segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Lavagem cerebral

Tem sido freqüentes, sobretudo após o lançamento do livro e do filme O Código da Vinci, reportagens negativas sobre a Igreja Católica e, em especial, de uma instituição dela que o Opus Dei.
Assistindo a um programa de auditório em que a tônica era o sensacionalismo, uma das acusações lançadas é que o Opus Dei faz em seus membros uma verdadeira “lavagem cerebral”, motivo pelo qual eles seriam tão fanáticos. Tenho de admitir que a afirmação me deixou intrigado. Há tempos que participo dos meios de formação dessa instituição, de modo que me pus a pensar: “será que esse pessoal está fazendo ‘lavagem cerebral’ comigo e nem percebi?”.
Nem foi preciso pensar muito para concluir que de fato fazem lavagem cerebral mesmo. Numa das primeiras palestras que assisti, falava-se do matrimônio. E a pessoa dizia que o homem deve se esforçar por amar cada vez mais a sua esposa, que deve se esmerar em tratá-la com delicadeza, ajudando nos afazeres da casa. E depois disse ainda que o Fundador do Opus Dei costumava dizer aos maridos: “a tua esposa é a tua porta de entrada no céu”. E explicou que com isso se queria dizer que, para o homem casado, a felicidade consiste em doar-se cada vez mais à esposa. E essa pessoa que dava essa palestra contou também que São Josemaría, depois se dirigia às mulheres e dizia o mesmo: “o teu marido é a tua porta de entrada no céu”.
Acontece que esse mesmo tema (amar cada vez mais a esposa) se repete nos meios de formação, com algumas variações, mas com a mesma mensagem de fundo. Deve ser lavagem cerebral mesmo!
Outras vezes, ouvi dizerem sobre a educação dos filhos. E diziam que eles são uma grande dádiva que Deus nos concede, mas, ao mesmo tempo, nos confia a que lhes eduquemos com responsabilidade. Dizem que assim como Deus conta conosco para dar a vida, também conta para que os formemos para que sejam um dia responsáveis e felizes. E, para que isso fique bem gravado nesse processo de ‘lavagem cerebral’, periodicamente o mesmo tema é tratado de novo, com outras palavras, mas com a mesma idéia central.
E quanto ao trabalho. Aqui eles pegam mais pesado na ‘lavagem cerebral’. Toda vez se fala que o trabalho, seja ele qual for, deve ser bem feito, bem acabado, por amor ao próximo, que dele depende, mas por amor a Deus, a quem se deve servir. E falam também que nenhum trabalho é, em si, mais ou menos digno que outros, que o que torna mais digna qualquer atividade é o amor com que se a faz. E depois repetem, repetem, até que, com o tempo, a gente passa a achar que isso é assim mesmo, ou seja, que se deve trabalhar bem, com amor, mesmo nos trabalhos que, humanamente, pareçam mais insignificantes.
E vejo agora que eles são tão perspicazes nesse processo de lavagem cerebral que, com o tempo, a pessoa vai ficando como que ludibriada, pois, a vida em família cresce muito em qualidade. Com relação aos filhos, ainda que muito se sofra, são palpáveis os progressos que se vêem de nossa dedicação a eles. E no trabalho profissional então, passa o tempo e a gente começa a achar que de fato os trabalhos mais sem importância, aqueles que ninguém vai notar, também devem ser bem feitos, e já não se consegue fazer trabalhos marretados sem que a consciência nos acuse.
Depois de algum tempo escrevendo nesta coluna, caro leitor, percebi que uma coisa é essencial em quem se aventura a escrever ao público: a lealdade, que nos faz escrever somente aquilo que se pensa, e não exatamente o que seria gostaria de ler. E com essa total franqueza é que afirmo que é essa “lavagem cerebral” que tenho notado nos meios de formação do Opus Dei nestes anos todos.
Ah! Ia me esquecendo. Tem outra coisa que eles ficam martelando sempre também: que é importante termos bons e muitos amigos; que temos de nos dedicar com zelo aos nossos amigos; que se há de ter um radical e inviolável respeito pela liberdade de cada um, sobretudo em matéria de fé e que Deus conta conosco para sermos, nos ambientes em que vivemos, semeadores de paz e alegria.

Naquele programa de auditório, foi dito também que o Opus Dei é uma instituição secreta. Quanto a isso, se eu souber de mais alguma coisa, prometo que vos contarei em breve.

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