É Natal. De lado os presentes, festas e luzes
nos centros comerciais, o verdadeiro significado do Natal se esconde no
reencontro que temos com cada um daqueles personagens que contemplamos no
presépio. É tempo oportuno que nos deve levar a pedir perdão a alguém. É
momento propício para fazermos pequenos sacrifícios pelos demais. Visitar os
doentes, escutar com paciência a mesma longa história daquele velhinho, que
passou o ano sem que lhe ouvissem. Nesses dias é oportuno fazer uma revisão
profunda na própria consciência e verificar como temos amado e nos dedicado aos
filhos, pais, amigos, colegas de trabalho... Para nos ajudar nessa breve
reflexão, acredito que seja interessante nos determos em quatro passagens que
circundam o grande acontecimento que hoje celebramos.
A Viagem a Belém.
Como se sabe, o nascimento ocorreu em Belém,
apesar de não ser ali a residência de José e de Maria porque, naquele tempo, o
imperador Augusto ordenou que se fizesse um censo de todo o mundo. O recenseamento
deveria ser feito na região dos antepassados e em Belém havia nascido o rei
David, de quem José era descendente.
Reparemos no exemplo magnífico de José, em que
ele leva Maria com o menino no seu ventre, buscando formas de proteger os dois,
atento, fiel, nobre e generoso. Sua função é cuidar da mulher e do menino por
nascer. Que formosa passagem! Esse é verdadeiro espírito do Natal. José é o
verdadeiro exemplo a ser imitado por nós, pais de família. Com que solicitude e
carinho tratamos a nossa esposa? Interessamos por seus problemas, anseios e
aspirações? Ou nos limitamos a nos derramar na poltrona, como o copo de cerveja
ao lado, enquanto ela, aflita, prepara o almoço? Dispensamos atenção aos
filhos, incutindo neles o mesmo espírito, ou cuidamos que brinquem com os
presentes que ganharam de modo a, na medida do possível, não nos incomodar
nesse dia de muita comilança e muita
bebida?
O Nascimento.
Essa passagem é de todos conhecida, embora nem
tanto imitada. “E aconteceu completarem-se os dias em que deveria dar à luz, e
deu à luz o seu filho primogênito, e O
enfaixou, e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na
hospedaria” (Lc 2, 6-7).
Reparemos na delicadeza da Mãe. Faltava-lhes
tudo. O menino nasceu num curral, com o cheiro característico desse local, que
a ninguém agrada. Mas, ao mesmo tempo, podemos vislumbrar a criatividade com
que se converteu o lugar inóspito em algo acolhedor, com sabor e calor de lar.
Maria é um convite perene às mulheres de todos os tempos para que reconheçam o
seu papel de primazia na condução dos rumos da sociedade. Ouso repetir para que
fique bem claro, muito mais que aos homens, a elas cabe traçar os rumos da
humanidade. É que lhes cabe a função de criar nos lares um ambiente de paz,
serenidade e alegria que tanto contribui para que os filhos desenvolvam as suas
personalidades e, portanto, assim formados, construam um mundo melhor.
Em nosso tempo, observamos um incrível
crescimento da participação da mulher nos mais diversos setores da sociedade:
são políticas, magistradas, altas executivas, operárias. Desempenham, enfim,
papel de relevo também fora do lar, onde já contribuem de maneira fantástica
para o desenvolvimento social. Mas o local em que ocupam o cargo de
diretora-presidente, com caráter vitalício e inamovível é no lar. E
desempenhando trabalho externo, não podem nunca esquecer que somente ela pode
dar à casa o doce sabor de lar, cuidando dos pequenos detalhes que tornam
agradável o convívio familiar. E a nós, homens, nessa empresa, além de operários,
encarregados de serviços diversos, o maior cargo que podemos almejar é o de
consultor geral da diretora-presidente ou, para os muito ambiciosos, ministro
da economia.
A Adoração dos Magos.
Esses sábios viajaram muitos dias para
contemplar esse fato extraordinário. E levaram
presentes muito caros para a época. Mas o maior presente que deram foi a
si próprios. Sim, dar-se ao Menino e, por Ele, aos demais. Natal é tempo de
reflexão e, por conseqüência, de propósitos. Qual foi nossa disposição e ação
em benefício do próximo neste ano que se finda? Que faremos concretamente no
vindouro? Que o afã das muitas ocupações diárias não ofusquem o brilho da
estrela que guiou esses sábios. E se ela por momentos se apagar, tal como o fez
a eles, tenhamos persistência, vale a pena.
A Fuga ao Egito.
Mas a cena de paz e serenidade será
interrompida pelo prenúncio indesejável: querem matar o Menino. Tal sucede
também com nossos planos. Inflamamos de desejos nobres para o próximo ano,
desejos de dedicarmos aos filhos, esposo, esposa e eis que... vêm as
dificuldades. Desesperemo-nos? Não, jamais. Que nos importam as dificuldades,
se elas se esvanecem, uma a uma, se, no fim e ao cabo, não é a nós que
procuramos, mas o bem dos outros? E ademais, se pensarmos bem, as nossas dificuldades,
comparadas a desses adoráveis personagens, que tiveram de viajar centenas de
quilômetros, a pé, pelo deserto, muito pouco temos de padecer. A felicidade que
nos aguarda, porém, já no tempo presente, é a mesma. É a paz e a serenidade de
quem caminha para a vida, enfim, a alegria do Natal.
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