É opinião geral que
a solução dos problemas de nossa sociedade depende de que se invista na
educação. Mas como? Ou melhor, o que na verdade esperam de nós os jovens e
crianças de nosso tempo?
Os padrões de
trabalho, vida em família e relacionamento social são hoje muito diferentes.
Durante séculos, o trabalho e a vida familiar se interpenetravam, e a formação
dos filhos se dava nesses ambientes com muita naturalidade. Numa sociedade
agrária, era comum pai, mãe e filhos saírem pela manhã para cuidar da lavoura,
e ali as crianças cresciam vendo o esforço dos pais para ganhar, com o suor do
trabalho, o sustento. Contemplavam, por vezes, os pais cuidando de sua
rudimentar contabilidade, acompanhavam-nos em raras compras na cidade (uma vez
por ano), quando se adquiria o essencial, que se pudesse pagar à vista, num
tempo em que nos dicionários sequer existia a palavra consumismo.
Por vezes, o pai era
comerciante ou artesão, mas, também nesses casos, o comum era que a casa se
situasse aos fundos ou próxima de onde se trabalhava, de modo que os filhos iam
e vinham ao local do trabalho, em suma, aprendiam muito mais com o exemplo do que
com o que se falava, com a simplicidade das coisas cotidianas.
Não pretendo
embrenhar-me num saudosismo para simplesmente dizer que aquilo era bom e o de
hoje não presta. Mas temos de admitir que hoje, com freqüência, os filhos não
sabem exatamente em que consiste a atividade profissional dos pais. Para
muitos, o trabalho do pai e da mãe é aquilo que os esgotam tanto que os deixam
estirados no sofá à noite enquanto reclamam: “estou exausto!”. Os dias dos
filhos, sem muitas variantes, oscilam entre escola, cursos e casa, e nessa é
comum permitir-lhes uma overdose de computador e televisão.
Nesse cenário
moderno, em que convivência é pequena e pobre, como se pode proporcionar uma
boa formação aos filhos?
Um grande sábio do século passado costumava
lecionar: para servir, servir. E
explicava que ninguém não dá o que não tem, ou seja, para ensinar algo, há
que aprender primeiro. Traduzindo isso
para os educadores de nosso tempo, antes de mais nada, devem esforçar-se para
que suas próprias vidas sejam uma constante luta por adquirir e crescer nas
virtudes: honestidade, generosidade, sinceridade, laboriosidade, solidariedade.
Basta um breve exame para constatarmos que muito podemos melhorar nisso tudo. Não
é necessário, porém, sermos perfeitos para educar nossos filhos, ou nossos
alunos, mas é importantíssimo que eles nos vejam lutando por sermos cada vez
melhores.
Penso que o norte a
ser dado à educação, proclamada como panacéia para nossa sociedade, é estimular
a formação dos principais educadores: pais e professores. Quanto mais virtuosos
forem, quanto mais competentes e dedicados em seus trabalhos, quanto mais
humanos se mostrarem, tanto mais estimularão e impulsionarão os seus educandos.
Filhos e alunos assimilam os ensinamentos quando enxergam de verdade em seus
educadores exemplos concretos de luta.
E depois, há que se
estimular uma sadia cumplicidade entre eles, pais e professores. Fiquei sabendo
recentemente de um casal que foi convidado a uma conversa na escola do filho. Foram
esperando encontrar o de sempre: queixas acerca do mau comportamento e nenhuma
proposta de solução. Porém, a surpresa foi que a professora iniciou por apontar
aspectos muito positivos da conduta do filho, muitos desses sequer notados
pelos pais, mas também indicou pontos em que poderia melhorar. Mais que isso,
sugeriu uma estratégia clara e concreta a ser seguida em casa e outra a ser
aplicada por ela no colégio, numa mesma direção, visando o crescimento em uma
virtude. O resultado foi excelente.
Outros pais, ao
saberem daquela iniciativa de sucesso, durante uma viagem, comentaram o caso na
presença do filho, sem perceberem que o garoto prestava atenção na conversa. Em
certo momento, ele deu sua opinião certeira: “Caramba, eles devem gostar mesmo
daquela criança! Pai, mãe e professora perdendo tempo em conversar sobre o
filho!”
O que impede que
isso seja feito na escola pública?