Há poucos dias, li um triste comentário de um leitor
acerca da situação da juventude atual. Dizia ele que há uma "doença"
entre os jovens: a baixa auto-estima. Ela tem destruído suas vidas, os
transformado em viciados, rebeldes, sem perspectiva de vida.
O que será que faz com que as vidas das pessoas perca
o sabor? Amanhã é Natal. É tempo de festa, de confraternização, de alegria.
Curiosamente, porém, é tempo também em que nos questionamos mais profundamente.
Pensamos nos rumos que temos dado às nossas vidas. E, não raras vezes, sem o
sabermos, procuramos explicações mais consistentes acerca de nós mesmos: De
onde vim? Para onde vou? O que devo e o que não devo fazer?
Estamos de passagem neste mundo. Portanto, um
ingrediente imprescindível nesta caminhada é a esperança.
Para entendermos a importância de termos esperança,
podemos comparar nossa trajetória nesta vida como uma viagem que fazemos.
Tomemos como exemplo dois passageiros que ocupam poltronas vizinhas em um
avião. Ambos vão para um lugar que não conhecem, que nunca pisaram antes. O
primeiro, muito otimista, sabe dar asas à imaginação. Enquanto viaja, pensa em
como será o aeroporto do destino, imagina os lugares aprazíveis que o espera
naquela cidade, pensa no passeio que poderá fazer ao pôr-do-sol. O outro,
extremamente pessimista, pensa que sua vida se limita à viagem, e tenta
distrair o pensamento, pois pensa que, ao final, a aeronave irá se chocar contra
um rochedo, quando então tudo acabará tragicamente.
A viagem de ambos os passageiros é a mesma. Ambos
terão os mesmos incômodos do assento, os mesmos cansaços, as mesmas dificuldades
de dormir etc. Porém, aquele que pensa nas delícias do destino, ainda que
desconhecido, viaja alegre, sereno, pois sabe que a aventura vale a pena. O
outro, ao contrário, cuidará apenas de escolher o melhor prato a ser servido,
pois afinal, em breve não poderá mais se deliciar com comidas. Não perderá
tempo em escutar os problemas dos outros, afinal, os momentos existem, pensa
ele, para serem curtidos para si. Ele se irritará facilmente com qualquer
incômodo, pois a viagem é curta e, se ao final tudo acabará, então não tem
tempo a perder com os problemas dos outros. Ambos, portanto, estão na mesma
viagem, mas o primeiro segue muito melhor que o segundo. E o motivo é muito
simples. É que o primeiro tem esperança.
Com palavras simples e profundas, é isso, dentre
muitas outras verdades, o que o Papa Bento XVI expõe em sua última encíclica, Salvos pela Esperança. Partindo da carta
de São Paulo aos Tessalonicenses, o Santo Padre aponta “(...) como elemento distintivo dos cristãos o facto de estes
terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em
termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. Somente quando o futuro é
certo como realidade positiva, é que se torna vivível também o presente”. E em
seguida conclui que “o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que
se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta
tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança,
vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova”.
Mas os mais céticos e incrédulos, para não dizer
desesperançados, poderiam ainda questionar: que garantia temos de que a viagem
não termina de fato num choque contra um rochedo, ou, como preferir, num
tenebroso vazio?
A garantia que temos é o nascimento do Menino, que
amanhã celebramos. O Seu nascimento fez com que os Magos viajassem muitos dias
em busca da estrela que O apontava. Por certo a viagem foi penosa, mas eles a
percorreram com alegria, afinal, buscavam ver a causa de sua alegria. Esse
Menino sempre trouxe alegria. Já desde o ventre de Sua Mãe fez João Batista saltar de
júbilo nas entranhas de Isabel. Já adulto, quando Ele já se despedia dos seus
que ficariam neste mundo, disse-lhes com todas as letras: “Eu hei-de ver-vos de novo; e o vosso coração alegrar-se-á e
ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”.
Um feliz Natal a todos! Que
seja esse o Natal da verdadeira esperança. E, com ela, que tenham também a alegria.
A alegria perene que se edifica nos corações daqueles que sabem que são filhos
de Deus.
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