Uma mãe contou-me, certa vez, que se reuniu com o marido, já tarde da
noite, para tratar de um problema com o filho: o garoto não obedece. Depois de
uns minutos de conversa e, sem nenhuma conclusão, o pai disse: “mas não há
muito que se preocupar, faltam apenas dez dias de férias. Com a volta às aulas,
quem sabe a escola dá um jeito nele...”.
O problema proposto e a forma com que se buscou a solução nos permitem
fazer uma indagação: a quem cabe a responsabilidade pela educação dos filhos,
aos pais ou à escola?
O Estatuto da Criança e do Adolescente, muito sabiamente, consagra em seu
artigo 19 que toda criança ou adolescente
tem direito a ser criado e educado no seio da sua família. E digo que é
sábia essa norma porque penso que os pais são os principais educadores de seus
filhos. E isso é assim porque existe uma relação natural entre paternidade e
educação. A paternidade consiste em transmitir a vida a um novo ser. A educação
é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o que implica em proporcionar-lhes
meios para adquirir e desenvolver as virtudes, tais como a sinceridade, a
generosidade, a obediência, dentre muitas outras.
Os filhos nascem e se educam em uma família concreta. A família é uma
atmosfera que a pessoa necessita para respirar. Entre seus membros costuma
haver laços de afeto incondicionais que fazem um ambiente propício para que a
educação se desenvolva. Nesse sentido, é ela essencial para a formação da
pessoa. Os valores que se cultuam no lar irão marcar de forma indelével o homem
e a mulher da amanhã.
Muito bem, mas se a função primordial na educação cabe aos pais, o que
compete à escola? Ou, mais ainda, como essa pode ajudar os pais na educação dos
filhos?
É natural que os pais deleguem algumas funções educativas à escola,
como por exemplo, o ensino das várias
disciplinas apropriadas a cada faixa etária, mas daí não se pode concluir que
possam abandonar essas funções delegadas. Aliás, somente se delega aquilo que é
próprio. E em sendo delegada tal atribuição, cabe aos pais acompanhar como está
sendo desempenhada.
Um ponto essencial nessa relação entre os pais e a escola é cuidar para
que haja coerência entre a educação que se desenvolve no colégio e o que os
pais ensinam em casa.
Essa consideração de que os pais ocupam lugar de primazia na educação dos
filhos não coloca a escola num segundo plano na função educativa. Pelo
contrário, as instituições que reconhecem o papel da família, sem o que a
formação que proporcionam não terá eficácia, cuidam de desenvolver também uma
educação voltada para os pais. As imensas dificuldades que eles enfrentam em
educar os filhos no mundo moderno devem despertar as escolas para que passem a ajudá-los,
dando-lhes conhecimentos acerca de como devem atuar na formação dos filhos.
Não há dúvida de que ser pai e mãe hoje implica em ser profissional da
educação. Isso significa que têm de se adiantarem aos problemas naturais de
cada idade dos filhos. Por exemplo, é muito comum que enfrentem dificuldades em
fazer com que as crianças durmam sozinhas nos primeiros anos de vida, assim
como são muito freqüentes as crises de rebeldia na adolescência. Diante disso, a
escola, como colaboradora da família, deve estar preparada para dar formação
aos pais, auxiliando-os com conhecimentos técnicos e com um acompanhamento
personalizado nessa difícil tarefa de educar.
Em vários países há instituições de ensino que têm adotado um programa que
consiste em manter contatos periódicos entre os pais e os professores. E isso
ocorre não apenas quando o filho quebra a vidraça do colégio, mas mesmo que não
haja nenhum problema aparente. Trata-se de reconhecer o que há de bom em cada aluno
e, a partir disso, traçar um plano pessoal de melhora, com atuações concretas a
serem implementadas em casa e na escola. Os resultados têm sido bem
interessantes. Para isso é necessário, porém, que se admita a importância dos
pais na educação, e que a escola, colaboradora desses, os ensinem a educar,
atuando ambos coerentemente em uma mesma direção.
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