quarta-feira, 3 de maio de 2006

“Vagão exclusivo para mulheres”

Com o propósito de evitar o “assédio sexual” sofrido por mulheres em trens urbanos e metrô, o Estado do Rio de Janeiro aprovou uma lei que obriga as empresas a destinarem um vagão exclusivo para elas. A iniciativa gera certa perplexidade e também muitas dúvidas. Fico pensando se ocorrer de alguma mulher entrar em algum vagão que não seja exclusivo, poderia ser interpretado que aceita ser assediada? E os homens que descumprem a regra, são potenciais autores de crime contra a liberdade sexual?
Mais uma vez tenta-se resolver por meio de lei um problema que não é passível de solução legislativa, mas somente com educação. Mas, se pensarmos bem, de que tipo de educação estamos falando? Ou, melhor dizendo, como se pode educar para não se assediar as mulheres?
Um aspecto muito importante da educação para o qual não se tem dado a devida atenção, e muito menos se tem tomado iniciativa para o pôr em prática, é o de educar a vontade. Numa sociedade hedonista e permissiva em que vivemos, onde o prazer se converte no fim último buscado por muitas pessoas, e o sacrifício em busca de ideais nobres soa como heresia, é difícil falar em educação da vontade. Mas acredito que é a falta disso que tem acarretado aberrações como a do assédio de mulheres, as agressões praticadas por filhos contra os pais e, mesmo, o aumento exorbitante da criminalidade.
É muito comum que as crianças passem muitas horas diante da tevê, do computador ou do videogame, sem nenhum controle ou limite por parte dos pais. E quando se pensa em fazer algo para conter isso, é comum que os pais pensem: “deixem-nas lá, ao menos estão quietas e se divertindo”. Acontece que o fazer o que gosta o tempo todo faz delas pessoas fracas, que não aceitam ser contrariadas, incapazes de esforços em favor dos outros.
A vontade pode e deve ser educada, e sem isso não se formam pessoas de verdade. Quando se cuida disso, alcançam-se resultados muito positivos. Pequenos hábitos de fortaleza, como exigir que se assista televisão sentado e não esparramado pelo chão, não deixar que se fique comendo qualquer coisa que queiram e a qualquer hora, ter um horário fixo para as atividades de lazer, para as brincadeiras, mas também para o estudo, são atitudes que, ainda que custem para os filhos e muito mais para os pais que exigem isso, servem para que adquiram um auto-domínio e sejam capazes de se portarem como homens e mulheres de verdade.
Ao contrário, quando não se estimula em atitudes bem concretas esse controle dos próprios instintos, é que surgem as aberrações, em vários aspectos da vida social. É o caso do aluno que agride o professor porque não está acostumado a ser contrariado. É o caso dos viciados em drogas e álcool, pois sempre puderam comer e beber o que querem e a hora que querem, e, agora que deixaram de ser criança, também não conseguem conter os mesmos impulsos. É enfim, o caso do assediador que, quando tinha vontade de jogar videogame, lhe permitiam, quando queria ficar esparramado pelo chão sem fazer nada, também lhe consentiam, agora, tem vontade de agarrar a moça no trem, agarra, ainda que não lho permitam.
Lembro-me de um episódio bem pitoresco de minha infância. Estava eu em uma fazenda para andar a cavalo. Foi-me preparado um cavalo manso, mas, ao lado, havia outro de aparência bem mais bonita e imponente. “Eu quero andar nesse”, disse eu ao peão que iria me acompanhar, a quem se chamava familiarmente de Edião. Mas o Edião me disse que naquele cavalo seria perigoso, pois era um “cavalo inteiro”. Essa expressão “inteiro” significa que o animal não é castrado. Não entendi nada, mas aceitei, afinal o Edião era o melhor amansador de cavalos que se conhecia, e sabia o que estava falando.
Após um tempo de cavalgada, notei que o Edião tinha grande dificuldade de conter o seu cavalo, que relinchava e sacudia a cabeça com muito vigor. “Tá vendo porque não deixei você montar neste cavalo? Ele percebeu uma égua no cio que está apartada em outro pasto, e agora não tem quem o segura...”. O meu cavalo, capão, como se dizem, permanecia imperturbável com aquilo tudo. Mas o Edião conseguiu segurar o seu cavalo, afinal ele era um peão muito experiente e treinava como domar os animais há muito tempo, de modo que manteve as rédeas firmes.

E nós, homens, será que por sermos racionais não somos capazes de domar a nós próprios? Ou teremos de andar “apartados” delas em outros vagões para não assediá-las? Esse controle exige treino, que deve começar bem cedo. Porém, mais que isso, exige formação; trata-se de dizer aos nossos filhos e alunos, com palavras e com o exemplo, que, diferente do que ocorre com os cavalos, para os seres humanos o sexo é  ato de amor, de entrega, a ser praticado entre um homem e uma mulher unidos por laços que os projetam para a eternidade.

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