No ano passado, eu e minha esposa fomos convidados a
comparecer à escola dos nossos filhos menores. O motivo era participar de uma
preceptoria. A palavra não me soou como novidade, pois, antes de efetuarmos a
matrícula, já haviam nos explicado em que consistia isso. Porém, na prática,
ainda não havíamos visto isso funcionando.
Trata-se de uma reunião entre o pai, a mãe e a
professora da criança, por vezes também acompanhada pela coordenadora do curso,
em que se conversa sobre a situação do aluno, são ressaltados seus pontos
positivos e, em seguida, chega-se a um consenso sobre um aspecto da criança em
que ela pode melhorar, seja para desenvolver uma virtude, seja para corrigir
algum problema.
Naquela ocasião, nossa filha, que era tida por todos
como “engraçadinha”, na verdade já estava se tornando uma verdadeira tirana. Apesar
de suas rebeldias, tudo o que fazia era tão “bonitinho” que ninguém se
preocupava em tomar uma atitude. Mas o fato é que foi diagnosticado bem a tempo
que aquilo que parecia sem importância, num futuro não muito distante se
transformaria em sério problema para sua formação.
Durante a conversa, a minha primeira reação foi de
surpresa ao constatar que a professora e coordenadora a conheciam melhor que eu
mesmo. Com efeito, expuseram aspectos do caráter para os quais ainda não havia
me atentado. Em seguida, o espírito observador delas, atributo dos bons
pedagogos, permitiu que fizessem um relato de muitas qualidades da criança que
poderiam ser bem aproveitados em sua formação. Mas, como todas as pessoas, há
sempre aspectos em que se pode melhorar. No caso dela, a conclusão unânime a
que chegamos juntos foi de que poderia melhorar na virtude da obediência.
E aqui chegou o ponto mais interessante da reunião. É
que, extraída essa conclusão, não ouvimos da escola algo do tipo: “bem, agora
que descobrimos que o problema é a obediência, vejam lá vocês, pais, o que irão
fazer para que sua filha obedeça”. Estávamos já esperando que nos entregassem o
problema para sairmos ruminando a forma de resolvê-lo. Mas não. O desfecho foi,
para nós, incrivelmente diferente. Detectado um ponto a ser trabalhado, logo em
seguida passou-se aos aspectos práticos, a uma verdadeira estratégia de
atuação. “Aqui na escola, cuidaremos para que quando ela tiver suas crises de
autoritarismo, que todos ajam com carinho, mas com firmeza e não arredem os pés
até que obedeça”, expôs a coordenadora. Em seguida, deu algumas sugestões à mãe
e, por fim, chegou a minha vez: “e quanto a você, pai, sugiro que se esforce
por voltar à casa após o trabalho um pouco mais cedo, de modo a ter tempo de
brincar com ela, pois é provável que as rebeldias sejam uma forma de tentar
chamar-lhe a atenção”. Colocado o plano em ação, os resultados foram
fantásticos.
Agora que essas reuniões periódicas no colégio fazem
parte de nossas vidas, por vezes tendemos a esquecer o quanto é importante para
os pais ter com quem compartilhar os problemas que enfrentam na educação e,
principalmente, encontrar na escola um parceiro bem afinado com quem se pode
contar para a formação dos filhos.
No mundo dos negócios, com uma concorrência cada vez
mais acirrada, já se tornou uma prática nas empresas buscarem parceiros e
zelarem pelo bom andamento dessas parcerias. É que se descobriu que a união de
esforços para atingir objetivos comuns é a melhor forma e, por vezes a única
verdadeiramente eficaz, para resolver os problemas que se apresentam. É que
juntos se pode sempre chegar mais longe e em menos tempo.
E há empreendimento mais importante que a formação
dos filhos? Quem nunca ouviu com um certo estremecimento aquela advertência:
“não há sucesso profissional que compense o fracasso no lar”?
Tal como a globalização e a concorrência voraz trazem
desafios enormes às empresas, também a vida no mundo moderno impõe muitas
dificuldades na educação dos filhos: drogas, violência, desesperança. Assim,
tal como o fizeram os bons empresários, os pais têm de encontrar parceiros
muito leais, que agem em total sintonia e profundamente comprometidos com o sucesso
do empreendimento mais importante de suas vidas: os filhos.
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