Como exercer a autoridade
com os filhos na medida certa? Talvez seja essa uma das maiores dúvidas e causa
de divergências dos pais de nosso tempo.
Antes, porém, de achar a dose certa, é preciso entender o que é autoridade. Sem
pretender formular um conceito científico, gosto da definição de autoridade
como sendo um tipo de influência exercida pelo que manda para o bem do que
obedece. Há uma relação de poder e de sujeição no exercício da autoridade, mas
essa somente é legítima se exercida em benefício de quem a ela está sujeito.
No entanto, é conhecida a afirmação de que “ninguém pode dar o que não tem”.
Assim, para exercer a autoridade, os pais têm de adquiri-la antes. E ela não
será verdadeiramente exercida se faltar o prestígio dos pais. E o prestígio se
obtém na luta por adquirir virtudes, tais como serenidade, naturalidade, bom
humor, dedicação, saber escutar, compreender, desculpar, exigir, coerência,
constância, fortaleza, dentre outras. Por exemplo, os pais que se esforçam por
ser leais aos compromissos assumidos e que também se esforçam por estar
presentes nas reuniões escolares de seus filhos adquirem um grande prestígio
com eles.
Também é muito importante que haja sintonia entre o pai e a mãe. Nada
enfraquece mais a autoridade do que discutirem na frente dos filhos. É natural
que haja divergências na hora de decidir, por exemplo, se é conveniente ou não
ir à excursão da escola. Nesse caso, ambos devem decidir a sós e, tomada a
decisão, seja ela qual for, diante do filho ou da filha a decisão deve ser dos
dois, sem mais discussões e, certa ou errada, ambos assumem a responsabilidade.
O mau exercício da autoridade traz graves conseqüências para os filhos,
inclusive em sua fase adulta. Um desses desvios de autoridade é o paternalismo,
que consiste na figura do “super-pai” ou da “super-mãe”, que são aqueles que
fazem tudo para os filhos, por exemplo, têm eles já oito anos e ainda sequer
colocam o uniforme da escola sozinhos. Nesse caso, na fase adulta, costumam ser
muito indecisos e inseguros.
Outro desvio é o autoritarismo, que é o pai ou a mãe extremamente severo, que
incute no filho forte temor de modo que se obedece exclusivamente por medo.
Nesse caso, costuma-se surgir dois tipos de conseqüências. Uma delas é que
surjam filhos hipócritas, ou seja, como estão acostumados a obedecer apenas por
medo, pensam que podem fazer qualquer coisa errada, conquanto que não o
descubram. Outra conseqüência desse mau uso da autoridade é que os filhos sejam
submissos, dependentes dos pais, mesmo na fase adulta e já com família
constituída.
Um terceiro mau uso da autoridade é o permissivismo, que consiste em permitir
tudo, pois dizer muito “não” vai traumatizar, pensam. Nesse caso, na verdade,
os filhos não se sentem amados, pois a mensagem que se passa é que não gostam
deles, por isso que tudo permitem. A conseqüência dessa educação desleixada é
que os filhos cresçam sem valores perenes, com sérias dificuldades de assumirem
compromissos duradouros, tanto na vida familiar, como na profissional.
Soube da história de um garoto que, durante uma viagem com os colegas de escola
para um acampamento, queixava-se com o professor de que seus pais não lhe davam
liberdade, que dependia da autorização deles para quase tudo. Esse bom
professor deu ao aluno uma brilhante lição, que merece ser contada:
“Seus pais não permitem que você faça tudo o que quer porque o amam. Veja esse
pequeno riacho, em sua nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que
ocorre com uma criança pequena, de tudo dependem dos pais. O riacho, conforme
vai avançando, as suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que
deságüe no mar, onde não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os
filhos. A autoridade dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao
destino. Quanto maior o rio, mais distantes as margens, quanto maior e mais
responsável o filho, maior pode ser a sua autonomia. E veja, que bom que é a
margem, imagine o que seria do rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a
margem é menos resistente, parte da água caiu para fora e apodrece à beira do
rio, não chegará no mar. Assim acontece com os filhos que possuem pais fracos,
que não desempenham a obrigação de exercer a autoridade: deixam seus filhos
perdidos nas ribanceiras do mundo, não chegam ao mar".