segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Como escolher o colégio?

Nesses últimos meses do ano, costuma ser tormentosa para os pais a escolha do colégio em que os filhos estudarão no próximo ano. Muitos são os fatores a considerar. O preço deve caber no orçamento familiar. Porém, é necessário que se assegure a qualidade do ensino. E para complicar, muitos pais não têm condições de avaliar, numa simples conversa, se a instituição merece ou não a confiança.
O primeiro ponto a considerar é que não existe uma instituição de ensino ideal. É que cada qual tem as suas peculiaridades, de modo que a escolha deve ser feita segundo as expectativas que a família possui em relação ao colégio.
Antes de decidir a quem confiar parte da educação dos filhos, pai e mãe devem decidir o que eles próprios esperam dos filhos. Assim, se fôssemos surpreendidos com a pergunta “o que você espera de seu filho?”, o que responderíamos? É que, se os pais não sabem sequer onde querem chegar, como podem escolher uma instituição que os auxiliem nisso?
Não se trata de aprisionar os filhos em função do que sonhamos para eles, o que seria uma terrível violência. Aliás, a educação só é verdadeira se valorizar a assegurar, acima de tudo, a liberdade. Do contrário, não é educação, mas a mais detestável forma de opressão. Mas não tolhe a liberdade de nossos filhos estabelecer metas a serem atingidas no processo educativo, ao que eles poderão corresponder ou não, sempre livremente.
Da minha parte, confesso ao leitor que gostaria muito que meus filhos sejam cidadãos e cidadãs responsáveis e felizes. Não se pode negar que nós, pais, sonhamos com que sejam bons profissionais, seja qual for a profissão que escolherem. Se casarem, desejamos que sejam bons esposos, boas esposas, bons pais. Porém, acima de tudo, e isso é o que mais importa, é que descubram um sentido para suas vidas, e que tomem as decisões de forma coerente com essa descoberta. Pois é somente isso que os fará verdadeiramente felizes e que se sintam responsáveis por construir um mundo melhor no ambiente em que vivem: na família, na empresa, em suas relações sociais.
Muito bem. Mas definido onde se quer chegar, vem a segunda indagação: como atingir esse resultado? Quanto a isso, há de se considerar que pai e mãe são insubstituíveis, de modo que o colégio será sempre uma entidade que auxilia a família na educação dos filhos. Mas esse auxiliar é importantíssimo, afinal, ali deixaremos nosso maior tesouro, cada dia, por várias horas para ser formado. E, de certa forma, a tão sonhada felicidade de nossos filhos dependerá da formação que lhes for dada pelo colégio.
Assim, além de ser uma escola cuja mensalidade caiba no orçamento familiar, além dos ensinamentos técnicos, que devem capacitar nossos filhos para o futuro ingresso no mercado de trabalho, penso que seja de igual ou maior importância o trabalho de formação dos valores. Há de se indagar se ensinam os filhos a tomarem corretamente as suas decisões, a respeitar os direitos dos demais, a serem fortes e perseverantes na busca de seus ideais, a usarem adequadamente os materiais, sabendo compartilhá-los com os colegas.
E um bom método, para constatar se na escola se ensina isso, é observar o ambiente escolar. Como as pessoas se tratam entre si? É que é possível abrir um sorriso forçado sempre que chega pais novos interessados na matrícula. Porém, como é a cordialidade das pessoas entre si que ali trabalham? Respira-se um ar alegre e sereno? Há ordem e limpeza que entram pelos olhos?
Um excelente termômetro será os nossos próprios filhos, ao menos para avaliar se a escolha foi acertada. Então há que se perguntar: o meu filho gosta de ir para a escola? Afinal, quem foi que disse que a educação deve ser chata e maçante? As crianças se sentem felizes ali? É que se pode fingir um sorriso para os pais, mas não para as crianças a todo tempo que estão na escola. Quando converso com a professora ou com a coordenadora, percebo que ela conhece de verdade o meu filho?

