Em recente artigo publicado, o jornalista Arnaldo
Jabor fez duras críticas ao celibato, à Igreja Católica e ao próprio Papa. Em
sua matéria, Bento XVI foi taxado de “burocrático, implacável, com seus olhos
duros e cruéis”. Confesso que, como cristão católico, as críticas injustas e
grosseiras ao Santo Padre doem como uma cusparada atirada na face de um pai.
Diante disso, o primeiro impulso é de devolver a
ofensa no mesmo nível. Porém, não sem esforço, consegui conter-me. E obtive tal
êxito por dois motivos. Primeiro porque admiro o Jabor, que com incansável
esforço defende a ética e o resgate de valores tão em desuso em nossa nação.
Segundo, e principalmente, porque me calhou de ler as palavras do primeiro
Papa, escrita há quase dois milênios, que são muito claras acerca da forma que
devemos nos portar em situações como essas:
“Glorificai Cristo Senhor em vossos corações, sempre
prontos para responder a todo aquele que vos pedir a razão da vossa esperança;
mas fazei isso com doçura e respeito, tendo uma boa consciência, para que,
naquilo em que vos caluniam sejam confundidos aqueles que difamam a vossa boa
conduta em Cristo” (Primeira Carta de São Pedro, Cap. 3, 15-16). Assim, como há
muito defende a Igreja, passo a responder às críticas com respeito.
Ao contrário do que afirma o Jabor, a pedofilia não
tem como causa a castidade a que são chamados todos os cristãos, mas exatamente
na falta dela. Aliás, é a mais alta expressão da falta de pureza de coração.
Cada um sabe da luta pessoal nesse assunto.
Mas, há dezesseis anos casado com a mesma esposa, causa-me muita alegria
e paz considerar a fidelidade vivida nesses anos todos.
Como é bom chegar à casa ao final do dia e receber os
abraços de crianças que se atiram ao pescoço do pai e beijá-las com a
serenidade de quem não teve olhos para outra mulher que não a mãe deles. O não
olhar para o outdoor, para a “barriguinha de fora” de jovens sedutoras, o fazer-se
de desentendido diante de insinuações de mulheres bonitas não causam irritação,
cara amarrada, ou algo do tipo. Ao contrário, ao passar por tudo isso por amor a
uma esposa a quem um dia se jurou que é para sempre, faz sentir uma fantástica
sensação de vitória. É como que se conseguisse guardar o coração em uma caixa
de ouro, bem fechada e, ao final do dia, entregar a ela a chave e dizer: “meu
amor, é só para você, abra!”.
Penso que é isso a castidade vivida no casamento. Mas
há também a castidade que se vive no celibato. E, em boa matemática, não é
muito grande a diferença. Se considerarmos que o mundo tem 6 bilhões de pessoas
(não sei se esse número é real). Se considerarmos ainda que metade disso é
mulher, a diferença entre um homem casado e um celibatário é que o primeiro não
tem olhos para 2.999.999.999 mulheres e o segundo para três bilhões. Mas ambos
vivem isso, não de mãos trêmulas e ares carrancudos. É que somente quem mantém
os instintos submetidos à razão é que podem ser donos de si e, por sê-lo,
doarem-se aos demais. E não há alegria e paz maior que a vivida por aqueles que
se dão generosamente aos demais.
Em sua homilia, pronunciada durante a canonização do
Frei Galvão, o Papa Bento XVI, com a voz carregada de emoção, disse às mais de
oitocentas mil pessoas presentes: “o Papa vos ama, porque Cristo vos ama”. E a
multidão foi ao delírio. Com o carinho bem brasileiro, respondiam: “Bento,
Bento...”. Ninguém, exceto os de olhos turvos e mal-intencionados, via ali um
Papa burocrático, nem muito menos de olhos duros ou cruéis. Viam um pai amoroso
e zeloso por dizer aos filhos, com todas as suas forças, o caminho da
verdadeira felicidade.
É antiga a incompreensão acerca da castidade que a
Igreja Católica prega desde sempre. O primeiro Papa já nos advertia: “Pois já
basta que no tempo passado tenhais feito a vontade dos gentios, entregando-vos
à libertinagem, às paixões, à embriaguez, aos excessos do comer e do beber, e à
abominável idolatria. Por isso é que os infiéis estranham agora que não os
acompanheis nessa libertinagem desenfreada, e enchem-vos de calúnias” (1 Pedro,
4, 3-4).
Como é insuportável ao mundo os que se portam de
forma coerente com a fé cristã! Pedro, o primeiro Papa, foi martirizado. Bento
XVI, o Papa atual, é criticado injustamente. Mas em um ponto, o Jabor tem
razão: é inútil tentar mudar as regras milenares. É que a verdade perdura desde
sempre e para sempre, gostem ou não aqueles que, talvez por maus exemplos de
pessoas da própria Igreja, jogaram fora a sua fé.
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