Lembro-me de uma
ocasião em que indaguei a um marido as causas que o levara a procurar a
separação, ele me respondeu cheio de amargura: “Doutor, cada vez estou mais
convencido de que o casamento é uma loteria, uns acertam, outros erram, mas
ninguém sabe exatamente o porquê. É questão de sorte”. Será que o bom êxito na
vida conjugal é mesmo uma loteria?
Num curso que
participei sobre o relacionamento conjugal, já próximo ao final do evento, o
palestrante concluiu que o que sustenta uma relação entre marido é mulher é a
qualidade dos momentos que se passam juntos.
Essa frase, se bem
entendida, revela o segredo do sucesso no matrimônio. Tanto é assim que se pode
diagnosticar que uma relação está em estágio “terminal” não quando há muitas
brigas, mas quando ambos vasculham o baú de suas vidas e não encontram bons
momentos que souberam viver juntos. Por outro lado, o que sustenta o
relacionamento são os bons momentos que souberam viver juntos.
Quando se fala em
qualidade dos momentos vivenciados juntos, não se quer dizer que esses sejam sempre
bons. Basta um pouquinho de experiência para concluir que a vida a dois não é
sempre um mar de rosas. Mas também os momentos difíceis podem ser bem vividos
ou mal aproveitados, e é a soma de uns e outros que constroem ou destroem o
relacionamento. Por exemplo, quando se passam por problemas com um filho na
adolescência, marido e mulher podem se unir para enfrentá-lo e, ao final,
perceberão que a dificuldade fez crescer o relacionamento conjugal e a paz na
família. Ou, ao contrário, poderão se lançar em acusações recíprocas, cada qual
jogando no outro a culpa do problema, de modo que a dificuldade, por ser mal
enfrentada, servirá para desestabilizar o relacionamento.
Mas é imprescindível
que saibam viver bons momentos juntos. Não há nada de mal em que o casal faça
programas com amigos comuns ou familiares. Além disso, é imprescindível que
haja passeios e lazer com os filhos e, se possível, com a família reunida, mas
é necessário também que haja momentos agradáveis vividos apenas pelos dois e
ninguém mais.
Nessas saídas do casal,
além de se divertirem, podem conversar sobre os problemas da família. Talvez
seja o momento mais oportuno para, de cabeça fria, tratarem da educação dos
filhos. É hora também de cada um dizer ao outro, com franqueza e delicadeza, o
que desagrada no comportamento do outro, ajudando-o a melhorar. Um grande erro
que perturba a paz na família é que marido e mulher costumam apontar defeitos e
erros do outro no calor dos acontecimentos, quando será pouco eficaz. Por outro
lado quando se acalmam, têm uma grande resistência em tocar no assunto, talvez
para “evitar novas brigas”. Acredito que a estratégia deveria ser outra, pois é
muito mais eficaz que a esposa diga ao marido que não gosta que ele se atrase
para voltar do trabalho quando conversam calmamente em um restaurante, do que o
diga com um tom azedo quando ele acaba de entrar em casa após um dia
estressante.
E para se por em
prática o hábito de o casal fazer programas agradáveis a sós, há de se evitar
as falsas desculpas como: “não podemos nos divertir sem os filhos”, ou “não
temos dinheiro”. Ora, a família e os filhos precisam que os pais estejam bem e
felizes e esses momentos a sós contribuem para isso. E se não se tem dinheiro
para sair para jantar, pode-se tomar um lanche, ou simplesmente tomar um picolé
na sorveteria da esquina, afinal, não é o quanto se gasta que define o quão
agradável será o passeio.
Em suma, o sucesso na
vida conjugal é construído dia a dia, através de pequenas coisas que lhe dão
cor e sabor. Pode ser um jantar num lugar que agrade a ambos, pode ser no
simples fato de ela o esperar bem arrumada, com o perfume que usava nos tempos
de namoro, enfim, que se saiba ser criativo, sabendo que são esses pequenos
detalhes que constroem os fundamentos de um matrimônio feliz.
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