quarta-feira, 19 de julho de 2006

Rotina e felicidade no matrimônio

Hoje gostaria de voltar a falar da vida matrimonial. Confesso, porém, ando sem idéia. Atribulado com isso, minha esposa, sabendo da preocupação, trouxe-me um capítulo de um livro fantástico, que vale a pena ser transcrito:
Lembro-me do Gilberto e da Cida. Acompanhei as suas vidas desde o início do casamento. Amavam-se muito. Gilberto, jovem advogado que achava lindíssima a sua ‘Cidinha’, trabalhou muito e prosperou.
Depois de catorze anos de casamento, Gilberto disse-me um dia:
- O meu casamento entrou em crise. Morro de tédio e monotonia. Todos os dias, quando me levanto, vejo a Cida despenteada, sem se arrumar, horrorosa, com os pés enfiados nuns chinelos horríveis que não troca faz quinze anos, arrastando-se pelos corredores, cansada... Abro a porta do quarto e encontro as crianças, que já são adolescentes, discutindo, brigando... A minha casa parece um zoológico...
“Depois, chego ao escritório e encontro lá a Mônica, uma estagiária. O panorama muda da água para o vinho. Ela é encantadora. Acho que tem uma queda por mim... Aproxima-se, charmosa...: “O senhor parece cansado...; não quer que lhe traga uma aspirina com uma coca-cola?” E afasta-se com um andar cadenciado que arrebata... Estou perdendo a cabeça.. Em casa, sinto-me acorrentado... Tenho necessidade de libertar-me. Por que condenar-me à prisão de um amor que já morreu? O contraste entre a Mônica e a Cidinha é muito forte... Não sei, não... O que me aconselha?...
- Eu lhe daria quatro conselhos – respondi -, mas preciso antes que você me diga se está disposto a cumpri-los.
-         Sempre aceitei e pratiquei os seus conselhos, e não é agora, neste momento crítico, que deixarei de segui-los!
-         O primeiro – prossegui -, é que mande embora a estagiária...
-         Não! Isso não!!
-         Prometeu seguir os meus conselhos... Ao menos, dê-lhe trinta dias de férias remuneradas...
-         Isso sim, posso fazer...
-         Em segundo lugar – acrescentei – leve seu filho mais velho à igreja em que você se casou, e, diante do altar e do sacrário onde você prometeu à Cida que a amaria até que a morte os separasse, diga ao seu filho que pensa trocar a mãe dele pela Mônica... Já imaginou o que lhe responderá esse seu filho, que lhe parece um “bicho de zoológico”, mas que ama o pai mais do que tudo no mundo? Quer que lhe diga?: “Pai, esperaria qualquer coisa de você, menos que fizesse uma cachorrada dessas com a minha mãe”...
-         O senhor está sendo duro demais – retrucou o meu amigo.
-         Não. Pense que estou apenas adiantando o que, muito provavelmente, lhe dirá o seu filho...
-         Terceiro conselho: olhe a Cida com outros olhos, como a mãe dos seus filhos, como aquela que perdeu a juventude e a beleza ao seu lado, que já fez o papel de enfermeira – quantos remédios ela já não lhe levou à cama! -, mãe e companheira amorosa; e, especialmente, recomendo que aprofunde mais na sua vida espiritual, que está muito desleixada: daí tirará forças. E, por último, antes de ter essa conversa com o seu filho, espere que eu fale com a Cida... Diga-lhe que marque uma hora comigo...
Veio a Cida, toda inocente, desarrumada, despenteada:
-         Cida, por favor, arrume a “fachada” e... compre outros chinelos!
A Cida era inteligente. Foi ao cabeleireiro, comprou roupas novas, uns chinelos novos, tornou-se mais carinhosa com o Gilberto, preparou as “comidinhas” de que ele gostava... e terminou “reconquistando” o marido.
Quando a Mônica voltou de férias, o Gilberto dispensou-a sumariamente. (CIFUENTES, Rafael Llano. AS CRISES CONJUGAIS. São Paulo: Quadrante, 2001).
Mas... Eu ainda não escrevi nada. Aliás, a transcrição ficou tão grande que consultei a lei de direitos autorais... Quanto a isso não há problema, pois, além de permitida pela lei a citação, tenho a autorização “tácita” de D. Rafael. Mas ainda não disse nada sobre matrimônio...
Pior, enquanto medito no que escrever, sou freqüentemente interrompido por meu filho, João, que pinta uns peixes como lição de casa. E a cada nova pintura, pergunta: “Pai, está bonito?”. “Sim” – respondo sem dar-lhe muita atenção. Mas ele insiste: “Pai, qual é o mais bonito de todos?”. “O número sete”, respondo. Depois de tantas interrupções, desabafo: “Filho, até quando vai me perguntar qual dos peixes está mais bonito?”. “Até terminar”, responde ele imediatamente.
Que desejo tem essa criança de fazer o melhor que pode por mim! - conclui então cheio de vergonha. Sem palavras bonitas, ensinou-me o João o segredo da felicidade no matrimônio: que cada um busque até o fim fazer o que é melhor para o outro.

Caro leitor, desculpe-me, mas estou ainda sem idéia. Ouça, pois, apenas o João e D. Rafael.

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