segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Celibato, amor e ..., o Jabor

Em recente artigo publicado, o jornalista Arnaldo Jabor fez duras críticas ao celibato, à Igreja Católica e ao próprio Papa. Em sua matéria, Bento XVI foi taxado de “burocrático, implacável, com seus olhos duros e cruéis”. Confesso que, como cristão católico, as críticas injustas e grosseiras ao Santo Padre doem como uma cusparada atirada na face de um pai.
Diante disso, o primeiro impulso é de devolver a ofensa no mesmo nível. Porém, não sem esforço, consegui conter-me. E obtive tal êxito por dois motivos. Primeiro porque admiro o Jabor, que com incansável esforço defende a ética e o resgate de valores tão em desuso em nossa nação. Segundo, e principalmente, porque me calhou de ler as palavras do primeiro Papa, escrita há quase dois milênios, que são muito claras acerca da forma que devemos nos portar em situações como essas:
“Glorificai Cristo Senhor em vossos corações, sempre prontos para responder a todo aquele que vos pedir a razão da vossa esperança; mas fazei isso com doçura e respeito, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que vos caluniam sejam confundidos aqueles que difamam a vossa boa conduta em Cristo” (Primeira Carta de São Pedro, Cap. 3, 15-16). Assim, como há muito defende a Igreja, passo a responder às críticas com respeito.
Ao contrário do que afirma o Jabor, a pedofilia não tem como causa a castidade a que são chamados todos os cristãos, mas exatamente na falta dela. Aliás, é a mais alta expressão da falta de pureza de coração.
Cada um sabe da luta pessoal nesse assunto.  Mas, há dezesseis anos casado com a mesma esposa, causa-me muita alegria e paz considerar a fidelidade vivida nesses anos todos.
Como é bom chegar à casa ao final do dia e receber os abraços de crianças que se atiram ao pescoço do pai e beijá-las com a serenidade de quem não teve olhos para outra mulher que não a mãe deles. O não olhar para o outdoor, para a “barriguinha de fora” de jovens sedutoras, o fazer-se de desentendido diante de insinuações de mulheres bonitas não causam irritação, cara amarrada, ou algo do tipo. Ao contrário, ao passar por tudo isso por amor a uma esposa a quem um dia se jurou que é para sempre, faz sentir uma fantástica sensação de vitória. É como que se conseguisse guardar o coração em uma caixa de ouro, bem fechada e, ao final do dia, entregar a ela a chave e dizer: “meu amor, é só para você, abra!”.
Penso que é isso a castidade vivida no casamento. Mas há também a castidade que se vive no celibato. E, em boa matemática, não é muito grande a diferença. Se considerarmos que o mundo tem 6 bilhões de pessoas (não sei se esse número é real). Se considerarmos ainda que metade disso é mulher, a diferença entre um homem casado e um celibatário é que o primeiro não tem olhos para 2.999.999.999 mulheres e o segundo para três bilhões. Mas ambos vivem isso, não de mãos trêmulas e ares carrancudos. É que somente quem mantém os instintos submetidos à razão é que podem ser donos de si e, por sê-lo, doarem-se aos demais. E não há alegria e paz maior que a vivida por aqueles que se dão generosamente aos demais.
Em sua homilia, pronunciada durante a canonização do Frei Galvão, o Papa Bento XVI, com a voz carregada de emoção, disse às mais de oitocentas mil pessoas presentes: “o Papa vos ama, porque Cristo vos ama”. E a multidão foi ao delírio. Com o carinho bem brasileiro, respondiam: “Bento, Bento...”. Ninguém, exceto os de olhos turvos e mal-intencionados, via ali um Papa burocrático, nem muito menos de olhos duros ou cruéis. Viam um pai amoroso e zeloso por dizer aos filhos, com todas as suas forças, o caminho da verdadeira felicidade.
É antiga a incompreensão acerca da castidade que a Igreja Católica prega desde sempre. O primeiro Papa já nos advertia: “Pois já basta que no tempo passado tenhais feito a vontade dos gentios, entregando-vos à libertinagem, às paixões, à embriaguez, aos excessos do comer e do beber, e à abominável idolatria. Por isso é que os infiéis estranham agora que não os acompanheis nessa libertinagem desenfreada, e enchem-vos de calúnias” (1 Pedro, 4, 3-4).

Como é insuportável ao mundo os que se portam de forma coerente com a fé cristã! Pedro, o primeiro Papa, foi martirizado. Bento XVI, o Papa atual, é criticado injustamente. Mas em um ponto, o Jabor tem razão: é inútil tentar mudar as regras milenares. É que a verdade perdura desde sempre e para sempre, gostem ou não aqueles que, talvez por maus exemplos de pessoas da própria Igreja, jogaram fora a sua fé.

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