Hoje é o dia nacional (Lei Federal nº. 11.433/06) e
internacional do idoso. Trata-se, portanto, de uma excelente oportunidade para
falarmos desses jovens ou velhos, pois a juventude e a jovialidade não dependem
da idade, que já trazem na face a doce ou amarga marca dos anos.
Exatamente há quatro anos, em 1º de outubro de 2003,
foi aprovado o chamado Estatuto do Idoso. Trata-se de um avanço e um marco
importante para se resgatar a dignidade do idoso. No entanto, a lei, por si só,
é insuficiente e pode esconder uma terrível hipocrisia. É que muitos podem
pensar que respeitar o idoso seja apenas garantir-lhe lugares privilegiados em
estacionamentos, nas filas de supermercados e transporte público gratuito. De
fato, tudo isso é importante e contribui para que se viva melhor nessa fase da
vida. Porém, é muito menos do deveríamos proporcionar-lhes.
A dignidade do idoso não pode ser assegurada exclusivamente
pelo Estado, nem muito menos pela simples edição de leis. Mais que isso, há de
ser proporcionada por todos.
Vivemos numa sociedade em que, dentre muitas
crueldades, simplesmente se descartam seres humanos. Por exemplo, os juízes e
funcionários públicos em geral se aposentam obrigatoriamente aos setenta anos.
No entanto, muitos deles, apesar da idade, possuem enorme experiência e vigor
suficiente para continuarem exercendo a função. Pior ainda é a situação do profissional
da iniciativa privada. É que, se tiver a desgraça de ficar desempregado após os
cinqüenta anos, passa por um verdadeiro calvário até conseguir (e se conseguir)
uma recolocação no mercado de trabalho. Por que disso? Será que é bom para
nossa sociedade de consumo descartar as pessoas como se descartam os
equipamentos eletrônicos sempre que surgem outros mais “modernos”?
Além do Estado e da sociedade, a dignidade do idoso
deve ser resgatada primordialmente pelos que com eles convivem. A vida moderna
impõe às pessoas um ritmo frenético, tudo é para ontem, tudo é urgente, tudo
tem de acontecer em frações de segundos. Engolidos por isso, muitos perdem o
hábito de parar e escutar as pessoas, de falar olhando no olho. No entanto, as
crianças e os idosos se ressentem muito disso. Vivem eles num ritmo em que
necessitam de serem ouvidos, sem pressa, sem olhares afobados e de canto de
olho para o relógio. E, no fim das contas, os cinco ou dez minutos em que
paramos para dialogar com eles é muito pouco no contexto geral de nossos dias.
É muito menos do que perdemos, diariamente, lendo e-mails inúteis ou navegando
por sites “interessantes” na internet.
Por fim, a dignidade do idoso depende dele próprio,
da postura que assumiu e assume diante da vida. Trata-se de reconhecer que
ninguém ganhou essa fantástica passagem por esta vida por acaso. Todos têm uma
missão que acompanha do primeiro ao último suspiro.
Tive, ou melhor, tenho um grande amigo que morreu
jovem aos mais de oitenta anos e que deixou uma brilhante lição de vida. Estava
ele com uma doença incurável no hospital e, como era muito querido, recebia várias
visitas. Certo dia, disse ele à enfermeira que o atendia: “Você sabe que sou um
homem muito rico?”. Ela, sem deixar de mexer na injeção que aplicaria,
respondeu: “ah, é?”. E o amigo concluiu: “a minha riqueza é a minha família: tenho muitos filhos, muitos netos e alguns bisnetos que agora me acompanham neste
momento. A enfermeira ficou muito impressionada com a serenidade com que ele
encarava os últimos momentos de sua vida. Dias antes de ele morrer, a enfermeira veio ter com ele e disse: “Eu gostaria de lhe agradecer. É que estou grávida e estava pensando em fazer um aborto. Mas, vendo o senhor com essa alegria e serenidade nesses momentos, eu voltei a acreditar na vida”. Trata-se de um jovem idoso que soube dar um sentido
maravilhoso até o último instante de sua vida.
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