outras que, no fundo, caem em um ponto essencial a ser enfrentado pelo juiz: os fins justificam os meios?
É inegável que o juiz sofre diversas influências, externas e internas, que são determinantes em suas decisões. Quando se está para proferir uma decisão que causa repercussão, chegam até ele os rumores e as ansiedades, dentre outros, dos repórteres que aguardam ávidos pela “novidade”. E mesmo que não se tenham maiores repercussões, o próprio sofrimento dos envolvidos, o clamor por justiça pelas partes também não lhe é indiferente. Além disso, como homem (ou mulher), o juiz sofre as influências internas. O fato de ter passado por situação semelhante à das partes envolvidas, suas convicções e suas experiências de vida também são determinantes no momento de decidir.
Nesse contexto, qual seja, cada juiz tem experiências de vida, convicções e cultuam valores diferentes, como se pode pretender que as decisões sejam justas? Penso que para isso é necessário que o julgador paute suas decisões pela Lei e por sua consciência. Mas esse critério, por si só, não é suficiente. É que a lei sempre está sujeita a interpretações diferentes, as quais são ditadas pelos fatores que mencionamos. E tampouco a consciência será determinante para se proferirem decisões justas, pois as consciências poderão não estar bem-formadas.
Penso que não há como se equacionar esse problema sem se aceitar a existência de um direito natural, gravado de forma indelével no coração do homem e na própria natureza das coisas. É que essa norma, que antecede às leis dos Estados, deve não somente nortear a elaboração das leis pelo legislador, como influenciar o julgador ao aplicar a lei. Mais que isso. O próprio juiz há de bem formar a sua consciência, desvendando cada vez mais e melhor o que diz essa lei natural em cada situação que tem diante de si.
E quando se busca, de boa-fé, crescer no conhecimento dessa lei natural, desvendam-se algumas regras fundamentais, dentre as quais se pode destacar que: nunca é permitido fazer o mal para que daí advenha um bem; tudo quanto quer que os outros façam conosco, devemos nós próprios fazer a eles; há de se ter um profundo respeito pela consciência do próximo, em especial, daqueles que pensam diferente de nós, o que não quer dizer que se deva aceitar como um bem aquilo que é objetivamente um mal.

Diante disso, penso que nem trinta e cinco milhões de dólares, nem todo o dinheiro que existe no mundo, ainda que a pretexto de trazer um grande bem a muitas pessoas, não justifica um ato sequer, por menor que seja, que contrarie os ditames da consciência. Dizem por aí que “todo homem tem seu preço”. Talvez isso tenha um fundo de verdade. Mas há aqueles em cujos bolsos só entram uma espécie de moeda: aquela cuja fonte foi criteriosamente investigada por uma consciência bem formada.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cartões de Natal

Ocupando-me em retirar da mesa os enfeites natalinos, distraí-me relendo alguns cartões que recebi, como que procurando algo de comum neles. Grande parte deles continha desejos de prosperidade para o Ano Novo. Quase todos falavam de paz e felicidade. Alguns deles pediam saúde no ano vindouro. Disso tudo que nos disseram nas mensagens de um feliz ano novo, o que será verdadeiramente importante e imprescindível? Penso que esses questionamentos são muito proveitosos sempre que se inicia uma nova etapa (ou um novo ano) em nossas vidas.
Será imprescindível a prosperidade? Mas o que é e o que se entende por uma vida próspera? Será ganhar bastante dinheiro, ter um bom emprego, adquirir os bens a que aspiramos, tais como casa, carro, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos?
Tudo isso são coisas boas. No mais das vezes, necessárias ou ao menos úteis em nossas vidas. No entanto, se nos faltar, seremos infelizes por isso? Se perdermos o emprego, sofrermos um revés econômico, ou, se simplesmente não realizarmos esses sonhos de consumo, poderemos dizer, ao final do ano, que 2008 foi um fracasso? Penso que não. É muito comum os casais, após anos de vida em comum, quando já possuem uma situação econômica mais confortável, olham para traz, nos tempos do começo do casamento, e lembram do apartamento minúsculo que moravam, dos apertos que passaram, das dificuldades que souberam enfrentar com valentia e, nem por isso, pensam que foram anos infelizes. Foram difíceis, por certo, mas guardam deles uma doce lembrança, quiçá exclamando: “como éramos felizes apesar de tudo!”.
Será, então, a saúde o que nos é mais importante, sem o que não seremos felizes no próximo ano? Quase todos nós já dissemos ou ouvimos algo semelhante a isso: “o importante é ter saúde. Do resto, a gente dá um jeito”. Mas será mesmo assim?
No dia 31 de dezembro de 2007, em uma celebração de final de ano, tive o privilégio de observar uma mãe com um filho com uma deficiência física. Pelo jeito, não tinha movimento nos braços, nem nas pernas, de modo que quase que vegetava em sua cadeira. Apesar disso, tinha o garoto um semblante sereno e alegre. E, quando olhava para sua mãe, essa lhe devolvia um sorriso terno e afetuoso, tanto que é impossível descrevê-lo. Seria verdadeiramente de se invejar aquele garoto, que apesar da sua imensa limitação física, possui uma mãe assim. Ela escondia em sua face jovial e alegre os muitos sofrimentos que por certo a vida lhe trouxe. Não acredito que essa mãe considere a saúde como imprescindível para a felicidade. Ao menos não é o que diziam seus olhos e os de seu filho que, no último dia do ano, davam um exemplo eloqüente de paz e felicidade que não se encontra e muitas pessoas nas quais sobra “saúde”.
Será então paz e felicidade o que é verdadeiramente imprescindível? Penso que sim. Porém, como encontrá-las? Será na ausência de contratempos, contrariedades e acontecimentos indesejáveis?
Gosto muito de recordar o que ocorreu com um amigo. Contou-me ele que, desde quando acordou até o cair da tarde, tudo lhe deu errado: o carro quebrou, tomou chuva no ponto de ônibus, o chefe estava de mau humor e lhe fazendo críticas azedas, a esposa, por mais de uma vez, telefonou-lhe se queixando de coisas da casa. Ao final do dia, ele pensava: “com isso tudo, não dá para estar em paz?” Porém, logo em seguida, veio-lhe uma inspiração que deu um novo rumo a sua vida. Pensou ele: “Quem é que deu ao carro, ao clima, ao chefe ou mesmo a minha esposa o direito de me tirar a paz?”. “Não”, concluiu ele, “somente eu é que a posso perder se não souber reagir bem a tudo isso”.
De fato, todos esses acontecimentos aparentemente ruins por que passamos em nossas vidas, podem ser oportunidades que temos de sermos pessoas melhores, mais maduras, mas experientes, com uma felicidade construída em alicerces mais sólidos.