Vivemos numa sociedade de consumo, na qual os consumidores estão cada vez mais exigentes. Porém, com relação aos filhos, por vezes ficamos procurando coisas externas, como brinquedos, roupa, tênis, e corremos o risco de não dar a devida atenção ao que verdadeiramente importa: a felicidade deles. E a escola desempenha um papel importantíssimo nesse objetivo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O terceiro tempo

Vivemos numa época em que as pessoas correm em ritmo frenético. Para a maior parte das pessoas, o trabalho intenso toma toda a manhã, a tarde, invadindo ainda parte da noite. Com relação à mulher, a situação é ainda mais angustiante, pois  além de trabalhar fora, é comum que recaia nas costas dela os cuidados da casa.
Nesse contexto, é imprescindível que os pais estejam atentos para garantir uma convivência familiar saudável. Isso implica programar bem o dia. Trata-se de começar e terminar o trabalho profissional na hora prevista, sem adiamentos. Há de se ter a fortaleza de terminar o expediente na hora prevista, custe o que custar. Afinal, o que há de mais importante na vida de um homem e de uma mulher do que a própria família.
Se houver ordem e o horário de trabalho for bem aproveitado, sem distrações com bobagens na internet ou sem nos excedermos nos “cafezinhos”, conseguiremos concluir nossos afazeres na hora prevista. Por conseqüência, disporemos de mais tempo no final do dia para estar com a esposa, com o marido e com os filhos.
Além do esforço por reservar um tempo diário para a família, mais importante ainda é cuidar da qualidade desse tempo. Há que se indagar: o que se faz em minha casa à noite? Cada um vai assistir a TV em seus quartos? O pai se enfurna no jornal e a mãe ou os filhos no msn? Que me desculpe o leitor, mas isso não é o cenário de uma verdadeira família. Ao contrário, mais se parece com o de uma espécie de hotel ou de albergue, em que se vive sob o mesmo teto, mas cada um cuidando de suas coisas, sem se preocupar o mínimo com os demais.
É imprescindível que haja momentos agradáveis na família. Que se esforcem por fazer a refeição juntos, e não cada um diante da TV. Que se tenham momentos para uma conversa descontraída, na qual cada um conte como foi o seu dia, se façam brincadeiras saudáveis, contem-se piadas, ou seja lá o que for, mas que se faça do lar um lugar em que haja prazer em ficar, pela alegria em que se vive, pelo esquecer-se de si e ocupar-se dos demais.
E nesse empenho em construir um ambiente saudável no lar, o marido tem de aprender a deixar para fora as preocupações com o trabalho. Sei de uma pessoa que, para estar alegre e vibrante à noite, no que ele chamava de terceiro tempo de trabalho, antes de entrar em casa, tocava com a ponta dos dedos um pequeno arbusto que havia defronte a porta, dizendo de si para si que deixava naquela pequena árvore todas as suas preocupações do trabalho, para apanhá-las somente no dia seguinte. É que queria que aqueles minutos fossem exclusivamente para a esposa e filhos.
E também a mulher tem de se esforçar por fazer aprazíveis a todos os momentos de convivência no lar. Vale a pena transcrever o trecho de um livro que muito pode ajudar o relacionamento familiar:
“Uma senhora tinha problemas em casa. Mal o marido chegava do trabalho, começavam a discutir. Uma amiga recomendou-lhe:
– Vá aconselhar-se com tal padre, que é um homem muito sábio.
Foi visitá-lo. O sacerdote escutou-a pacientemente e disse-lhe:
– Tenho o remédio para o seu problema.
E trouxe-lhe uma garrafa de água.
– É uma água maravilhosa: a água de São Geraldo. Quando o seu marido chegar, tome um gole desta água e fique com ela na boca pedindo a São Geraldo a paz do seu lar.
A experiência foi definitiva. A partir desse dia, a paz reinou na família. Mas – ai! – a água acabou. A mulher voltou a pedi-la, mas o bom padre disse-lhe, sorrindo:
– É água comum, pode pegá-la na torneira da sua casa. O importante é que fique com a água na boca, reze e... não fale!
O silêncio, a capacidade de escutar, são uma verdadeira água miraculosa que traz serenidade ao lar. É bom que se lembrem desta história não apenas as mulheres, mas também muitos homens...” (As Crises Conjugais, de Rafael Llano Cifuentes).

