Recente
apreensão feita em residência de integrante do PCC revela que a facção
criminosa possui regras muito bem definidas e uma hierarquia bem estruturada. A
organização possui até uma “cartilha”, cujo primeiro item traz como lema “lealdade, respeito e solidariedade”.
Lealdade, respeito e solidariedade. O
mandamento não parece nada ruim, ao contrário, essas palavras poderiam mesmo
ser consideradas como pilares de qualquer instituição que pretenda ser
duradoura. Uma dúvida que se coloca, porém, é como uma entidade voltada para o
crime pode ter como lema ideais tão nobres?
A resposta não é difícil. É que, para
eles, lealdade, respeito e solidariedade são mandamentos a serem vividos entre
os integrantes da facção criminosa. Todas as demais pessoas, em princípio, são
inimigos, ou, quando menos, alguém de quem se possa obter proveito econômico
através do roubo, do tráfico de entorpecentes e outros delitos.
Mas será que a nossa sociedade também
não está recheada em seu bojo de redutos fechados que buscam o proveito de seus
membros? Será que não há uma mentalidade do tipo “quero que você me aqueça
nesse inverno e que tudo o mais vá pro o inferno”?
Não pretendo com essas indagações
justificar ou dar como aceitáveis as condutas dos membros dessa organização
criminosa. Mas se em nossa sociedade se vivesse de verdade a lealdade, o
respeito e a solidariedade para com todos, seria por certo muito mais difícil
surgir dentro dela organizações que se voltam contra a própria sociedade.
As palavras que compõem esse mandamento
do PCC não nos são desconhecidas. A sociedade brasileira foi constituída sob
uma forte influência do cristianismo, a tal ponto que podemos dizer que os
nossos valores são valores cristãos.
Por esse motivo sabemos muito bem o que
é lealdade. Afinal, tanto se prima pela lealdade no cristianismo que Cristo se
intitula como o “Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas”. E condena o
mercenário que não é leal com suas ovelhas, abandonando-as quando o lobo as
ataca.
O mesmo se dá com o respeito. Quanto a
esse, porém, a mensagem cristã vai além, recheando-o de benevolência. Jesus dá
mostras disso nos diversos milagres em que cura os leprosos, dá a vista aos
cegos, faz os coxos andarem, deixando claro que não apenas os respeita como
seres humanos, mas, mais que isso, que se interessa de fato por eles, indo ao
seu encontro para os aliviar de suas aflições.
Solidariedade. Quem não conhece a
parábola do bom samaritano? Mas aqui o Mestre toca na raiz do que seja
solidariedade e exclui a possibilidade de se vivê-la apenas para com os membros
de um grupo fechado. O Senhor colocou um samaritano para ser o solidário com
aquele ferido exatamente por considerar a rivalidade existente entre eles e os
judeus, deixando bem claro que o nosso próximo, com o qual devemos ser
solidários, são todos os seres humanos e não apenas os “irmãozinhos” dessa ou
daquela entidade.
O cristianismo tem, pois, a receita
perfeita para construir uma sociedade mais humana. Basta que resgatemos e
vivamos os seus valores.
Infelizmente, porém, querem agora
através de um livro convertido em filme, ambos sem nenhum embasamento histórico
confiável, suscitar uma dúvida acerca da pessoa de Cristo. Alguém de uma
imaginação muito fértil cria uma nova “versão” da pessoa de Jesus. O próprio
escritor admite que tudo aquilo é uma ficção, porém, suficiente para suscitar
dúvidas naqueles que, ainda que arrotem arrogantes teses filosóficas, não
conhecem os fundamentos da mensagem cristã. Não conhecem, é bom que se diga,
porque essa é revelada aos “pequeninos” e está oculta aos “sábios e aos
doutores”.
Caro leitor, o momento é de fato muito
grave. O PCC quer roubar o respeito, a lealdade e a solidariedade apenas para os
seus membros, mas os autores dessa estória de mau gosto querem fazer com que nós
desacreditemos do próprio Autor do respeito, da lealdade e da solidariedade.
Fazem, portanto, um mal muito maior, até porque agem de forma mais sorrateira e
ardilosa. Afinal, sabem que a mentira mais atraente é aquela que vem muito bem
adornada de pequenas verdades.
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