E é isso o que desejo sinceramente a todos neste Novo Ano: a paz e a felicidade que os acontecimentos deste ano não nos podem tirar, porque plantadas com boa semente bem no íntimo de nossos corações.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Férias

Um caro amigo e leitor enviou-me um texto que merece ser lido e meditado:
“A professora Ana Maria pediu aos alunos que fizessem uma redação sobre o que eles gostariam que Deus fizesse por eles. À noite, corrigindo as redações, ela se depara com uma que a deixa muito emocionada. O marido, nesse momento, acaba de entrar, a vê chorando e lhe pergunta: “O que aconteceu?”. “Leia” [Era a redação de um menino]:
“Senhor, esta noite te peço algo especial: me transforme em um televisor. Quero ocupar o seu lugar. Viver como vive a TV da minha casa. Ter um lugar especial para mim e reunir a minha família ao redor. Ser levado a sério quando falo. Quero ser o centro das atenções e ser escutado, sem interrupções nem questionamentos. Quero receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe quando não funciona. E ter a companhia do meu pai quando ele chega em casa, mesmo que esteja cansado. E que minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de ignorar-me. E ainda, que meus irmãos briguem para estar comigo. Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para passar alguns momentos comigo. E, por fim, que eu possa divertir a todos. Senhor, não te peço muito..... só quero viver o que vive qualquer televisor”.
“Coitado desse menino”, disse o marido da professora Ana Maria. “Nossa! Que coisa esses pais!” E ela lhe observa: “ESSA REDAÇÃO É DO NOSSO FILHO”. (Revista “Pergunte e Responderemos n° 542 – pág. 367, de ago/2007).
Sempre é tempo de nos examinarmos sobre como estamos nos dedicando à educação de nossos filhos. Durante as férias escolares, porém, penso que deveríamos nos esmerar mais nisso. É que durante esse tempo de lazer podemos fazer programas agradáveis, como passeios a um parque, andar de bicicleta, soltar pipa etc. Nesses momentos, é muito mais fácil ganhar intimidade com nossos filhos. E somente podemos ajudá-los em sua formação se os conhecemos de verdade.
Isso não quer dizer, porém, que o pai e a mãe devam se colocar no mesmo nível do filho. Há muitos pais que, numa tentativa de ser agradável, esforçam-se por se portar como as crianças, ou como os jovens, falando gírias, vestindo-se como eles, enfim, querendo ser um “amiguinho”. No entanto, para ganhar intimidade com o filho (ou com a filha), não é preciso nada disso. O pai há de se portar como pai, e a mãe, como mãe. Isso implica corrigir, quando necessário, mas de forma positiva, com firmeza e ao mesmo tempo com docilidade e ternura.
Nossos filhos esperam que os tratemos com respeito, com lealdade, que nos interessemos de verdade por aquilo que eles pensam e gostam. Mas acima de tudo, eles querem que sejamos pessoas alegres e serenas. Os jovens e as crianças não gostam, ao contrário, afastam-se de pessoas sisudas, carrancudas, sempre repetindo a mesma coisa “antigamente, tudo era melhor...”.
As férias são sempre uma oportunidade irrepetível para crescer em amizade com os nossos filhos. Mas isso não ocorre naturalmente. Nós, pais, temos de nos esforçar para estar com eles. Há que se planejar, há que se esforçar. Se necessário, o pai e a mãe devem estar disposto a renunciar, de boa vontade, as suas preferências para tornar mais amável o convívio com os filhos.
Se perguntassem aos nossos filhos, a exemplo da redação daquele garoto, o que lhes rouba a atenção dos pais, o que eles responderiam? A TV? A cervejinha com os amigos? O trabalho incessante, mesmo nas férias?

Já se disse de forma muito sábia que não há sucesso profissional que compense o fracasso no lar. Penso, portanto, que o melhor trabalho que podemos desempenhar em nossas férias seja investir no melhor e mais valioso negócio que temos: a nossa família.