Marta e Pedro estão casados há mais de vinte anos,
porém, tempos atrás, o casamento não andava muito bem. Durante a crise, Marta
chegou a pensar que o problema não eram mais as brigas com o marido, que já
foram muito freqüentes, mas uma certa apatia que começou a dominar-lhe.
“Sinto-me sem vontade de enfrentar uma tentativa de reconciliação, confidenciou
ela com uma amiga. Se eu tentar conversar, ele vai acabar por ceder, sairemos
para jantar, mas, depois, ele continuará com os mesmos defeitos, voltaremos a
nos desentender, e daí começará tudo de novo. Acho que cansei”.
A amiga aconselhou-lhe a procurar um orientador
familiar. Explicou que é uma profissão ainda pouco conhecida no Brasil, mas já
reconhecida em alguns países do mundo. Marta, que no fundo desejava salvar o
casamento, aceitou o conselho, de modo que ela e o marido procuraram o
profissional.
Após algum tempo de orientação, a relação com o
marido melhorou muito.
Agora que o nosso tema é realizações no casamento,
penso que seja muito interessante ouvir o relato que eles próprios fazem:
“Uma das observações mais sábias que o orientador me
fez”, começa contando Marta à amiga, “foi dizer que os nossos defeitos nos
outros são insuportáveis. De fato, me dava nos nervos ver quando meu marido
deixava a escova de dente sobre a pia após usá-la, e isso era suficiente para
dar início a uma briga. Mas é que eu também não sou organizada com as minhas
coisas. Por exemplo, era freqüente deixar minha bolsa sobre a mesa da sala.
Percebi, então, que, por não ser eu uma pessoa ordenada, é que as desordens dos
outros me irritam tanto. E agora chega a ser engraçado observar que, por ter me
esforçado, venci o meu defeito e não mais me incomoda as desordens do meu
marido”.
“Outra coisa que eu e meu marido aprendemos foi
respeitar as diferenças que há entre o homem e a mulher, o que até então não
entendíamos”. Continuou ela, “por exemplo”, continuou ela, “o homem, em regra,
costuma olhar para o conjunto e não observa os detalhes, ao contrário da mulher.
Assim, antes, me tirava do sério quando ele não encontrava as coisas. Abria a
gaveta procurando algo e, logo em seguida, vinha o grito: Marta, cadê minha meia nova? Eu ia até lá e, no meio da gaveta, bem
á vista de qualquer um, está a meia nova. Agora sei que eles são assim, não
encontram mesmo o que procuram.
Pedro entra em casa nesse momento e percebe
rapidamente, entre a última frase da esposa e o riso da amiga, do que falavam.
Após uns breves cumprimentos à esposa e à amiga, não perde a chance de contar a
outra parte das diferenças:
“Marta, acho que você não contou do mapa, então eu
vou contar. Antes eu não sabia por que as mulheres não entendem mapas, e eram
freqüentes as brigas durante as viagens. Eu pedia a ela que procurasse o
caminho que devíamos fazer, mas ela virava o mapa, voltava, dava mais voltas no
papel diante de si e não achava nunca a rua, então eu parava e via que ela
simplesmente procurava no sentido contrário. Agora não brigamos mais por esse
motivo, sei que os mapas não foram feitos para mulheres”, concluiu ele com uma
forte dose de ironia. A amiga não achou nenhuma graça nisso.
O marido as deixou, e agora Marta conclui o relato à
amiga, com frases entrecortadas pela emoção de quem encontrou uma grande
alegria: “Mas o que mais me marcou foi o orientador familiar nos ter feito ver que
a vida conjugal pode ser comparada a uma cesta, nem bonita nem feia, apenas uma
cesta. Porém, que pode ser preenchida por rosas ou por um montão de porcarias.
As porcarias não nossos egoísmos, cada um pensar em si mesmo. As rosas são
espinhos e flores, que formam um todo harmonioso, e belo. Há os espinhos, não
dá para tirá-los. Assim também em nossa vida, há acontecimentos dolorosos, que
nos fazem sofrer, mas se os vivemos juntos, cada um amparando o outro,
convertem-se nos espinhos que acompanham as rosas. Mas há também as rosas.
Nossos filhos, os infindáveis momentos que passamos juntos, aqueles jantares
barulhentos com as crianças em volta da mesa, aquela viagem que fizemos, o
nosso primeiro dia na casa nova. Enfim, ele nos fez ver que cada dia é uma
oportunidade de colocar uma rosa nessa cesta, com flores e espinhos. E, no fim,
a razão de ser da cesta são as rosas”.
As amigas se despedem com um abraço emocionado. Ao pé
da porta, Marta encontra um buquê de rosas que o marido havia trazido e não lho
havia entregado: “Ficou com vergonha de entregar-me na sua frente”, explicou
Marta à amiga. “Ah, eles também têm tanta dificuldade em demonstrar o que
sentem!”, concluiu Marta.
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