quarta-feira, 24 de maio de 2006

O PCC e o Código Da Vinci

Recente apreensão feita em residência de integrante do PCC revela que a facção criminosa possui regras muito bem definidas e uma hierarquia bem estruturada. A organização possui até uma “cartilha”, cujo primeiro item traz como lema “lealdade, respeito e solidariedade”.
Lealdade, respeito e solidariedade. O mandamento não parece nada ruim, ao contrário, essas palavras poderiam mesmo ser consideradas como pilares de qualquer instituição que pretenda ser duradoura. Uma dúvida que se coloca, porém, é como uma entidade voltada para o crime pode ter como lema ideais tão nobres?
A resposta não é difícil. É que, para eles, lealdade, respeito e solidariedade são mandamentos a serem vividos entre os integrantes da facção criminosa. Todas as demais pessoas, em princípio, são inimigos, ou, quando menos, alguém de quem se possa obter proveito econômico através do roubo, do tráfico de entorpecentes e outros delitos.
Mas será que a nossa sociedade também não está recheada em seu bojo de redutos fechados que buscam o proveito de seus membros? Será que não há uma mentalidade do tipo “quero que você me aqueça nesse inverno e que tudo o mais vá pro o inferno”?
Não pretendo com essas indagações justificar ou dar como aceitáveis as condutas dos membros dessa organização criminosa. Mas se em nossa sociedade se vivesse de verdade a lealdade, o respeito e a solidariedade para com todos, seria por certo muito mais difícil surgir dentro dela organizações que se voltam contra a própria sociedade.
As palavras que compõem esse mandamento do PCC não nos são desconhecidas. A sociedade brasileira foi constituída sob uma forte influência do cristianismo, a tal ponto que podemos dizer que os nossos valores são valores cristãos.
Por esse motivo sabemos muito bem o que é lealdade. Afinal, tanto se prima pela lealdade no cristianismo que Cristo se intitula como o “Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas”. E condena o mercenário que não é leal com suas ovelhas, abandonando-as quando o lobo as ataca.
O mesmo se dá com o respeito. Quanto a esse, porém, a mensagem cristã vai além, recheando-o de benevolência. Jesus dá mostras disso nos diversos milagres em que cura os leprosos, dá a vista aos cegos, faz os coxos andarem, deixando claro que não apenas os respeita como seres humanos, mas, mais que isso, que se interessa de fato por eles, indo ao seu encontro para os aliviar de suas aflições.
Solidariedade. Quem não conhece a parábola do bom samaritano? Mas aqui o Mestre toca na raiz do que seja solidariedade e exclui a possibilidade de se vivê-la apenas para com os membros de um grupo fechado. O Senhor colocou um samaritano para ser o solidário com aquele ferido exatamente por considerar a rivalidade existente entre eles e os judeus, deixando bem claro que o nosso próximo, com o qual devemos ser solidários, são todos os seres humanos e não apenas os “irmãozinhos” dessa ou daquela entidade.
O cristianismo tem, pois, a receita perfeita para construir uma sociedade mais humana. Basta que resgatemos e vivamos os seus valores.
Infelizmente, porém, querem agora através de um livro convertido em filme, ambos sem nenhum embasamento histórico confiável, suscitar uma dúvida acerca da pessoa de Cristo. Alguém de uma imaginação muito fértil cria uma nova “versão” da pessoa de Jesus. O próprio escritor admite que tudo aquilo é uma ficção, porém, suficiente para suscitar dúvidas naqueles que, ainda que arrotem arrogantes teses filosóficas, não conhecem os fundamentos da mensagem cristã. Não conhecem, é bom que se diga, porque essa é revelada aos “pequeninos” e está oculta aos “sábios e aos doutores”.

Caro leitor, o momento é de fato muito grave. O PCC quer roubar o respeito, a lealdade e a solidariedade apenas para os seus membros, mas os autores dessa estória de mau gosto querem fazer com que nós desacreditemos do próprio Autor do respeito, da lealdade e da solidariedade. Fazem, portanto, um mal muito maior, até porque agem de forma mais sorrateira e ardilosa. Afinal, sabem que a mentira mais atraente é aquela que vem muito bem adornada de pequenas verdades.

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