A harmonia no lar se constrói de pequenos esforços feitos por todos, todos os dias. Mas vale a pena. Afinal, quem não gostaria de transformar suas casas em lares que sejam remansos de paz e alegria, onde se passem bons momentos, onde se sinta feliz por simplesmente estar ali.

Ética

Há poucas semanas, tive a grata satisfação de participar de uma palestra, promovida pela FEAC, na qual discorremos sobre o tema da ética. É curioso notar que, quanto mais se nos chegam as notícias de desmandos e escândalos nos meios políticos, mais se acende o interesse em resgatar a dignidade, a honestidade e a honradez nos mais diversos segmentos de nossa sociedade, mas muito especialmente, entre os ocupantes de cargos públicos. Nesse intento, porém, o grande problema que se coloca é como conseguir isso. Ou seja, o que pode e o que deve ser feito para que se resgate a ética?
Para construirmos uma resposta com a profundidade que esse assunto merece, penso que o primeiro ponto seja definirmos muito bem o que é ética. Não é esse o local adequado, contudo, para profundos debates filosóficos. Ao contrário, esse objetivo concreto de resgatar a honestidade depende de considerações a ações muito práticas.
Nessa linha, em uma abordagem muito singela, pode-se dizer que á duas modalidades de leis distintas: a lei física e a lei ética. A primeira é a lei do “ser”, ou seja, explica os fenômenos naturais tais como eles são. Por exemplo, através da lei da gravidade sabemos que um corpo é atraído pelo outro. Não há como descumprir essa lei. Se alguém atirar um objeto do alto de um edifício, ele certamente virá ao solo, a menos que outra força aja sobre ele em sentido contrário.
A ética é a lei do “dever ser”, exatamente porque ela se aplica exclusivamente aos seres racionais, vale dizer, ao homem e à mulher, como seres dotados de inteligência e vontade. Tomemos como exemplo a lei ética que preceitua que devermos dar a cada um o que lhe é devido. Essa lei, exatamente porque dirigida a seres humanos livres pode ser cumprida ou não. Ou seja, a lei diz que devemos dar a cada um o que é seu. Todos estão obrigados a isso. Porém, como o ser humano é livre, diante de uma situação qualquer, pode fazer bom uso de sua liberdade e cumprir a lei, ou, ao contrário, pode abusar de sua liberdade e descumprir a lei ética.
Assim como a lei física está como que gravada na natureza, a lei ética está escrita no coração dos seres humanos, posto que a eles é dirigida com exclusividade. Todo homem e toda mulher possui essa lei gravada de forma indelével em seus corações.
Se é assim, porém, muitos de nós podemos nos perguntar: se a lei ética está gravada em todos os seres humanos, como é que se explica que haja bandidos que tiram a vida de seus semelhantes, ou mesmo políticos inescrupulosos que roubam descaradamente o patrimônio público e deixam o povo na mais absoluta miséria? Terão essas pessoas apagado a lei ética? Não. Não é possível apagar a lei ética, mas é possível que a deixemos na escuridão.

É que a lei está gravada em nossos corações, de tal forma que não se pode excluí-la. Mas se pode deixá-la na escuridão. Nossa vida é feita de muitas opções em relação às quais tomamos constantemente decisões. Essas decisões podem ser de acordo ou contrárias à lei natural. Por exemplo, uma pessoa percebe que alguém fez um depósito em sua conta bancária de um valor que não é devido. É natural que se instaure um certo conflito: “devo devolver esse dinheiro ou não?”. Virão considerações do tipo: “Será que terei eu de ser bobo a ponto de devolver? Isso não fará a menor diferença para o banco. Afinal, eles já ganham muito dinheiro”. Mas virão outras considerações: “Isso não é meu e pronto. Tenho de devolver”. A lei natural aponta no sentido de dar a cada um o que é seu. Se a pessoa age de acordo com a lei, ganhará mais luzes para guiar suas vidas pela lei natural

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Parabéns, mestre!

