O último dia 2 de novembro caiu numa quinta-feira.
Uma pausa que para muitos foi quatro dias, um feriadão, que espero tenha sido
muito bem aproveitado por todos.
Mas, nesse único dia do ano dedicado à memória das
pessoas falecidas, em que talvez se tenha feito uma visita a um cemitério, ou simplesmente
por relembrarmos de algum parente ou amigo que já não esteja entre nós, é quase
que inevitável pensar na morte. E diante
desse pensamento, as reações podem variar, mas é muitíssimo comum que se tenha
verdadeiro pavor em pensar na própria morte.
Quase tudo que acontece de aparentemente ruim em
nossa vida, porém, pode ser ocasião de se tirar bons frutos. E isso ocorre
muito especialmente ao se aceitar a realidade da própria morte. Independentemente
da fé que se tenha, considerar que se está de breve passagem por esta vida pode
ajudar a se viver mais sabiamente.
Quem tem consciência de estar de passagem aproveita
muito melhor o tempo, sabe utilizá-lo para construir algo de belo,
especialmente em favor dos outros. Sabe que isso é o que verdadeiramente vale a
pena e que, de certa forma, o imortalizará. Quem sabe estar de passagem,
procura se reconciliar o quanto antes, acaso tenha havido alguma desavença, e
faz o que está ao seu alcance para estar bem com todos, tratar bem a todos.
Quem sabe estar de passagem é muito propenso a relevar os pequenos incidentes
de cada dia, a não dar excessiva importância quando lhe ofendem, quando não lhe
compreendem, ou quando não lhe dão o valor que acredita merecer. Afinal, pensa
o sábio, a vida é muito curta para se perder tempo com essas ninharias.
Mas se esses dias nos movem a pensar na própria
morte, é provável que nossas atenções se voltem também para aqueles amigos,
parentes e conhecidos que, por motivo de doença ou idade, as circunstâncias
apontam para que os dias estejam mesmo chegando ao fim. Penso que deveríamos
nos esmerar em atender muito afetuosamente essas pessoas. Mais ainda,
deveríamos pensar que o tempo que se dedica a eles não se perde, ao contrário,
muito se ganha em generosidade e alegria que brota sempre de toda conduta
benfazeja e desinteressada.
Muito se fala hoje em dia em humanizar a morte. Com
essa expressão se quer dizer, porém, reduzir a dor do paciente em suas horas
derradeiras. De fato, ministrar medicamentos que atenuem o sofrimento do
moribundo é um ato de caridade valiosíssimo que deve ser muito prestigiado.
Porém, não é raro que a maior dor nesses momentos seja a solidão, talvez porque
os filhos, esposo, esposa, parentes, amigos, estejam tão ocupados que não
encontrem tempo para fazer companhia, para levar um alento.
E uma manifestação de caridade muito especial que se
pode dar ao doente é não privá-lo da assistência religiosa nesses duros
momentos. Há que se fazer com um profundo respeito à liberdade, com muita
delicadeza e naturalidade, mas com empenho por não privá-lo desse auxílio valioso
por covardia, ou medo do que irá pensar.
E também os hospitais devem estar estruturados para
proporcionar o direito à assistência religiosa aos seus pacientes, ainda que
sejam mantidos por entidades não confessionais. É que tal direito está
assegurado no inciso VII do artigo 5º da Constituição Federal, de modo que a
instituição que obsta o acesso do sacerdote, pastor ou ministro evangélico,
quando ele é chamado pelo doente ou seus familiares, comete grave violação de
um direito constitucional.
Penso ser bem a propósito o pensamento de São
Josemaría Escrivá sobre o assunto, exposto num dos pontos de sua obra, Caminho: “Já viste, numa tarde triste de
outono, caírem as folhas mortas? Assim caem todos os dias as almas na
eternidade. Um dia, a folha caída serás tu”.
Não ouso acrescentar nada, caríssimo leitor. Que cada
um se aventure a terminar este artigo nas páginas de suas vidas.
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