quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Aniversário de casamento


Hoje faz quinze anos que, diante de Deus, uni-me em matrimônio à minha esposa. Confesso ao leitor que me custa bastante falar disso aqui, publicamente. E é custoso porque há um certo pudor em se abrir a intimidade, além disso, não a consultei se poderia expor isso aqui nesta coluna. Mas resolvo romper a resistência porque relatar as experiências vividas pode ser útil a quem se aventura lançar-se na fantástica, mas ao mesmo tempo árdua, vida matrimonial. E penso que uma forma interessante de fazê-lo seja relembrar as palavras pronunciadas naquele momento solene e inesquecível.
Eu, Fábio, te recebo Andréa, como minha esposa...
Não sei se sabia exatamente o que significava ser esposo. Já havia estudado nas aulas de direito de família que o casamento gera uma comunhão plena de vida. Mas o que seria, na prática, essa comunhão plena de vida? Hoje as implicações disso me são bem mais claras. Trata-se de compartilhar boa parte (quase tudo) do que temos e somos.
Enquanto tento alinhavar as idéias para escrever este artigo, sou interrompido por uma confusão armada na cozinha: as crianças fazem uma verdadeira algazarra, e ouço a minha esposa – agora, quinze anos depois, é muito fácil chamá-la assim -, implorando uma ajuda: “peça a eles que parem com esse barulho, se não os pequenos irão acordar”. Bem, o artigo tem de ficar para mais tarde, talvez quando eles dormirem...
... e te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza...
Fidelidade. Como é bom trazer o coração bem guardado para dá-lo a uma só pessoa! Penso que fidelidade e felicidade são palavras muito próximas não apenas foneticamente, mas em sua essência mesmo. Na verdade a realização, e com ela a felicidade, dependem de que seja fiel aos compromissos assumidos. Ao contrário, é muito comum encontrar amarguras e insatisfações naqueles que não souberam honrar a palavra dada. E isso não apenas na vida matrimonial, mas também na profissão, nos negócios com os amigos etc.
E a fidelidade que se exige no matrimônio há de ser radical mesmo, na alegria e na tristeza. Quando é fácil e quando os anos tendem a introduzir a rotina. Mas somente se consegue isso esmerando-se muito nas pequenas coisas: evitando-se intimidades exageradas com as colegas (ou com os colegas) de trabalho, na internet...
Nova pausa forçada. As crianças aprontaram tanto e agora deixam a cachorrinha entrar em casa. Penso em resolver aos berros o assunto. Puxa, mas acabei de dizer aos leitores que as pequenas coisas são importantes e, dentre elas, está a delicadeza no trato no dia a dia. É que as rusgas freqüentes, as frases grosseiras, a indiferença e outras coisas do gênero tendem a minar o bom ambiente familiar.
... na saúde e na doença...
Que a vida em comum haveria de ser na saúde e na doença, isso me estava muito claro, mas até então eu não sabia bem ao certo o que era uma TPM. Bem, por outro lado, é bom que se diga, nem ela sabia o que seria suportar um marido carrancudo escondido atrás de pilhas de processos...
... amando-te e te respeitando por todos os dias de minha vida.
Não são os defeitos do outro o obstáculo para o êxito da fica conjugal, mas a fraca disposição de superá-los. Conta-se de um conquistador que, ao desembarcar no território a ser desbravado, mandou atear fogo nas embarcações que os trouxeram, de modo que a solução seria vencer ou morrer. Penso que deve ser essa a disposição das pessoas no casamento. É que, se por um lado é maravilhoso ter alguém com quem compartilhar as alegrias e as tristezas, com quem contar em todas as situações, por outro, não são poucas as duras provas por que se há de passar. Assim, lançar-se nesse caminho com a disposição de “pular fora” na primeira dificuldade que surgir é a receita ideal para o fracasso.
Lembro-me também que, há quinze anos atrás, foi-me perguntado se era por toda a vida a decisão que tomava, ao que respondi que SIM. É o mesmo SIM que ouso reafirmar agora, afinal, só acredito em bens verdadeiros que durem para sempre.

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