Com o propósito de evitar o “assédio sexual” sofrido
por mulheres em trens urbanos e metrô, o Estado do Rio de Janeiro aprovou uma
lei que obriga as empresas a destinarem um vagão exclusivo para elas. A
iniciativa gera certa perplexidade e também muitas dúvidas. Fico pensando se
ocorrer de alguma mulher entrar em algum vagão que não seja exclusivo, poderia
ser interpretado que aceita ser assediada? E os homens que descumprem a regra,
são potenciais autores de crime contra a liberdade sexual?
Mais uma vez tenta-se resolver por meio de lei um
problema que não é passível de solução legislativa, mas somente com educação.
Mas, se pensarmos bem, de que tipo de educação estamos falando? Ou, melhor
dizendo, como se pode educar para não se assediar as mulheres?
Um aspecto muito importante da educação para o qual
não se tem dado a devida atenção, e muito menos se tem tomado iniciativa para o
pôr em prática, é o de educar a vontade. Numa sociedade hedonista e permissiva
em que vivemos, onde o prazer se converte no fim último buscado por muitas
pessoas, e o sacrifício em busca de ideais nobres soa como heresia, é difícil
falar em educação da vontade. Mas acredito que é a falta disso que tem
acarretado aberrações como a do assédio de mulheres, as agressões praticadas
por filhos contra os pais e, mesmo, o aumento exorbitante da criminalidade.
É muito comum que as crianças passem muitas horas
diante da tevê, do computador ou do videogame, sem nenhum controle ou limite
por parte dos pais. E quando se pensa em fazer algo para conter isso, é comum
que os pais pensem: “deixem-nas lá, ao menos estão quietas e se divertindo”.
Acontece que o fazer o que gosta o tempo todo faz delas pessoas fracas, que não
aceitam ser contrariadas, incapazes de esforços em favor dos outros.
A vontade pode e deve ser educada, e sem isso não se
formam pessoas de verdade. Quando se cuida disso, alcançam-se resultados muito
positivos. Pequenos hábitos de fortaleza, como exigir que se assista televisão
sentado e não esparramado pelo chão, não deixar que se fique comendo qualquer
coisa que queiram e a qualquer hora, ter um horário fixo para as atividades de
lazer, para as brincadeiras, mas também para o estudo, são atitudes que, ainda
que custem para os filhos e muito mais para os pais que exigem isso, servem
para que adquiram um auto-domínio e sejam capazes de se portarem como homens e
mulheres de verdade.
Ao contrário, quando não se estimula em atitudes bem
concretas esse controle dos próprios instintos, é que surgem as aberrações, em
vários aspectos da vida social. É o caso do aluno que agride o professor porque
não está acostumado a ser contrariado. É o caso dos viciados em drogas e
álcool, pois sempre puderam comer e beber o que querem e a hora que querem, e,
agora que deixaram de ser criança, também não conseguem conter os mesmos
impulsos. É enfim, o caso do assediador que, quando tinha vontade de jogar
videogame, lhe permitiam, quando queria ficar esparramado pelo chão sem fazer
nada, também lhe consentiam, agora, tem vontade de agarrar a moça no trem,
agarra, ainda que não lho permitam.
Lembro-me de um episódio bem pitoresco de minha
infância. Estava eu em uma fazenda para andar a cavalo. Foi-me preparado um
cavalo manso, mas, ao lado, havia outro de aparência bem mais bonita e
imponente. “Eu quero andar nesse”, disse eu ao peão que iria me acompanhar, a
quem se chamava familiarmente de Edião. Mas o Edião me disse que naquele cavalo
seria perigoso, pois era um “cavalo inteiro”. Essa expressão “inteiro”
significa que o animal não é castrado. Não entendi nada, mas aceitei, afinal o
Edião era o melhor amansador de cavalos que se conhecia, e sabia o que estava
falando.
Após um tempo de cavalgada, notei que o Edião tinha
grande dificuldade de conter o seu cavalo, que relinchava e sacudia a cabeça
com muito vigor. “Tá vendo porque não deixei você montar neste cavalo? Ele
percebeu uma égua no cio que está apartada em outro pasto, e agora não tem quem
o segura...”. O meu cavalo, capão, como se dizem, permanecia imperturbável com
aquilo tudo. Mas o Edião conseguiu segurar o seu cavalo, afinal ele era um peão
muito experiente e treinava como domar os animais há muito tempo, de modo que
manteve as rédeas firmes.
E nós, homens, será que por sermos racionais não
somos capazes de domar a nós próprios? Ou teremos de andar “apartados” delas em
outros vagões para não assediá-las? Esse controle exige treino, que deve
começar bem cedo. Porém, mais que isso, exige formação; trata-se de dizer aos
nossos filhos e alunos, com palavras e com o exemplo, que, diferente do que
ocorre com os cavalos, para os seres humanos o sexo é ato de amor, de entrega, a ser praticado
entre um homem e uma mulher unidos por laços que os projetam para a eternidade.
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