Hoje, nossa
Constituição Federal completa dezessete anos. E para celebrar essa data, tal
como o poeta, eu fico com a pureza da
resposta das crianças para cantar a beleza da vida.
No dia 5 de outubro
de 1988, o Dr. Ulisses Guimarães, com a voz trêmula e emocionada, discursava ao
povo brasileiro agitando nas mãos aquele livro, até então pouco conhecido, mas
que, hoje sabemos, começa com essas fortes palavras: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte (...), promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. E essa mesma lei, que muito
fortemente influenciaria a nossa história, já no seu 5º artigo, consagra o mais
magnífico direito a que podemos aspirar, assegurando aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida.
Sim, festejar o
aniversário é celebrar a vida. E, ao fazê-lo, com a simplicidade a que nos
propusemos, lembremos de uma célebre aniversariante do dia de ontem, 4 de
outubro: a Milena. No último dia 19 de setembro, o Correio Popular nos trouxe
uma reportagem que abordava o drama de famílias que têm filhos deficientes.
Aliás, deficientes de algum atributo físico ou mental, não do amor dos seus
pais, do que são riquíssimos, como nos relata a matéria.
E guardo o jornal,
confesso que salpicado de lágrimas, onde encontramos brilhantes lições de vida:
“Quando eu estava no quinto mês de gestação” – relata a mãe, “nós recebemos a notícia de que a menina que tanto esperávamos tinha
síndrome de Down”. “O médico que
revelou o resultado do exame, um ser humano que se mostrou completamente
insensível, chegou até a insinuar a possibilidade de um aborto caso a gente
optasse por se livrar da situação”. Penso que
deve ter sido momentos muito duros para a mãe, receber uma insinuação
homicida de alguém que um dia fez um juramento a Hipócrates de lutar pela vida,
mas hipocritamente cultua a morte.
Mas falemos de vida.
Afinal, a Celiana, mãe da Milena, não sucumbiu à cultura da morte. Soube
enxergar que a filha é uma jóia preciosa que Deus a enviou. São exemplos como esse que nos fazem
acreditar que se cumpre a Constituição Federal, cujo fundamento primeiro é a
dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III). Como são sábias e simples
as mães que amam! Ensinam-nos com ternura que a verdadeira dignidade do ser
humano é ser “jóia de Deus”, mais que isso, filho e filha de Deus.
O drama vivido por essa mãe e a
valentia com que o enfrentou nos propõe a seguinte indagação: para que geramos
os nossos filhos? Com valentia, disponhamo-nos a responder sinceramente. Que
almejamos ao trazer essas criaturas ao mundo? Para que sejam adornos na festa
de Natal, que não tem graça sem crianças? Para sonhar que um dia estejam na
capa da Metrópole, lindos e penteados?
A nossa Constituição Federal,
aniversariante de hoje, fala também em paternidade responsável. Contudo, essa
expressão tem sido tratada como sinônimo de controle da natalidade. De fato, em
alguns casos, ter muitos filhos sem condições, nem disponibilidade para
educá-los é uma irresponsabilidade. Mas há também, por outro lado, muitos pais abastados
de filhos únicos que são uns tremendos irresponsáveis por não dedicarem um
tempo a estar com eles, por não estarem presentes na hora em que eles vão
dormir, por não serem uns olhos que brilham na multidão de pais nas
apresentações escolares, enfim, por trabalharem vinte e quatro horas por dia
para “darem o melhor ao filho”, esquecendo-se, contudo, que, muitas vezes, o melhor
para o filho são eles próprios, sua presença amável e serena.
Por certo que a Celiana sabe
disso: “Quando alguém tenta me colocar para baixo me dizendo ter pena dela ou
de mim, eu olho para o seu rostinho e vejo que ali só existe amor (...) Eu
estou sempre de braços abertos para receber mais pessoas que queiram lutar com
a gente. O diferente é essencial para a continuidade da vida”.
De fato, cara mãe, nenhum ser
humano é igual ao outro, mas todos, uma vez concebidos, têm direito de nascer e
viver. Afinal, a vida é sempre desejada,
por mais que seja errada. E hoje, fitando o rostinho amável da Milena,
homenageamos a nossa Constituição Federal cantando a beleza de sermos eternos
aprendizes, enquanto gritamos, ainda que desafinados:
“é bonita, é bonita e é bonita”.
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