Logo que os noticiários nos relataram o fato horrível que
vitimou dezenas de pessoas numa Universidade dos Estados Unidos, confesso que
fiquei estarrecido, porém, sem saber ao certo o que pensar nem muito menos como
entender isso.
Pensei então que poderia recorrer à opinião de um jovem,
afinal, são eles as maiores vítimas do egoísmo que assola as pessoas de nosso
tempo. Pedi então ao meu filho que me dissesse o que pensa a respeito do
incidente. Em resposta, escreveu-nos ele, com seu estilo conciso: Mais um dia desses eu abro o jornal e vejo
que um rapaz sul-coreano matou 32 pessoas numa universidade dos EUA, pois ele
era solitário e sempre reclamavam dos amigos ricos, que tinham sorte que poucos
tiveram, e não fizeram nada a esse cara. Mas mesmo se tiveram feito, nada
justifica (Pedro Henrique Calseverini de Toledo, 11 anos, estudante).
As ponderações, aparentemente sem muito conteúdo, merecem
ser meditadas.
Diz ele: Mais um
dia desses eu abro o jornal e vejo que... A violência é talvez a causa da
maior angústia por que passam os jovens de nosso tempo. Isso deve merecer
atenção dos profissionais da informação sobre a forma com que o assunto é
abordado. É evidente que o massacre nos EUA, assim como os crimes bárbaros que
ocorrem entre nós, não podem ser omitidos pela imprensa. No entanto, é preciso
achar um meio termo entre informar e aterrorizar. É que o tom por vezes
sensacionalista, e, em outros, excessivamente pessimista, se não for bem dosado
pode ensejar a morte nos jovens daquilo que lhes é mais precioso e vital: a
esperança.
E segue: (...) vejo
que um rapaz sul-coreano matou 32 pessoas numa universidade dos EUA, pois ele
era solitário (...). Diante dessa constatação, podemos nos perguntar: será
que ninguém fez nada para tentar inserir aquele jovem num convívio saudável? E
nós, o que fazemos, quando encontramos numa escola, num ambiente de trabalho,
nos nossos círculos de convivência, alguém mais introvertido, com dificuldades
de relacionamento? Simplesmente o ignoramos, talvez pensando que essa pessoa é
meio “esquisita” e gosta de estar só?
Talvez devêssemos considerar que se há nos ambientes em
que convivemos alguém que tem dificuldade de se relacionar, que temos de nos
aproximar dessa pessoa, tentar acolhê-la, com compreensão, aceitando o seu
jeito de ser, mas animando-a, ajudando-a a se relacionar com os demais. Não
podemos ser egoístas a ponto de pensar que não é nosso problema, ou que não nos
cabe fazer nada.
“(...) reclamava
dos amigos ricos, que tinham sorte que poucos tiveram (...)”. Vivemos numa
sociedade hedonista, na qual o prazer é um fim máximo a ser alcançado e é tido
como sinônimo de felicidade. Além disso, há o consumismo que leva as pessoas a
confundirem o ser com o ter. Numa sociedade que cultua esses valores, não é
muito entender a atitude desse jovem. A sua personalidade introvertida e, além
disso, o fato de ser de baixa renda o impedia de ter acesso aos grandes bens da
sociedade de consumo e, além disso, de desfrutar dos prazeres das festas
estudantis.
Porém, (...)nada
justifica essa atitude. De fato, nada justifica tirar a vida de ninguém,
tanto menos da forma brutal e sem chance de defesa com que aquelas pessoas
morreram. Apenas para ser coerente com a defesa da vida, também nada justifica
que pessoas humanas, também indefesas, sejam arrancadas cruelmente do ventre
materno. Nada justifica.
É inaceitável e, de fato, nada justifica o que aquele
jovem estudante fez. Mas, se queremos atacar de verdade as causas dessas
barbáries, devemos nos questionar acerca dos valores que cultuamos e
transmitimos aos nossos filhos. Ensinamos a eles o valor da amizade?
Estimulamos a que se esforcem por conviver bem e respeitar a todos?
Um fenômeno muito negativo que marcam nossos jovens são
os grupos fechados que se têm formado, onde o tipo de roupa, os gostos de
música e outros tantos detalhes são suficientes para que, alguém que destoe das
“regras” seja excluído do grupo. É hora, então, de mostrar-lhe que se deve ter
tolerância, saber conviver com quem pensa diferente. Enfim, há que se dilatar
os corações dos jovens para que neles caibam a todos. Do contrário, cada vez
mais teremos excluídos revoltados ávidos por destruir os grupos sociais que os
excluem. E a isso, caro Pedrão, de fato, nada justifica.
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