Hoje é o dia do professor. Excelente oportunidade, portanto, para meditarmos no papel que o educador deve desempenhar na construção de um mundo melhor.
Penso que um primeiro passo seja indagar qual é a missão do professor no mundo atual. Será que o professor do ensino médio, por exemplo, tem a obrigação de ensinar matemática, literatura, gramática, física etc, com competência e profundo conhecimento de sua área? Será que o professor do ensino infantil deve cuidar muito bem das crianças que lhes são confiadas? E o professor universitário, cabe a ele transmitir o que há de mais avançado em sua especialidade para que os seus alunos sejam destaques em suas profissões?
Não há dúvida de que se espera tudo isso do professor. Trata-se de exercer a sua profissão com grande competência e seriedade profissional, procurando transmitir o melhor e com a melhor técnica possível aos seus alunos.
Mas a missão do mestre é tão sublime e radicalmente importante em qualquer sociedade que, ainda que já seja muito exigir-lhes dedicação e competência na arte de ensinar, isso é ainda menos do que seus alunos têm direito de esperar deles. É que mais do que informar, ele tem o dever de formar.
A diferença entre informar e formar já se tornou quase que um jargão nos meios acadêmicos, de modo que há como que um desgaste entre os pedagogos na utilização desses termos. Apesar disso, penso que se deva insistir no assunto.
É que o professor tem diante de si seres humanos que contemplam um mundo que ainda não compreendem. Jovens e crianças que anseiam aprender, mas não buscam o conhecimento como um fim em si. Mais que isso, buscam um sentido para suas vidas. Penso, portanto, que o grande desafio do professor seja mostrar uma maravilhosa realidade que se esconde por trás de uma equação matemática. Trata-se de mostrar que, tal como dois mais dois são quatro, o ser humano tem anseios de felicidade exatamente porque quem o criou com tal anseio está apto a saciá-lo plenamente.
Hoje é o dia do professor. Trata-se de uma grande oportunidade que temos para valorizar esse profissional. Mas valorizar não é apenas pagar bons salários. É certo que isso é importantíssimo. Afinal, não há dignidade sem que se assegure um mínimo de condições materiais a quem exerce tão sublime missão.
Mas valorizar o professor implica muito mais. Exige, antes de mais  nada, que se tenha consciência do seu verdadeiro papel. E isso deve partir do próprio professor. Implica que ele próprio tenha consciência da dignidade de sua missão. Com efeito, seus alunos esperam dele, acima de tudo, modelos que valham a pena ser imitados. A criança e o jovem vêem, ou gostariam de ver, em seus mestres pontos de referência. Alguém em quem se sentem absolutamente tranqüilos em se espelhar. Um porto seguro, no qual possam se ancorar. Uma pessoa para quem possam olhar e dizer: “ainda que falte a ética nos meios políticos, ainda que falte esperança em muitas pessoas, eu tenho diante de mim um modelo que a todo momento me inspira alentos de que a vida vale a pena ser vivida”.
Alta é a meta proposta? Sim. Mas não pode aspirar por menos aquele ou aquela que se aventura ser mestre e guia de seus semelhantes.

Aos professores e às professores, dentre os quais me incluo, que hoje desfrutamos de um merecido descanso, ouso concluir com um grande desafio: Amanhã, quando retornamos à sala de aula, olhemos para os nossos alunos e contemplemos pessoas que anseiam por mais que simples conhecimentos, tratam-se de seres humanos que querem acima de tudo ser felizes, e têm direito a que lhes mostremos o caminho para tanto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Semana da Vida

