quarta-feira, 4 de abril de 2007

Páscoa, vida nova!

Em um domingo de Páscoa de alguns anos atrás, armou-se uma confusão entre os meus filhos, que travavam uma disputa em volta do ovo de chocolate. Aproximei-me decidido a por um fim na briga quando, o que então era o mais novo, deu um grito: “Pára com isso! Páscoa quer dizer vida nova, vocês têm de dividir e não pode brigar!”. Fiquei um tanto espantado e surpreso com a firmeza dele e, além disso, a atitude inesperada do pequeno me encheu de ternura e admiração.
Não sei ao certo por que motivo, agora que essa festa mais uma vez se aproxima, a exortação daquela criança parece recobrar toda a sua força: Páscoa é vida nova!
Todos nós temos anseios de mudança, de um mundo melhor, mais humano, mais feliz para se viver. Gostaríamos que houvesse mais segurança, que as pessoas agissem com mais ética, enfim, temos desejos ardentes de que a paz reine em nosso meio.
Porém, ao mesmo tempo em que nosso pensamento muito se ocupa em imaginar e sonhar com um mundo melhor, normalmente damos pouca atenção para a mudança, a renovação interior.
Penso que nada do que acontece em nossas vidas é indiferente ou sem sentido algum. Tudo o que nos sucede, desde o momento em que acordamos até aquele em que nos recolhemos para o descanso noturno, são ocasiões que nos permitem sermos melhores ou piores.
Por exemplo, quando se acorda, cansado, com sono, remoendo algum problema, ou pensando no quão estressante será o dia, é possível se esforçar por sorrir, por dar um beijo na esposa (ou no marido), por acordar os filhos com um tom amável e acolhedor, ou, ao contrário, sair esparramando mau humor e irritação ao redor.
Quando saímos de casa e nos deparamos com as dificuldades do trânsito, pode-se sair xingando a todos e espalhando grosserias, ou, ao contrário, esforçar-se por ser paciente, ainda que se pense, por vezes com razão, que os motoristas e pedestres de nossa querida Campinas exija uma paciência heróica.
Os dois tipos de atitudes podem também ser escolhidas quando sofremos alguma decepção, uma doença ou experimentamos o sucesso. Em todas elas, podemos nos esforçar por compartilhar isso com os que nos cercam, ou, ao contrário, fecharmos em nós mesmos, colocando-nos no centro do universo.
Um dia desses assisti a um filme bem interessante, em que o ator, Bruce Willis, interpreta um personagem que já adulto, se depara consigo mesmo quando garoto, E a criança vai se frustrando ao se deparar com o que ela é no futuro, ainda que, sob certo aspecto, fosse ele uma pessoa de “sucesso”, com carro conversível, uma bela casa, rico, com uma profissão que lhe permite viagens, jantares em restaurantes caros e etc, mas, apesar disso tudo, a criança o vai fazendo ver o quanto é infeliz, apesar de ter e possuir isso tudo.
E o mesmo pode acontecer conosco. Imaginemos, em nosso círculo de amizade ou de conhecidos, dois tipos diferentes de idosos. Um deles, apesar das dores, doenças e incômodos que a idade traz consigo, não costuma ficar se queixando a todo tempo, sabem ser amáveis, sorridentes e prestativos. Outros, ao contrário, vivem a se queixar disso, daquilo e, com uma voz melancólica, não cansam de repetir “antigamente é que era bom...”.
Pois bem, poderemos ser de um tipo ou de outro (se chegarmos até lá, é claro), e isso depende das opções que tomamos agora, nos detalhes mais pequenos de nosso dia a dia. E a Páscoa é um momento muito privilegiado para nos examinarmos sobre como temos nos portado e, diante disso, fazermos propósitos sinceros e valentes de vida nova, de mudança, de renovação.

Filhão, obrigado pela lição: Páscoa, é vida nova!

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