quarta-feira, 7 de março de 2007

Adeus

Um dia desses um de meus filhos me perguntou: “Pai, qual é a pior coisa que lhe pode acontecer?”. Ele perguntava isso porque algo que havíamos programado deu errado, e talvez ele pensasse que responderia que aquilo é o que de pior pudesse acontecer. Mas a resposta à pergunta dele de há muito que já tenho na ponta da língua, de modo que respondi sem hesitar: “O pior que pode acontecer com um pai é perder o filho. Filho, nada de pior me pode ocorrer que isso”.
Basta que um pouco se viva para se notar que nesta vida muitas contrariedades, dissabores, fracassos e dores haveremos de passar. O mistério da dor sempre acompanhou a história da humanidade e não há nenhum ser que não a tenha experimentado nos muitos ou poucos anos que por aqui passaram.
Confesso ao leitor, porém, que por mais que tento teorizar sobre a dor e a morte, não me vem outra idéia na cabeça que não lembrar da voz serena do Rui Motta nas poucas conversas que tivemos por telefone. Como deve estar sofrendo esse grande homem, em especial porque muito sofrem os que muito amam! De fato, caro Rui, não há nada mais dolorido que perder um filho.
Quanta sabedoria contém a frase do ROGÉRIO VERZIGNASSE em sua coluna de 24.02.2007: E que essa experiência, doída sirva para amolecer cada coração. A gente precisa acreditar que o corpo se vai, mas o amor é eterno.
De fato, a dor não é inútil, acaso o fosse Deus feito homem não a teria padecido no grau extremo de se deixar pregar numa Cruz.
Se é que isso lhe serve de consolo, caro Rui, digo-lhe que sua dor me fez rever um conceito que eu tinha por certo. É que a perda de um filho não é o que de pior pode acontecer com alguém. É, por certo, o que de mais doloroso nos pode suceder, mas a dor não é necessariamente ruim.
Lembro-me agora de uma cena do filme Paixão de Cristo, do Mel Gibson. Trata-se da passagem em que, carregando a Cruz, Ele se encontra com Sua Mãe. Naquele instante, vem à mente dela uma recordação da infância do menino, que, brincando, sofre uma queda e ela amorosamente se lança para socorrê-Lo, apanhá-Lo e afagá-Lo em seus braços. Naquele momento, por certo que o carinho materno supera e muito a dor da queda. Mas depois a cena do filme volta ao “presente”, e nesse o Filho carrega uma Cruz enorme, e cede ao peso insuportável e cai violentamente. A Mãe, novamente se adianta em vir reconfortá-Lo. Dá para imaginar a dor dessa Mãe? Que mal Seu Filho havia feito?
Dá para imaginar a dor, agora bem mais atual, da mãe do João ao vê-lo sendo arrastado pelas ruas da cidade até o martírio?
E qual a razão disso?
Não sei. De momento não vejo explicação melhor que a do Rogério: amolecer o nosso coração. Um convite a esquecermos de nós mesmos e nos dedicarmos aos outros enquanto é tempo.
Talvez mais um motivo: carpe diem. Aproveitemos essa vida, mas não com uma conotação egoísta que a distorção da expressão pode sugerir. Aproveitemos esse dia, o único que temos, para fazermos o bem aos que nos cercam, sem nos preocuparmos com o ontem, que já passou, nem com o amanhã, que não sabemos se chegará para nós.
Caro editor e amigo (posso chamá-lo assim?), que o Deus que sentiu na própria carne a experiência da morte que levou a Anita, e que Sua Mãe, que sentiu no peito a dor que agora sente, lhe dê o consolo e lhe façam ver o que querem de você com essa provação tão dolorosa.

Por fim, ao menos uma vez, quero não lhe dar trabalho e preocupação: não excedi o máximo de caracteres de que disponho nesta coluna.

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