Há exatamente uma semana, comemorávamos o dia do idoso. Hoje é o dia do nascituro. Eis uma oportunidade magnífica para celebramos a vida que já existe desde o maravilhoso momento em que um espermatozóide, dentre milhares de outros, se funde com um óvulo, dando origem a um novo ser no templo sagrado do útero de uma mãe.
Dom Bruno Gamberini, Arcebispo Metropolitano de Campinas, em sua carta intitulada Um Clamor de Esperança, conclama todos os fiéis para que assumam uma postura ativa em defesa da vida. Trata-se de um documento que deveria ser lido e meditado por todos os cristãos, ainda que não católicos. Afinal, todos cristãos proclamam a fé no mesmo Deus da vida.
Encontramos na carta uma forte e incisiva chamada a todos para que se empenhem na defesa do direito natural à vida, alertando ainda para a cultura da morte que pouco a pouco vai se infiltrando em nossa sociedade sem que percebamos.
De fato, a primeira afronta ao direito natural à vida é a tentativa velada, mas intensa, perseverante, de se difundir a prática do aborto. Talvez não percebamos a manobra muito bem articulada nesse intento homicida, mas ela existe. É que os inimigos da vida agem na surdina, sem alardes, na calada da noite, até porque não suportam a luz. Mas, se dormirmos, quando despertarmos, poderá ser tarde demais, e então teremos de conviver com uma sociedade abortista, que ceifa a vida antes mesmo que o novo ser humano contemple o dia.
A cultura da morte, estejamos alerta, não pára aí. Também se empenha em sua fúria homicida pela eutanásia. A pretexto de uma atuação humanitária, querem matar pessoas quando, com argumentos puramente interesseiros e utilitaristas, estariam elas apenas sofrendo em um leito de uma casa ou hospital.
Mas a cultura da morte é mais implacável, astuta e covardemente destrutiva com os jovens. O jovem traz na alma uma saudável rebeldia. Seu anseio de mudança o faz rebelar-se contra a cultura da morte, que não se afina com o anseio de vida que traz dentro de si.
Ocorre que os defensores da cultura da morte não são capazes de enfrentar com argumentos sólidos os jovens, não podem convencê-los. Exatamente por isso agem no sentido de destruir esse anseio de vida que trazem em suas entranhas.
Nesse intento, difunde-se entre os jovens o uso de entorpecentes, que os leva por caminhos de morte, enfraquece-os na luta, tira-lhes o que possuíam de mais precioso: a esperança. E então, consumidos pelo vício, tornam-se velhos, ainda que com poucos anos. Pior, dominados pela droga, ninguém os dará ouvidos. Afinal, é isso que querem os da cultura da morte: calar os jovens, pois sabem que são eles que se lançam em cantar e gritar na defesa da vida.
Os jovens têm desejos de amar. Procuram por alguém a quem possam se doar sem medidas, pelo resto de suas vidas. Mas os da cultura da morte se apressam e afogar tais anseios. Estimulam que as relações sexuais sejam feitas de forma inconseqüente e egoísta, em busca exclusiva do próprio prazer, usando-se apenas do parceiro para esse fim.
E banalizam o sexo porque, se não fizerem assim, os jovens acabam encontrando outros que pensam como eles, que sabem doar-se incondicionalmente. E se o fizerem, voltarão a constituir famílias sólidas e felizes, e nelas se reacenderão alentos de vida. Que pavor têm os da cultura da morte das famílias felizes, solidamente constituídas na base de um amor juvenil, de entrega incondicional!
Os jovens ainda não abafaram a lei natural que trazem gravada em seus corações. Por isso, querem restabelecer a ética. Mas os da cultura da morte apresentam-lhes um cenário de roubalheira, de desonestidade, astutamente sugerindo-lhes: “não vale a pena ser honesto!”.

