Hoje faz quinze anos
que, diante de Deus, uni-me em matrimônio à minha esposa. Confesso ao leitor
que me custa bastante falar disso aqui, publicamente. E é custoso porque há um
certo pudor em se abrir a intimidade, além disso, não a consultei se poderia
expor isso aqui nesta coluna. Mas resolvo romper a resistência porque relatar
as experiências vividas pode ser útil a quem se aventura lançar-se na
fantástica, mas ao mesmo tempo árdua, vida matrimonial. E penso que uma forma
interessante de fazê-lo seja relembrar as palavras pronunciadas naquele momento
solene e inesquecível.
Eu, Fábio, te recebo Andréa, como minha esposa...
Não sei se sabia
exatamente o que significava ser esposo. Já havia estudado nas aulas de direito
de família que o casamento gera uma comunhão plena de vida. Mas o que seria, na
prática, essa comunhão plena de vida? Hoje as implicações disso me são bem mais
claras. Trata-se de compartilhar boa parte (quase tudo) do que temos e somos.
Enquanto tento
alinhavar as idéias para escrever este artigo, sou interrompido por uma confusão
armada na cozinha: as crianças fazem uma verdadeira algazarra, e ouço a minha
esposa – agora, quinze anos depois, é muito fácil chamá-la assim -, implorando
uma ajuda: “peça a eles que parem com esse barulho, se não os pequenos irão
acordar”. Bem, o artigo tem de ficar para mais tarde, talvez quando eles
dormirem...
... e te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza...
Fidelidade. Como é bom
trazer o coração bem guardado para dá-lo a uma só pessoa! Penso que fidelidade
e felicidade são palavras muito próximas não apenas foneticamente, mas em sua
essência mesmo. Na verdade a realização, e com ela a felicidade, dependem de
que seja fiel aos compromissos assumidos. Ao contrário, é muito comum encontrar
amarguras e insatisfações naqueles que não souberam honrar a palavra dada. E
isso não apenas na vida matrimonial, mas também na profissão, nos negócios com
os amigos etc.
E a fidelidade que se
exige no matrimônio há de ser radical mesmo, na alegria e na tristeza. Quando é
fácil e quando os anos tendem a introduzir a rotina. Mas somente se consegue
isso esmerando-se muito nas pequenas coisas: evitando-se intimidades exageradas
com as colegas (ou com os colegas) de trabalho, na internet...
Nova pausa forçada. As
crianças aprontaram tanto e agora deixam a cachorrinha entrar em casa. Penso em
resolver aos berros o assunto. Puxa, mas acabei de dizer aos leitores que as
pequenas coisas são importantes e, dentre elas, está a delicadeza no trato no
dia a dia. É que as rusgas freqüentes, as frases grosseiras, a indiferença e
outras coisas do gênero tendem a minar o bom ambiente familiar.
... na saúde e na doença...
Que a vida em comum
haveria de ser na saúde e na doença, isso me estava muito claro, mas até então
eu não sabia bem ao certo o que era uma TPM. Bem, por outro lado, é bom que se
diga, nem ela sabia o que seria suportar um marido carrancudo escondido atrás
de pilhas de processos...
... amando-te e te respeitando por todos os dias de minha vida.
Não são os defeitos do
outro o obstáculo para o êxito da fica conjugal, mas a fraca disposição de
superá-los. Conta-se de um conquistador que, ao desembarcar no território a ser
desbravado, mandou atear fogo nas embarcações que os trouxeram, de modo que a
solução seria vencer ou morrer. Penso que deve ser essa a disposição das
pessoas no casamento. É que, se por um lado é maravilhoso ter alguém com quem
compartilhar as alegrias e as tristezas, com quem contar em todas as situações,
por outro, não são poucas as duras provas por que se há de passar. Assim,
lançar-se nesse caminho com a disposição de “pular fora” na primeira
dificuldade que surgir é a receita ideal para o fracasso.
Lembro-me também que, há quinze anos atrás,
foi-me perguntado se era por toda a vida a decisão que tomava, ao que respondi
que SIM. É o mesmo SIM que ouso reafirmar agora, afinal, só acredito em bens
verdadeiros que durem para sempre.
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