Semana passada, logo após o incidente da explosão de
uma bomba no prédio da Cidade Judiciária, em Campinas, ouvi de uma senhora, em
uma roda de bate-papo, um desabafo indignado: “uma família com pais e crianças
nas garras de seqüestradores, aquela roubalheira envolvendo figurões do
judiciário e, como se não bastasse, agora ainda corremos risco de atentado. Que
mundo é esse?”.
Cara amiga, ainda que não te conheça, penso que
podemos meditar um pouco nas causas de tantos dissabores.
Talvez o maior problema do mundo atual é que se
desencadeou uma campanha muito bem articulada e acirrada para destruir os
valores cristãos, e, no entanto, ninguém se preocupou em colocar nada em seu
lugar.
A essência da mensagem cristã está condensada no
chamado Sermão da Montanha. Vejamos, porém, como o mundo atual dela se
distancia!
Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. No mundo moderno,
porém, a essa mensagem se contrasta fortemente o consumismo, cujas idéias
poderiam ser condensadas em algo do tipo: “bem-aventurados os que têm dinheiro,
carro do ano, roupa da moda, viajam com freqüência, porque deles são os prazeres
da terra”. E em nome dessa “mal-aventurança”, justifica-se seqüestrar e manter
crianças como reféns, vender sentenças judiciais, dentre muitos outros crimes.
Bem-aventurados
os que choram, porque serão consolados. Que diriam disso muitas pessoas de
nosso tempo? É impressionante como nossos adolescentes (e muitos adultos
também!) são avessos a tudo o que significa esforço ou sacrifício. Suas
conversas giram quase que exclusivamente sobre diversão, festa, programas
badalados... Perder tempo em ir visitar
um doente num hospital? Ou um idoso num asilo? “Que coisa mais estranha e fora
de moda”, pensarão. “Bem-aventurados os que soltam altas gargalhadas, porque
com isso dão a impressão que são felizes”, pode-se resumir essa “mal-aventurança”.
Bem-aventurados
os mansos, porque herdarão a terra. Mansidão. Como é importante essa
virtude cristã e quão pouco se a encontra em nosso mundo! Para constatar isso,
basta que se trafegue por alguns minutos em uma grande cidade e contemple como
se ofendem e se impacientam as pessoas.
Bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Nessa, talvez muitos
de nós fiquemos mais tranqüilos pensando: “eu tenho sede de justiça”. Ocorre
que justiça é, essencialmente, dar a cada um o que é seu. E será que se vive
assim em nossa sociedade?
Dar a cada um o que é seu significa, antes de mais
nada, respeitar o direito mais elementar de qualquer ser humano, que é o
direito à vida, direito esse que vai desde a concepção até a morte. No entanto,
há muitas pessoas que não respeitam esse direito fundamental, colocando bombas
em um local público e pouco se importando que tirem a vida de inocentes. Há
outras que se empenham em matar seres mais inocentes ainda, no ventre materno,
matança essa em nome de uma “liberdade sexual”. Que liberdade é essa que leva a
morte de um ser humano indefeso?
Sim. Bem-aventurados os que têm sede de justiça, sede
de vida. Eis o primordial valor do cristianismo que se busca apagar da mente
das pessoas de nosso tempo. Porém, lamento dizer-vos, caros “mal-aventurados”,
não conseguirão. Não terão êxito ainda que, por vezes, pareça que a humanidade
está sucumbindo à cultura da morte. E sabe por que não terão sucesso? É que o Autor
das bem-aventuranças ensinou, principalmente, a doze homens a sua doutrina. Um deles
o traiu, mas os outros onze espalharam-na pelos quatro cantos da terra e
mudaram o mundo de então. E essa mesma semente deixada pelo divino Mestre ainda
reluz forte em muitos corações.
E esses pobres em espírito, que choram pelas
injustiças do mundo, mansos, mas fortes e serenos, saberão de novo resistir a
essa grande tempestade que nos assola, e terão forças para sair de suas casas e
ir para as ruas, e com vozes fortes cantar em defesa da vida, da dignidade da
pessoa humana, da família, da paz e da concórdia. E o farão certos da vitória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário