Chocou o país a notícia
do crime repugnante de que foi vítima uma criança no Rio de Janeiro. E, como se
fosse pouco, na última sexta-feira, agora em Campinas, uma mãe de um
recém-nascido foi assassinada apenas por pedir à vizinha que abaixasse o volume
do som. Notícias como essas, após a revolta inicial, incita-nos a refletir e
buscar ações para que não se repitam.
Como em ambos os crimes
há menores de dezoito anos envolvidos, começa-se a cogitar no Congresso
Nacional a possibilidade de redução da maioridade penal.
Penso que essa medida é
necessária mesmo. Uma pessoa de dezesseis anos já pode votar, já tem
discernimento suficiente para entender o que é certo e o que é errado, de modo
que não há motivo para que um delinqüente juvenil que mata, rouba, seqüestra,
fique internado apenas por três anos ou menos e em breve retorne à
delinqüência.
Porém, reduzir a
maioridade penal para dezesseis anos, construir presídios, impor penas mais
severas, dentre outras medidas de que se cogitam, ainda que sejam necessárias,
são apenas paliativos que não tocam no fundo do problema.
É curioso notar que, ao
lado das aberrantes notícias sobre crimes horrendos, tivemos no último domingo a
comemoração dos 30 anos da instituição do divórcio no Brasil, tratado como uma
grande conquista da sociedade. Não pretendo tecer críticas à
Lei, cuja aprovação e validade são irreversíveis e inquestionáveis. Porém, será
que estamos tão cegos a ponto de duvidar de que a causa principal do alarmante
aumento da criminalidade é a desagregação dos laços familiares?
Não estamos a sustentar
que a aprovação de lei que permite o divórcio civil seja a causa do aumento da
violência. Seria muito simplista e leviana tal afirmação. Mas é certo e
comprovado estatisticamente que a desagregação da família é um importante fator
no aumento da criminalidade.
Cumpre ressaltar que há
pessoas divorciadas que passam a exercer, simultaneamente, o papel de pai e de
mãe, e o fazem com muita competência, de modo que educam os filhos com plenas
condições para desenvolvimento de suas personalidades. Mas o fazem porque se
dedicam de verdade a construir uma família.
A construção de uma
sociedade melhor depende de que cada pai, cada mãe, lute com afinco, todos os
dias, para que em seus lares reine um ambiente de paz, de serenidade, de
alegria, de acolhida, em que cada um se preocupe com o bem estar do outro, que
se saiba ceder, desculpar, aceitar as diferenças.
Todo crime tem como causa uma forte carga de
egoísmo. E se não se ensina a pensar nos outros na convivência familiar, não se
aprenderá isso em lugar algum. E da proliferação de egoístas é que se rompem
todas as estruturas sociais. Cito alguns exemplos dessas posturas: quero um
carro e, se para isso, tenho de arrastar um garoto pelas ruas, isso é apenas um
meio necessário para satisfação desse interesse; quero ter relações sexuais com
a atraente colega de trabalho, e se isso implica em destruir o meu casamento e
o dela, tudo bem; quero manter o som alto, e se a vizinha vem me incomodar,
mato-a para que me deixe em paz; quero passar os finais de semana viajando
sozinho de moto, e se a esposa e os filhos são entraves para isso, abandono-os.
E os exemplos podem se multiplicar.
No estágio em que
estamos, erradicar o individualismo de nossa sociedade depende não apenas de
que se construa na própria família o hábito da solidariedade. Mais ainda, há que
se difundir às demais famílias, com sabor de novidade, que vale a pena
construir um lar em que cada um sabe se doar. Pois, assim o fazendo, ainda que
pareça que está jogando a felicidade pessoal fora, notará que está semeando-a para
colhê-la muito mais forte e multiplicada nos filhos, nos amigos e nos filhos
dos amigos. E isso não é medida sócio-educativa, nem pena privativa da
liberdade, é, ao contrário, lançar os alicerces de uma verdadeira sociedade.
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