Muito se fala hoje em dia no meio empresarial em
qualidade total, em busca da excelência em tudo o que se propõe a fazer. E o
tema é tratado como questão de sobrevivência para qualquer empresa que pretenda
permanecer no mercado. Penso que esse afã por melhorar continuamente que tem
invadido as instituições e pessoas que as compõem são, em geral, boas, e, se
bem utilizados, podem de fato contribuir para o progresso da humanidade. Mas há
algo que também deveria ser alvo de grandes “investimentos” para um contínuo
aprimoramento e que tem caído no esquecimento de muitos: a pessoa humana
enquanto tal.
São freqüentes os cursos sobre de técnicas de vendas
e de convencimento ou de aprimoramento profissional, muitos deles abarrotados
de pessoas, ainda que se pague um custo elevado por isso. Por outro lado, são
não poucas as iniciativas que buscam aprimorar as qualidades humanas das
pessoas, cuja procura é demasiado pequena, se comparada com os benefícios que
trariam, ainda que muito pouco ou nada se cobre por isso. E o motivo não é
difícil de se encontrar: as pessoas acreditam e querem melhorar o mundo, mas se
esquecem de que, para isso, é preciso antes melhorar a si próprias, e melhorar
exatamente enquanto ser humano, nos seus atributos mais essenciais.
Pode-se conceituar a virtude como um hábito bom, como
uma certa disposição interna e duradoura da pessoa para atuar bem em
determinadas situações ou aspectos de sua vida. Não se tratam de atos isolados,
mas de uma certa tendência, que se adquire através de um esforço reiterado em
atuar de determinada maneira. Tomemos por exemplo a sinceridade. Pode ocorrer
desde a infância uma certa propensão a mentir, por vários motivos (livrar-se de
um apuro, encontrar uma desculpa para não fazer o que não se gosta etc), de
modo que, em certas situações, é custoso dizer a verdade. Porém, se a pessoa
vence uma barreira inicial e diz a verdade, ainda que isso aparentemente o
prejudica, e o faz uma vez e outra, e reiteradamente pratica o ato bom, chegará
um tempo em que lhe será muito custoso mentir e, ao contrário, fácil dizer a
verdade em qualquer situação. Pode-se dizer, assim, que adquiriu a virtude da
sinceridade.
E isso ocorre com as outras virtudes, como a
generosidade. Quanto a essa, é comum a criança, até certa idade, ser um pouco
egoísta, não querer compartilhar suas coisas com os demais. Assim, se ela é
ajudada oportunamente, custará vencer-se num primeiro momento a emprestar um
brinquedo, por exemplo. Mas na reiteração de atos em que se vencem as
resistências naturais, cria-se o hábito e, com ele a virtude.
O que muitos de nós ignoramos, porém, é que há fases
de nossas vidas em que se é mais fácil adquirir determinadas virtudes. Por
exemplo, a obediência, que mais tarde se transforma no respeito às normas existentes
numa sociedade, pode e deve ser trabalhada já na primeira infância, pois a
criança está muito mais receptiva a isso que o adulto. A laboriosidade, a
lealdade, o companheirismo, enfim, todas as demais têm suas idades ideais e, em
geral, são muito mais fáceis de serem arraigadas na pessoa se trabalhadas desde
a infância.
Para se ter uma idéia da importância de se educar a
virtude na hora certa, podemos fazer uma comparação com o estudo de línguas. Um
adulto que se dispõe a aprender um idioma, com esforço e dedicação, o
conseguirá. Porém, levará um tempo razoável e dificilmente eliminará por
completo o sotaque que terá na nova língua. À criança, ao contrário, podem ser
ensinadas várias línguas, e elas as apreenderá com muito mais facilidade e não
terá sotaques em nenhuma delas.
Atendo a isso, os pais e a escola têm grave obrigação
de ajudar os filhos e alunos a adquirir as virtudes desde pequenos, pois, do
contrário, os anos passam e tudo fica mais difícil, ainda que, nesse terreno,
nunca é tarde para começar, mas também nunca é cedo para justificar nada fazer.
É importante e é urgente que pais e escola, com
grande sintonia, tracem um plano inclinado para os filhos e alunos, ponderando
cada virtude pode e deve ser melhor trabalhada em cada fase de suas vidas.
E o mais interessante e positivo nisso é que as
virtudes nunca estão isoladas. Assim, é estimulante notar que, quando ajudamos
uma criança a ser generosa, ao mesmo tempo cresce nela a responsabilidade;
quando ela cresce em laboriosidade, cresce também em sinceridade.
E imaginemos como não será a nossa sociedade no
futuro com um trabalho sério e perseverante com nossas crianças nesse sentido.
Vale a pena – como diria o poeta – se a alma não é pequena.
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