Há poucas semanas, tive a grata satisfação de
participar de uma palestra, promovida pela FEAC, na qual discorremos sobre o
tema da ética. É curioso notar que, quanto mais se nos chegam as notícias de
desmandos e escândalos nos meios políticos, mais se acende o interesse em
resgatar a dignidade, a honestidade e a honradez nos mais diversos segmentos de
nossa sociedade, mas muito especialmente, entre os ocupantes de cargos
públicos. Nesse intento, porém, o grande problema que se coloca é como conseguir
isso. Ou seja, o que pode e o que deve ser feito para que se resgate a ética?
Para construirmos uma resposta com a profundidade que
esse assunto merece, penso que o primeiro ponto seja definirmos muito bem o que
é ética. Não é esse o local adequado, contudo, para profundos debates
filosóficos. Ao contrário, esse objetivo concreto de resgatar a honestidade
depende de considerações a ações muito práticas.
Nessa linha, em uma abordagem muito singela, pode-se
dizer que á duas modalidades de leis distintas: a lei física e a lei ética. A
primeira é a lei do “ser”, ou seja, explica os fenômenos naturais tais como
eles são. Por exemplo, através da lei da gravidade sabemos que um corpo é
atraído pelo outro. Não há como descumprir essa lei. Se alguém atirar um objeto
do alto de um edifício, ele certamente virá ao solo, a menos que outra força
aja sobre ele em sentido contrário.
A ética é a lei do “dever ser”, exatamente porque ela
se aplica exclusivamente aos seres racionais, vale dizer, ao homem e à mulher,
como seres dotados de inteligência e vontade. Tomemos como exemplo a lei ética
que preceitua que devermos dar a cada um o que lhe é devido. Essa lei,
exatamente porque dirigida a seres humanos livres pode ser cumprida ou não. Ou
seja, a lei diz que devemos dar a cada um o que é seu. Todos estão obrigados a
isso. Porém, como o ser humano é livre, diante de uma situação qualquer, pode
fazer bom uso de sua liberdade e cumprir a lei, ou, ao contrário, pode abusar
de sua liberdade e descumprir a lei ética.
Assim como a lei física está como que gravada na natureza,
a lei ética está escrita no coração dos seres humanos, posto que a eles é
dirigida com exclusividade. Todo homem e toda mulher possui essa lei gravada de
forma indelével em seus corações.
Se é assim, porém, muitos de nós podemos nos
perguntar: se a lei ética está gravada em todos os seres humanos, como é que se
explica que haja bandidos que tiram a vida de seus semelhantes, ou mesmo
políticos inescrupulosos que roubam descaradamente o patrimônio público e deixam
o povo na mais absoluta miséria? Terão essas pessoas apagado a lei ética? Não.
Não é possível apagar a lei ética, mas é possível que a deixemos na escuridão.
É que a lei está gravada em nossos corações, de tal
forma que não se pode excluí-la. Mas se pode deixá-la na escuridão. Nossa vida
é feita de muitas opções em relação às quais tomamos constantemente decisões.
Essas decisões podem ser de acordo ou contrárias à lei natural. Por exemplo,
uma pessoa percebe que alguém fez um depósito em sua conta bancária de um valor
que não é devido. É natural que se instaure um certo conflito: “devo devolver
esse dinheiro ou não?”. Virão considerações do tipo: “Será que terei eu de ser
bobo a ponto de devolver? Isso não fará a menor diferença para o banco. Afinal,
eles já ganham muito dinheiro”. Mas virão outras considerações: “Isso não é meu
e pronto. Tenho de devolver”. A lei natural aponta no sentido de dar a cada um
o que é seu. Se a pessoa age de acordo com a lei, ganhará mais luzes para guiar
suas vidas pela lei natural
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