Certa vez, ouvi de um filho cujos pais estavam na
iminência de se separarem, o seguinte desabafo: “sinto como se eu estivesse
sendo rasgado ao meio, ou melhor, talvez se isso me ocorresse, penso que isso
doeria menos que a separação deles”. A separação é algo muito comum hoje em
dia, porém, não se pode esquecer dos sofrimentos e traumas que causa nos
filhos.
Seria muito bom que os casais, em especial os que têm
filhos, decidissem de verdade a levar mais a sério o compromisso que assumiram.
A instituição do divórcio pela legislação não quer dizer que o casamento passou
a ser uma espécie de contrato por prazo determinado, algo semelhante a uma
locação em que se fixa, de antemão, um período de trinta meses. Também não pode
ser tido como uma aventura totalmente incerta, na qual cada um se reserva ao
direito de “pular fora do barco” logo que vier o primeiro ventinho contrário.
O Código Civil brasileiro, muito sabiamente, consagra
em seu artigo 1.511 que o casamento
estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres
dos cônjuges. Ora não é possível se estabelecer tal união de vida em
plenitude se cada um assume uma postura de cair fora quando vier a primeira
dificuldade.
Mas há situações em que a separação, por motivos que
não cabe aqui elencar, torna-se uma realidade irreversível. Exemplo disso é a
situação do homem ou da mulher cuja esposa ou marido abandona o lar e se nega a
tentar qualquer reconciliação. Nesse caso, o primeiro passo é não deixar que as
próprias frustrações, ou mesmo um certo complexo de culpa atrapalhe a educação
dos filhos. É comum nesses casos que se acabem sendo fracos na educação, não
impondo limites pensando em algo do tipo “coitadinho, já sofreu demais com a
separação”. Fazendo isso, porém, acaba-se por desrespeitar outro direito dos
filhos, que é a educação, e não há educação sem limites.
Mas um dos aspectos mais importantes é a postura que se
assume diante do filho em relação ao ex-marido ou ex-esposa. Há estudos que
apontam que a morte de um dos pais é evidentemente mais dolorosa que a
separação, mas costuma fazer menos mal para a educação. E o motivo provável é
que, após a morte, é freqüente que o cônjuge sobrevivente fale bem do outro, e que
nutra recordações saudáveis, de modo que os filhos, ainda que sofram muito,
mantêm a segurança de que seus pais se amavam, mas algo inevitável os separou.
Entre casais separados, porém, é muitíssimo comum
cada qual fazer comentários negativos sobre o outro diante dos filhos. E não há
atitude mais insana e nefasta para os filhos do que isso. Na verdade, o pai ou
a mãe que critica o outro diante do filho, no fundo denota uma postura egoísta,
que não sabe amar o filho de verdade. É que, salvo raras exceções, o filho
mantém vínculos afetivos muito fortes com o pai e com a mãe. Assim, quando se
critica o outro, quem sofre é o filho, que apesar de tudo ama a ambos.
Penso que seja possível manter uma educação saudável,
apesar da separação. Mas isso depende de que o pai e a mãe se esforcem por
lembrar das qualidades do outro e ressaltem isso diante dos filhos. Afinal,
duvido que seja possível encontrar alguém que somente tenha virtudes e outra
que só tenha defeitos. Qualquer pessoa, por pior que seja, tem sempre qualidades
que podem ser reconhecidas. E essas podem ser elogiadas e ressaltadas diante
dos filhos, que com isso sentirão a segurança de que tanto precisam. Terão
então olhos para enxergar que os pais, apesar de tudo, os amam de verdade. E,
repita-se, não demonstra que ama de verdade o filho o pai ou a mãe que não
respeita o outro, seja qual for o motivo da separação.
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