Mas lamento dizer-lhes, arautos da morte, que a vida vencerá. Podem ter pequenas e aparentes vitórias aqui a acolá. Mas ao final, teremos sempre jovens santamente rebeldes, que batem o pé no chão e cantam canções bonitas que falam da vida. Jovens sóbrios, que sonham com os pés no chão. Que sabem doar-se, que sabem amar. Jovens que contemplam o cenário político com indignação, mas com anseio de mudança. A esses é que vem o conclame de cantar a beleza da vida.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dia do idoso

Hoje é o dia nacional (Lei Federal nº. 11.433/06) e internacional do idoso. Trata-se, portanto, de uma excelente oportunidade para falarmos desses jovens ou velhos, pois a juventude e a jovialidade não dependem da idade, que já trazem na face a doce ou amarga marca dos anos.
Exatamente há quatro anos, em 1º de outubro de 2003, foi aprovado o chamado Estatuto do Idoso. Trata-se de um avanço e um marco importante para se resgatar a dignidade do idoso. No entanto, a lei, por si só, é insuficiente e pode esconder uma terrível hipocrisia. É que muitos podem pensar que respeitar o idoso seja apenas garantir-lhe lugares privilegiados em estacionamentos, nas filas de supermercados e transporte público gratuito. De fato, tudo isso é importante e contribui para que se viva melhor nessa fase da vida. Porém, é muito menos do deveríamos proporcionar-lhes.
A dignidade do idoso não pode ser assegurada exclusivamente pelo Estado, nem muito menos pela simples edição de leis. Mais que isso, há de ser proporcionada por todos.
Vivemos numa sociedade em que, dentre muitas crueldades, simplesmente se descartam seres humanos. Por exemplo, os juízes e funcionários públicos em geral se aposentam obrigatoriamente aos setenta anos. No entanto, muitos deles, apesar da idade, possuem enorme experiência e vigor suficiente para continuarem exercendo a função. Pior ainda é a situação do profissional da iniciativa privada. É que, se tiver a desgraça de ficar desempregado após os cinqüenta anos, passa por um verdadeiro calvário até conseguir (e se conseguir) uma recolocação no mercado de trabalho. Por que disso? Será que é bom para nossa sociedade de consumo descartar as pessoas como se descartam os equipamentos eletrônicos sempre que surgem outros mais “modernos”?
Além do Estado e da sociedade, a dignidade do idoso deve ser resgatada primordialmente pelos que com eles convivem. A vida moderna impõe às pessoas um ritmo frenético, tudo é para ontem, tudo é urgente, tudo tem de acontecer em frações de segundos. Engolidos por isso, muitos perdem o hábito de parar e escutar as pessoas, de falar olhando no olho. No entanto, as crianças e os idosos se ressentem muito disso. Vivem eles num ritmo em que necessitam de serem ouvidos, sem pressa, sem olhares afobados e de canto de olho para o relógio. E, no fim das contas, os cinco ou dez minutos em que paramos para dialogar com eles é muito pouco no contexto geral de nossos dias. É muito menos do que perdemos, diariamente, lendo e-mails inúteis ou navegando por sites “interessantes” na internet.
Por fim, a dignidade do idoso depende dele próprio, da postura que assumiu e assume diante da vida. Trata-se de reconhecer que ninguém ganhou essa fantástica passagem por esta vida por acaso. Todos têm uma missão que acompanha do primeiro ao último suspiro.
Tive, ou melhor, tenho um grande amigo que morreu jovem aos mais de oitenta anos e que deixou uma brilhante lição de vida. Estava ele com uma doença incurável no hospital e, como era muito querido, recebia várias visitas. Certo dia, disse ele à enfermeira que o atendia: “Você sabe que sou um homem muito rico?”. Ela, sem deixar de mexer na injeção que aplicaria, respondeu: “ah, é?”. E o amigo concluiu: “a minha riqueza é a minha família: tenho muitos filhos, muitos netos e alguns bisnetos que agora me acompanham neste momento. A enfermeira ficou muito impressionada com a serenidade com que ele encarava os últimos momentos de sua vida. Dias antes de ele morrer, a enfermeira veio ter com ele e disse: “Eu gostaria de lhe agradecer. É que estou grávida e estava pensando em fazer um aborto. Mas, vendo o senhor com essa alegria e serenidade nesses momentos, eu voltei a acreditar na vida”. Trata-se de um jovem idoso que soube dar um sentido maravilhoso até o último instante de sua vida.